Era uma vez…
Não é novidade para ninguém que o ser humano tem uma criatividade inesgotável. O ato de contar histórias, por sua vez, existe desde os primórdios das civilizações, usadas para transmitir conhecimentos, valores, fantasias e, sobretudo, memórias.
Pelo fato das crianças serem especialmente sensíveis à magia trazida pelas histórias, principalmente pelo fato de viverem em um mundo em que os símbolos e as imagens são extremamente influentes em seu desenvolvimento, é comum que a gente associe a ideia de contos de fadas a algo infantil. Porém não só para eles que as obras fazem uma grande diferença.
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Marina Avila é produtora editorial, fundadora da Editora Wish, designer de capas de livros e apaixonada por arte desde criança. Atualmente, a Wish é um dos projetos que mais detalha e reúne aspectos relacionados à contos de fadas. “A Wish surgiu com um projeto de TCC! Foi algo bastante despretensioso.”, revelou Marina em entrevista à todateen.
“O intuito era resgatar os contos de fadas antigos, que são mais sombrios que as versões cinematográficas. Quando notamos que os colegas se interessaram, imprimimos uma pequena quantidade, que foi sendo vendida ao longo de um ano. Para o segundo volume, após esgotarmos outras possibilidades, partimos corajosamente para o financiamento coletivo.”, contou ela.
“Não tínhamos muitas esperanças, mas acreditávamos que seria a única forma. No fim, essa campanha alcançou mais que o valor necessário, o que causou melhorias nos papéis de impressão, serviços gráficos especiais e uma nova impressão do primeiro volume. Hoje temos mais de 15 títulos financiados por essa plataforma, com a ajuda de 18 mil pessoas.”, relembrou.
Marina também contou que é apaixonada pelos contos de fadas desde sua infância. ” Eu tinha uma coleção de VHS de todos os desenhos e assisti-los era meu refúgio. Não tive uma infância muito fácil, mas os contos de fadas sempre estavam lá por mim. Quando descobri que as versões originais e antigas eram totalmente diferentes, tive curiosidade, mas também uma ânsia em contar para as pessoas.”, comentou ela.
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Aos poucos, com a pesquisa e junto de sua equipe, Marina descobriu contos originais nórdicos, celtas, africanos, asiáticos e até brasileiros! “A coleção praticamente pediu para ser publicada. Eram contos lindos demais para nunca serem traduzidos para o português.”, contou.
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Para ela, a importância de facilitar o acesso desses textos para o público é entender o quanto a indústria cinematográfica pode enfeitar uma história – ainda que causem bem-estar ao assistir. “Casar-se com um príncipe que acabamos de conhecer é uma boa ideia? Para muitos contos, as histórias são mais complexas do que isso, e envolvem sacrifícios, desencantos e uma grande dose de moral.”, argumentou.
A fundadora também explicou como funciona o processo de encontrar – com responsabilidade – os contos de fadas. “Hoje temos a possibilidade de encontrar exemplares de livros antigos digitalizados, o que permitiu que explorássemos muito antes de decidir cada história.”, explicou ela.
“Após pesquisar todos os livros com uma temática, (digamos, contos nórdicos, que envolvem Dinamarca, Suécia, Noruega e outros países) repassamos a uma equipe de profissionais que fará uma avaliação completa, desde o enredo até quais criaturas originárias destes países podemos explorar em cada livro. Esses livros estão em inglês, dinamarquês, russo e diversos outros idiomas, e para isso contamos com tradutores profissionais para ajudar na leitura e avaliação. Encontrar os contos não é tão difícil, mas escolher é sempre uma grande responsabilidade!”, detalhou Marina.
Como de costume, a Literatura, dentre suas funções, sempre será importante para distrair-nos da realidade.
“Desde que os livros começaram a ser impressos em massa, em 1450, passamos por guerras, fomes, pestes e outras tragédias – mas também por tempos de paz e abundância. Os livros permaneceram mesmo após tanto tempo. Com eles, vivemos uma outra vida – nem sempre para fugir da realidade, mas às vezes para aprender a conviver com ela e com tantas outras próximas experiências que podem acontecer. Principalmente as boas! Nós, pessoalmente, adoramos finais felizes!”, Marina Avila, fundadora da Editora Wish.
Mesmo tendo passado por revoluções tecnológicas, globalização e atingido uma certa concepção de progresso, os contos de fadas ainda são essenciais no século 21.
“Acredito que eles sejam eternos, embora hoje não precisemos ter medo de lobos. Ao mesmo tempo, ainda é muito importante ensinar a uma criança que não se deve cair na lábia de estranhos. Outros contos não envelheceram tão bem quanto Chapeuzinho Vermelho e suas morais são ultrapassadas. Hoje temos a heroína Mulan, Elsa, Merida e outras mulheres fortes que ajudam a guiar – ainda mais – o caminho das meninas. Os contos fazem parte do nosso passado e são uma forma de revisitar uma época mais sombria – e em alguns casos, mais delicada que a de hoje – mas nem sempre trazem um ensinamento que deva ser seguido.”, finaliza Marina.
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