Bruna Maia é uma jornalista de 34 anos que, durante uma crise de depressão, começou a desenhar. A ideia veio, na verdade, de um conselho da psicóloga.
“Eu tinha uma ansiedade muito forte e ficava pensando e verbalizando as coisas o tempo inteiro. Então, a minha psicóloga sugeriu que eu mexesse com tinta, justamente para fazer algo que eu tivesse que pensar um pouco menos”, relembra.
+ O que é a taxação de livros e como ela influencia na cultura brasileira?
+ Em novo livro, Thalita Rebouças conta a história de sua vida
+ Conectadas: o livro de Clara Alves que mostra as dificuldades da sexualidade
E o plano deu super certo. Além de conseguir fieis seguidores em suas redes sociais (hoje, seu Instagram conta com mais de 80 mil seguidores), seus desenhos deram tão certo que ela reuniu vários deles em um livro, intitulado “Parece que Piorou”.
O nome, aliás, veio de uma observação à sociedade atual. “Tem muito a ver com o sentimento de achar que tudo está indo bem: temos uma democracia liberal, os direitos humanos, um mundo cada vez mais igual. E ao mesmo tempo parece que muita coisa piorou. E aí acabou acontecendo a pandemia e o título ficou mais adequado ainda“.
Mas ela ressalta que nem tudo piorou. Óbvio que muita coisa evoluiu nos dias de hoje… só não tanto quanto deveria ter evoluído.
qual o objetivo do livro?
Com quadrinhos recheados de humor ácido e histórias que muita gente já viveu (ou vai viver), Bruna explica que queria mostrar em seu livro a visão do mundo na perspectiva de uma mulher. Mas ela reforça: “Eu não gosto quando dizem que meus quadrinhos são femininos ou para mulheres, porque homens fazem quadrinhos baseados na experiência deles há anos e ninguém diz que a obra deles são masculinas ou para homens, porque eles se consideram universais“.
Segundo ela, a ideia de ser uma mulher no controle da narrativa já é interessante por si só, mas o livro também mostra muitas das romantização que o leitor foi induzido a acreditar, mas que não são necessariamente boas.
“Eu mostro situações como as relações de trabalho, que todo mundo fala que você tem que fazer por amor e que o home office é ótimo, quando na verdade não é bem assim. Também cito os relacionamentos, porque venderam a ideia de amor livre e desconstrução, quando na verdade a gente se depara com uma série de cobranças e situações bem antigas que não têm nada de modernas, principalmente se você é uma mulher, porque o homem vai querer que você seja mãe deles apesar de adotarem um discurso 100% desconstruído“.
E essa força e individualidade feminina é muito demonstrada nos quadrinhos. Inclusive, a autora comenta sobre a importância de ter noção de que somos indivíduos únicos.
“É importante ter uma noção de si enquanto ser humano que existe por si só. É uma coisa que é retirada de muitas pessoas, por uma serie de motivos, seja por uma relação estranha com os pais ou uma construção social“, ela explica. “Para as mulheres é especialmente difícil se construir em sociedade porque existe uma série de cobranças em cima delas. Existe a cobrança de que elas têm que cuidar dos outros, nutri-los emocionalmente, seja os homens, os filhos ou a própria sociedade. Então acho importante se enxergar e se posicionar como um sujeito, com os próprios desejos e que age e pensa por si só“.
Todas essas críticas e mais são encontradas no livro de Bruna. Super rapidinho de ler, engraçado e com situações que todo mundo vai se identificar, “Parece que Piorou” é a pedida perfeita para a leitura durante a quarentena!