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Exclusiva: Thelma Assis reflete sobre protagonismo negro em reality shows

Exclusiva: Thelma Assis reflete sobre protagonismo negro em reality shows
Exclusiva: Thelma Assis reflete sobre protagonismo negro em reality shows (Reprodução/@thelminha)

No ano de 2020, em meio a protestos e discussões raciais afloradas, pudemos notar um maior protagonismo de pessoas pretas na TV brasileira. Programas famosos, como Big Brother Brasil, A Fazenda, The Voice e The Circle Brasil foram palco de vitórias significativamente representativas que deram prêmios a homens e mulheres negras.

Thelma Assis foi quem levou o prêmio do maior reality show da atualidade, o Big Brother Brasil. Jojô Todynho deu sequência à vitória feminina negra e venceu o reality “A Fazenda”. Victor Alves ainda foi o responsável por uma vitória preta dupla e sua técnica, a cantora IZA, também se consagrou vencedora. Por fim, Marina Gregory foi a grande vencedora da primeira temporada do The Circle Brasil.

Olhando todas essas vitórias parece que tivemos um grande avanço para a luta antirracista, não é? É fato que a maior representatividade preta na televisão ajuda, mas essas vitórias estão refletidas em outros espaços de poder? São eficazes quando falamos em acabar com a violência física e moral à essas pessoas?

Para entender melhor a discussão, a todateen conversou com Thelma Assis, vencedora do BBB em 2020 e Dandara Pagu, comunicadora digital que falou muito sobre o reality em suas redes sociais. Elas refletem sobre esse protagonismo na TV brasileira e o que elas acham a respeito de sua eficácia.

Confira!

representatividade

Em uma sociedade, onde a maioria das pessoas são negras, é importante ver essas pessoas ocupando todos os espaços, até mesmo em um reality show. A gente não quer ver essas pessoas sendo representadas em minoria, sendo que isso não reflete a realidade da população aqui fora“, comenta Thelminha.

No Brasil, mais de 60% da população é preta, mas esse número não é proporcional quando falamos em ver essas pessoas em todos os lugares. Dandara Pagu explica que o motivo disso ainda acontecer é devido ao racismo estrutural que se instalou no Brasil há mais de 500 anos. Ela ainda reflete sobre a representatividade nos reality shows ser importante para começarmos a perceber que nem todo mundo tem a oportunidade de conquistar esses espaços:

Acho que a gente faz questão de esconder e embranquecer o máximo que se pode as pessoas negras, que são maioria no Brasil. A falta dessa representatividade, de vermos poucas pessoas negras na TV, faz com que as pessoas comecem a achar que só existe um tipo de pessoa, ou que a maioria, ou que o padrão de beleza é o que todo mundo tá vendo, branco“, começa.

Para a comunicadora, isso é um abridor de portas para outros espaços que sofrem falta de pessoas que são a maioria no país.

“Isso é super nocivo e errôneo, então acho que ter essa representatividade, não só nos reality shows, mas apresentando programas, sendo âncora de jornal, fazendo publicidade, demonstra o que o Brasil é e que o Brasil é negro, só que as pessoas acabaram ficando dentro de toda essa violência racial que sofremos há mais de 500 anos.”

Dandara e Thelminha ainda levantam uma reflexão pertinente. Não há ídolos negros na TV brasileira, como Silvio Santos e Faustão por exemplo. Desde criança, pessoas pretas aprendem a admirar ídolos brancos, que não compartilham da mesma vivência que elas.

As nossas musas infantis, de quem é 30+, sempre foram Angélica, Eliana, Xuxa, Mara Maravilha, que tinham uma coisa ali, um padrão estético que foge totalmente de fato do padrão estético negro“, explica Pagu.

