Você já ouviu falar em fanfic? Esse é um tipo de narrativa ficcional escrita e divulgada por fãs sobre histórias e pessoas que já existem. Entre as mais conhecidas, estão as do universo de Harry Potter, One Direction e Crepúsculo.
Para se ter uma ideia, filmes como 50 Tons de Cinza e After são derivados de livros que, por sua vez, nasceram de fanfics.
Para entender melhor sobre esse assunto, a todateen conversou com três pessoas muito experientes na arte da fanfic: Babi Dewet, é a autora do famoso livro Sonata em Punk Rock; Bea Gringa, que participa do podcast Fanfiqueiras ON; e Vanderlânia Ferreira, escritora de fanfics do universo de Harry Potter.
As três começaram a ler esse tipo de conteúdo ainda bem novas. Bea, por exemplo, tinha entre 12 e 13 anos e lia as fanfics no Orkut. “Elas ainda nem carregavam esse nome, a gente chamava de Webnovelas”, conta ela, que ainda lembra que as pessoas escreviam suas histórias e iam postando em forma de comentário dentro de fórum. “Mas o grande boom foi nos meus 15 anos, quando ‘Crepúsculo’ foi lançado. Eu nunca vi tanta gente lendo e escrevendo fanfic”.
Já Babi conta que começou a ler as fanfics por volta dos 15 anos. Ela morava no interior de Goiás, em Alto Paraíso e, como a internet era escassa na época e não tinha como comprar livros na cidade, acabou buscando no mundo virtual uma comunidade para falar sobre o que lia.
E, para Vanderlânia, o início foi em 2012, quando a One Direction fazia muito sucesso. “Eu era muito fã então o meu passatempo favorito passou a ser ler sobre as garotas que iam fazer intercâmbio em Londres e esbarravam no Harry Styles”, brincou ela.
como ler fanfic impactou a vida delas?
Babi, que hoje em dia é escritora, explica que foi através das fanfics que teve contato com escritores e descobriu que gostava de escrever para outras pessoas. “Sem as fanfics eu não seria escritora”, destaca.
Para Van, que também se arriscou no mundo da escrita, esse universo ainda abriu seu leque de leitura:
“As fanfics nem sempre são consideradas relevantes quando alguém diz que está lendo algo, o que eu acho uma besteira, porque, antes delas, tudo que eu lia era Harry Potter e Percy Jackson. Não que não sejam bons, é claro que são, mas isso não é tudo que existe por aí. Quando você procura uma fanfic, você procura pelos seus personagens fictícios ou artistas favoritos e nisso, você acaba se deixando conhecer muita coisa, muitos gêneros diferentes”.
Sem contar que fanfics são de graça, todo mundo tem acesso e isso contribui para a leitura dos jovens. Você vira fã de algo ou alguém e quase automaticamente é jogado em algum site de fanfiction que vai expandir esse universo que você já gosta, mesmo que nunca tenha lido um livro antes. Eu tenho várias amigas que só passaram a comprar e ler livros depois de lerem fanfics”.
Bea concorda e destaca que é através dessas leituras que ela consegue encontrar o que falta nas livrarias, como mais histórias LGBTQIA+.
quando a fanfic se torna algo a mais
Van contou que começou a escrever suas fanfics com 13 anos, quando percebeu que alguns personagens de Harry Potter não recebiam tanta atenção na trama.
“Eu acho que é assim que metade das histórias sobre personagens fictícios começam: queremos mostrar futuros ou vidas totalmente diferentes das que eles tiveram. O que Sirius Black faria nessa situação? Não sei, mas posso escrever sobre isso”.
Ela ainda ressalta que apesar de as fanfics não terem fins lucrativos, nem sempre é algo que não dá trabalho: “Todas as autoras de fanfics que eu conheço se esforçam muito do primeiro ao último capítulo e tudo que é pedido em troca é, na maioria das vezes, um comentário da pessoa que leu e gostou”.
Babi, por sua vez, que passou das fanfics para os livros, contou que só foi fazer isso em 2019.
“Adaptei uma das minhas fanfics como livro original e, apesar de ter sido um trabalho difícil e que me exigiu muita responsabilidade, não trocaria por nada. Foi extremamente importante pra mim aprender como funcionava a produção de um livro, divulgação e tudo mais, sendo autora independente. Como não temos formação formal para escritor, foi uma forma de aprender mais sobre o mercado literário, antes de entrar definitivamente nele. As fanfics também me ajudaram a entender meu público alvo e como trabalhar com eles, por exemplo, o que é importante pra mim até hoje”.
Por fim, Bea, que já tentou fazer fanfics mas acabou desistindo, utilizou esse universo para criar seu podcast. Ela contou que a ideia surgiu através do Twitter.
“Eu tenho um grupo lá com algumas amigas, e em novembro do ano passado, no meio da pandemia, a gente estava conversando sobre o tanto que a gente se identificou nesse grupo. Porque somos garotas de várias partes do país, e até fora dele, que tem em comum as fanfics. Na nossa conversa, a gente começou a falar sobre ter um lugar pra falar disso, que seria legal ter esse tipo de representatividade”.
“Como eu sou dubladora, já estava acostumada com gravações a distância. Então a gente se conecta num servidor, cada uma em um estado do país, e batemos um papo que é gravado, sem roteiro nem nada, apenas um tema inicial. Desse papo sai um episódio e a gente joga nas plataformas. Depois de poucos meses somos 2 mil no twitter e 400 na twitch e temos 2 mil ouvintes no Spotify em média a cada episódio que lançamos”.
onde achar as fanfics?
Se você se interessou por esse universo, alguns dos sites mais famosos que hospedam fanfics são: wattpad, nyah, spirit fanfiction, ao3, fanfic obsession e fanfics brasil.
Divirta-se!