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Foxy Eyes: tendência ou preconceito? Entenda a polêmica por trás da maquiagem

Reprodução / Instagram

Foxy eyes“, ou “olhos de raposa” traduzido para o português, é uma tendência de maquiagem também incorporada em procedimentos estéticos que já eram utilizados há muito tempo para ressaltar o efeito “lifting” (em português, “elevar”).

Recentemente, as técnicas começaram a se popularizar por conta de celebridades que se tornaram adeptas. Alexa Demie, Bella Hadid e Kylie Jenner são alguns dos nomes que postaram em suas redes cliques com a make, enquanto no Brasil, a influenciadora Flávia Panavelli foi uma das famosas que procuraram pelo procedimento estético em um consultório de dermatologia.

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Apesar de ter surgido no mercado da beleza como um artifício para esconder possíveis sinais que revelam a maturidade da pele, a tendência começou a ser questionada por pessoas de raízes asiáticas. As técnicas que “repuxam” os olhos normalmente vem acompanhadas de poses que esticam esta região, bem como comentários semelhantes à “asiática por um dia”.

Segundo informações apuradas pelo site Universa, na Coreia do Sul e China intervenções estéticas com efeito contrário aos “foxy eyes” são muito procuradas. Existe um consenso popular em várias regiões do continente asiático de que ter olhos maiores e com “dobrinhas” na pálpebra seriam diferenciais estéticos capazes de favorecer em ocasiões como entrevistas de emprego. Muitas vezes essa intervenção cirúrgica é dada aos jovens como presente de formatura do ensino médio.

O site aponta para cerca de 500 clínicas de cirurgia plástica apenas no distrito de Gangnam, em Seul. A média de operações deste tipo por ano é de um milhão na Coreia do Sul, o que equivale a duas em cada cem pessoas que vivem no país.

Larissa Kim é filha de pai coreano e mãe brasileira com descendência japonesa. Aos 22 anos, a estudante de publicidade não só chama a atenção para o racismo presente na técnica, como também ironia que ela traz diante de um histórico de falta de representatividade.

“Sempre ouvi comentários de que eu tinha que abrir meus olhos ou fazer maquiagens para que meu olhar fosse maior, algo que vinha não só por conta de comentários mas também devido a tutoriais de maquiagem de revista, sites famosos. Uma asiática tinha que fazer uma maquiagem para parecer um pouco mais ocidental, como se a nossa beleza não fosse o suficiente. Acho que [os foxy eyes] é sim uma forma de racismo, principalmente porque quem tem feito essa maquiagem ou procedimento estético são mulheres brancas, e agora que esse grupo começou a enaltecer estes procedimentos que tornam o olhar parecido com o de mulheres asiáticas, então neste momento isso se tornou algo ‘legal’. Por que em uma mulher branca é bonito e em mim é motivo de piada?”.

os perigos do procedimento estético

Outro debate dentro do questionamento aos “foxy eyes” é o risco corrido pelos pacientes que optam por procedimentos rápidos em consultórios de dermatologia. De acordo com a Dra. Fernanda Nichelle, médica pós-graduada nesta especialidade, procedimentos ambulatoriais com o efeito “lifting” buscado pela tendência não são proibidos, mas possuem resultados que não se mostram efetivos a longo prazo.

A médica afirma que tem recebido casos de pacientes que lhe procuram por conta da assimetria e danos muitas vezes irreversíveis, já que os procedimentos são realizados em uma região anatômica complexa.

“O ‘foxy eyes’ é um procedimento muito antigo nas técnicas de estética médica e pode ser abordado de diversas maneiras: de forma ambulatorial, com aplicação de toxina botulínica em musculatura especifica; ultrassom microfocado; fios de sustentação e até mesmo preenchimento na região do terço superior de face. No entanto, muitos médicos alertam que os resultados são muito variáveis. A forma duradoura do resultado deste procedimento se dá de forma cirúrgica, visto que a pele desta região está fortemente aderida ao osso, através de ligamentos que devem ser soltos para um resultado a longo prazo”, pontua a Dra. Nichelle.

existe racismo contra amarelos?

Para elaborar esta matéria, a todateen escutou mulheres que residem no Brasil e possuem famílias com descendência de países do continente asiático. Todas contaram diferentes histórias que se assemelham na descrição de casos relacionados ao preconceito enraizado.

“Como uma mulher amarela, demorei muito tempo para me sentir confortável em relação a maioria dos meus traços que estão relacionados à minha etnia, especialmente os meus olhos. Já ouvi muitos comentários preconceituosas, especialmente na escola. Sempre rolou essa ‘brincadeirinha’ de puxar os olhos para trás, perguntas sobre minha visão. Eu respondia com educação, mas machucava muito. Tanto é que tem uma fase da minha vida que só tem foto arregalando o olho, foi por causa disso”, conta Miwa Kashiwagi, estudante de Relações Internacionais de 19 anos, cuja família é de descendência japonesa.