Com essa maior representatividade, acaba gerando mais identificação do público, até que um dia isso seja normalizado, que não chame tanta atenção ver tantas pessoas negras em um lugar de destaque“, conclui a vencedora do BBB20.

mulheres pretas

E se essa representatividade é de extrema importância quando falamos na população preta no geral, se torna ainda mais em se tratando de mulheres pretas, que além de carregar o racismo desde quando vêm ao mundo, também são vítimas do machismo.

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É fato que as pessoas podem ser ainda piores com mulheres pretas. Dandara cita o BBB21 como exemplo disso, no paredão em que Camilla enfrentou Arthur e quase deixou o programa: “Ela foi com o Arthur que foi um homem super desrespeitoso em vários sentidos, teve posturas machistas, mas que facilmente foram perdoados. Camilla não fez nem metade e, mesmo assim, ficou super ameaçada em sair em detrimento dele, o homem branco padrão com uma beleza europeia que a gente tende a sempre valorizar e achar que é melhor“.

As mulheres pretas têm que fazer três vezes mais para serem reconhecidas e mesmo fazendo seis, continuam sendo reconhecidas meio”, diz a comunicadora.

Com isso, presenças como as de Thelminha, Jojô Todynho, Marina Gregory e outras mulheres como protagonistas diante da TV, precisam acontecer cada vez mais.

Cada mulher negra que você assiste apresentando um telejornal, como a Maju; eu, como médica colaboradora no Bem Estar; uma atriz de novela, pode ter certeza de que ela está incentivando milhares de meninas pretas a se tornarem o que elas quiserem e a se empoderarem cada vez mais e saberem que é possível sim ocupar todos os espaços que elas quiserem, não só na TV, mas em todos os cenários e cargos que elas considerem significativos para a vida delas“, reflete Thelminha.

“uma puxa a outra”

Ela ainda refletiu sobre sua vitória em um reality que prendeu a atenção de milhões de brasileiros em 2020: “A minha vitória serviu como um incentivo para outras meninas pretas cada vez mais afirmarem que elas também podem vencer, não só em um reality show, mas na vida, em todos os projetos que elas tiverem“.

Além disso, mulheres pretas cada vez mais empoderadas, são responsáveis por espalhar esse sentimento cada vez mais, em uma lógica de “uma puxa a outra”.

“A gente tem como se fosse uma logística de que uma puxa a outra, então vamos fazendo esse movimento na internet, nas redes sociais de se apoiar, porque para nós, mulheres negras, tudo é muito mais difícil. A sociedade sempre coloca opressões muito duras na nossa trajetória. Então, a gente se apoiando, tendo essa sororidade e enaltecendo cada vez mais o nosso poder, vamos criando essa corrente de força e empoderamento de ir conquistando o que é nosso por direito.”

mais discussões raciais

Na edição de 2021 no Big Brother Brasil, pautas raciais estiveram presentes. Uma que chamou bastante a atenção e fez até o apresentador Tiago Leifert explicar o assunto em rede nacional, foi a comparação do cabelo afro de João Luiz, com o de um homem das cavernas, feita pelo participante Rodolffo.

Isso acabou gerando uma discussão sobre o tema que foi transmitido na televisão de milhares de casas brasileiras. Essas discussões precisam estar cada vez mais presentes na sociedade e ganhando destaque, como no reality show da Rede Globo:

É importante para a discussão racial, porque cada pessoa que entra em um reality carrega uma história, uma trajetória e que, provavelmente, vão sim gerar pautas, principalmente raciais, que servem como uma oportunidade de autorreflexão e de discussão para as pessoas aqui fora que estão acompanhando. Isso foi feito muito na minha edição e que continue sendo assim“, comenta Thelma.

“É importante sim que isso aconteça, mas também é importante que essas situações sejam questionadas pelas pessoas brancas e que parta delas também a discussão, a reflexão e o questionamento.”

os pretos não são iguais

Em 2021, a representatividade também teve espaço no Big Brother Brasil. Além de consagrar uma mulher preta no segundo lugar, fez história ao trazer quase metade do elenco composto de pessoas pretas. No entanto, é importante ressaltar que essa representatividade gerou outra discussão, a de que nem todo mundo carrega a mesma história e afinidade, apenas por carregar a mesma cor.

Depois que saíram do programa, a maioria das pessoas pretas enfrentaram o cancelamento. É importante separar as discussões que elas trazem das atitudes não tão boas que cometeram dentro do programa, para que essas pautas raciais não fiquem restritas apenas à elas. Más atitudes não são exclusivas de pessoas brancas ou de pessoas pretas, mas também é importante perceber que um desses “lados” ainda sofre mais do que o outro.

A gente vê quem é perdoado mais fácil, e quem vai sofrer mais com isso e normalmente são as pessoas negras. É importante lembrar que negros não são iguais, o que vai nos unir é obviamente a luta desse lugar de sermos pessoas que sofrem preconceito pela cor, mas existe negro de direita, negro de esquerda, e não tem nada a ver com o caráter“, explica Dandara e ainda provoca uma reflexão:

Todos os negros do Big Brother esse ano que saíram foram animalizados, ridicularizados e desrespeitados de alguma forma, enquanto pessoas brancas, que também fizeram coisas ruins, saíram ilesas, como se fossem anjos, não perderam seguidor e continuam tranquilas, porque a ideia branca, da beleza europeia ser a única beleza aceitável faz com que as pessoas achem que as pessoas negras devem sofrer mais“, conclui.

a atual visibilidade ainda não é suficiente

As coisas ainda não são flores para a população preta. Mesmo com um maior protagonismo, 2020 foi marcado por mortes violentas movidas pelo racismo. Segundo o Atlas da Violência de 2020, que foi divulgado em agosto em São Paulo pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) e peIo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o número de homicídios de pessoas pretas e pardas aumentou 11.5% em uma década.

Mesmo com a representatividade, o público, de uma forma geral, principalmente na mídia, ainda tem sim um preconceito com homens e mulheres negras. Isso é comprovado pelos números. Hoje em dia na Internet, com o impulsionamento que ela tem, se você analisar os influenciadores e influenciadoras negras, eles sempre vão ter menos seguidores, um engajamento menor, principalmente se a pessoa resolve falar sobre pauta racial, aí o engajamento da pessoa vai ser ainda menor. Isso mostra o desinteresse das pessoas em buscar informação sobre pautas antirracistas“, reflete Thelma.

A representatividade tem que estar na capa de revista, no comercial de TV, mas ela também tem que estar dentro das empresas, dentro das fontes de renda, das vagas para cargos de liderança, porque quando tivermos representatividade também nesses lugares, vamos conseguir aos poucos ir quebrando esse racismo estrutural para poder cada vez mais normalizar a presença de pessoas negras na mídia“, diz a vencedora do BBB20.

Dandara Pagu também ressalta a importância da discussão cada vez mais, mesmo que a luta racial não seja o seu “lugar de fala”. É importante também lembrar que esse negócio de lugar de fala ele vem dentro de você, de ouvir a dor do outro. O combater do racismo é para todo mundo, então se você é branco você pode sim falar de racismo. Porque se a pessoa for uma racista declarada, ela não vai ouvir a pessoa preta, ela vai ouvir a outra pessoa branca. A mesma coisa serve para o machismo“, finaliza Pagu.

vem aí, Boninho?

Dandara não se interessava muito por reality shows. Isso mudou em 2020, com a chegada da pandemia e a maior mobilização nas redes sociais. A comunicadora começou a acompanhar o Big Brother Brasil e agora ela conta que já está se inscrevendo para a próxima edição. Além de levar ainda mais representatividade como mulher preta, ela acredita que irá “trazer bom humor e discussões pertinentes, tudo de uma forma leve e legal”.

Por aqui, já somos #DandaraBBB22, Boninho!

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