“Já ouvi comentários preconceituosos em relação aos meus olhos. É muito ruim quando as pessoas te veem como pessoa de fora. As vezes me perguntavam: ‘Você enxerga na horizontal? Você vê duas tarjas pretas como de cinema?’. Isso é muito preconceituoso”, revela Natalia Tiemi Ota, designer de 23 anos com família descendente de japoneses.

O preconceito passado pela população de raízes asiáticas não deixa de ser uma forma de racismo, mesmo que diferente da enfrentada pela população negra no Brasil.

“É muito complicado chamar de racismo o preconceito contra pessoas amarelas, porque a forma de racismo e agressão que é feita em relação às pessoas asiáticas é totalmente diferente da que é cometida contra os negros. Existem micro agressões que nós [membros da população amarela brasileira] sofremos, mas não passamos por agressões físicas, já que não existem pessoas que agridem pessoas por serem asiáticas”, frisa Natalia Ota destacando em sua fala a importância de se reconhecer que o racismo contra a população negra também conta com diversos casos de violência física motivados pela discriminação de cor de pele.

“São dois pesos distintos, o racismo contra amarelos e negros é muito diferente. Para nós ele se dá mais por meio de microagressões e comentários”, completa a designer.

foxy eyes: preconceito ou tendência?

“Acho que os ‘foxy eyes’ podem ser considerados como uma forma de racismo, mas muito mais velada, micro agressiva, e tem tudo a ver com fetichização. O K-Pop e a cultura de países majoritariamente amarelos está entrando no Brasil e fazendo sucesso. Entretanto, diante da falta de consciência racial, as pessoas acabam caindo em um estereótipo, tornando as pessoas amarelas um fetiche. O ‘foxy eyes’ é um reflexo disso. Agora é atraente fazer este tipo de procedimento ou maquiagem, mas se não for em duas semanas, as pessoas vão parar. Enquanto isso, as pessoas amarelas ficam com esses traços, porque não tem o que fazer. Acho que ninguém faz com a intenção de ser racista, mas acaba sendo”, diz Miwa Kashiwagi.

“Achei estranho quando vi essa tendência de maquiagem e o procedimento estético, principalmente por ver nas redes sociais a famosa pose do ‘foxy eyes’, que é dar a ‘puxada’ dos olhos para trás. Isso me deixou extremamente desconfortável. Nunca pensei que uma maquiagem ou pose fosse me deixar tão desconfortável. Este foi um traço que eu demorei muito tempo para aceitar e de repente se tornou ‘maneiro’ porque alguém decidiu, e esse alguém é branco. Especialmente a pose, me lembrou as ‘brincadeiras’ que faziam quando eu era pequena, as pessoas corriam atrás de mim puxando o olho trás”, pontua a estudante de Relações Internacionais.

Larissa Kim completa relembrando o significado por trás da apropriação cultural: “É possível comparar estes procedimentos estéticos e maquiagem ‘foxy eyes’ com fantasias de carnaval que se apropriam de outras culturas, porque o intuito é deixar o olho mais ‘puxado’ e para os asiáticos já é algo natural da beleza. Acho sim que é uma forma de apropriação cultural e as pessoas precisam ouvir mais pessoas que tem lugar de fala, entender porque elas se sentem incomodadas, ter mais empatia“.

yellow face

Este é o termo utilizado para definir o ato de não-amarelos se apropriarem de características relacionados às pessoas amarelas. Fantasias de carnaval que “imitam” vestes tradicionais de países do continente asiático, puxar os olhos para trás, e agora os “foxy eyes”, são exemplos desta tentativa de caracterização preconceituosa.

“No começo, fiquei relutante em considerar os ‘foxy eyes’ como uma forma de yellow face, mas depois de um tempo me deparei com uma discussão bem forte na internet sobre o assunto. Alguém postou uma foto de atores no século XX que na época foram escalados para fazer papeis de pessoas amarelas, o que era comum neste período. Estas fotos de Hollywood mostram vários artistas com essa maquiagem, e ao lado, fotos de pessoas que fizeram o procedimento e a maquiagem. Tem um ‘q’ de yellow face e pode ser comparado à apropriação cultural, já que inclusive as pessoas fazem maquiagens muito parecidas para passar o Carnaval como ‘chinesas’. Isso é horroroso”, lembra Miwa Kashiwagi.

“Mesmo que a pessoa não tenha a intenção de fazer yellow face, ela cai em algo que a gente chama de ‘racialmente ambíguo’. As pessoas na rua não sabem que você fez sem a intenção, eu costumo dizer que a intenção mesmo não importa, porque uma pessoa de fora não tem que saber o que você pensou quando decidiu fazer, o efeito social é o mesmo independente da sua intenção, finaliza a estudante.

E se você quer saber mais sobre o assunto, Miwa Kashiwagi fez um IGTV em seu Instagram para falar mais sobre sua visão como mulher amarela em relação à polêmica.

Vale a pena conferir!

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