Apesar da flexibilização comercial, os gráficos que indicam o crescimento da pandemia do coronavírus em território nacional não nos deixam parar de pensar em como a COVID-19 ainda circula por aí. Apenas no Brasil já são 84.251 óbitos confirmados*.
Como não sentir medo de sair de casa?
Diante deste inimigo invisível e alto risco de contaminação, nossa casa é o lugar mais seguro no momento. Evitar sair é a decisão mais sábia, mas ao mesmo tempo traz consigo alguns sintomas que estão começando a ser diagnosticados como fobia.
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+ Como lidar com a ansiedade em tempos de pandemia?
Ou seja, os tempos de pandemia também trouxeram para a humanidade uma manifestação psicológica mental nomeada Síndrome da Cabana.
O termo já vem sendo utilizado para caracterizar a consequência de longos períodos de confinamento antes mesmo do coronavírus. A também nomeada cabin fever é o medo excessivo de sair de casa, uma sensação de angústia, apavoramento e tensão que se dá só em cogitar sair da zona de conforto.
Esta matéria não possui o objetivo de incentivar saídas durante a pandemia, mas sim compreender melhor sobre uma sensação angustiante que vem tomando conta de muita gente. Afinal, assim como a pandemia, a Síndrome da Cabana também terá fim.
O melhor tratamento não é sair de casa, mas sim informar-se sobre o tema, e é claro, viver este período de isolamento com mais esperança. Para isso, a todateen conversou com o psicólogo Alexandre Bez.
O que é a síndrome da cabana?
A síndrome da cabana é uma resposta emocional e psicológica de ordem exclusivamente neurótica. Sendo a primeira fobia específica em relação às pandemias. Simplificando, ela pode surgir como uma consequência de quando ficamos em confinamento/isolamento em um ambiente fechado por longos períodos de tempo, como agora devido ao coronavírus. Mas o termo já existe desde a década de 1990.
Quais são os sintomas mais comuns da síndrome da cabana?
Medo e/ou pânico, desespero, taquicardia, falta de ar, tonturas, vertigens, angústias, conflitos, dor de cabeça, espasmos musculares e visões turvas podem ser citados como os principais sintomas. Entretanto, vale destacar que eles podem ser mais ou menos graves. Dependendo do caso, o paciente não apresenta toda a lista, ou ainda ter sua estrutura emocional afetada, desenvolvendo traços compulsivos.
Qual a diferença entre a síndrome da cabana e a ansiedade?
A síndrome da cabana origina-se através da ansiedade, pois é uma versão do transtorno de fobia social, mas em um vertente especialmente ligada ao fato do confinamento/ isolamento por longos períodos.
As fobias sociais e/ou transtornos de pânicos com o medo de sair à rua são manifestações psicológicas clássicas de ansiedade – não dependem de situações de isolamento para aparecerem. Já a síndrome da cabana apresenta os mesmos sintomas da fobia social e da síndrome do pânico, mas, neste caso, os sintomas se dão única e exclusivamente pela sensação de ausência de segurança em espaços públicos devido ao tempo de isolamento social.
Quais são os sentimentos que você percebeu nas pessoas ao entrar em isolamento e quais estão sendo mais fortes agora?
O primeiro, eu diria ser a fobia em lidar com o desconforto de assumir uma nova realidade – mesmo que seja passageira – e um medo irracional em ter que enfrentar o desconhecido, e/ou não saber como lidar com esse enfrentamento. Hoje, com a retomada, vejo a dificuldade em encarar mais uma vez uma nova realidade, desta vez, mais delicada por se expor ao contágio. A insegurança e incerteza dos próximos meses, gera ainda mais ansiedade e medo.
Existem pessoas mais ou menos suscetíveis à síndrome?
Dr. A. B.: Do ponto de vista da saúde psicológica, há pessoas mais cautelosas, como também outros que não ligam para o momento ou lidam de maneiras distintas. Essa conexão/desconexão está associada ao pânico em pegar a doença ou a uma simbiose paranoica, revelada através desta, pelos sintomas.
A síndrome da cabana pode estar relacionada ao surgimento de outros quadros como depressão ou compulsão alimentar?
Não. A síndrome é um quadro específico psicológico e mental e pertencente ao fato de não sair de casa, no momento, para não ser exposto e pegar o vírus que circula no ar.
Por que a flexibilização da quarentena antes da vacina traz para as pessoas a intensificação da síndrome da cabana?
Justamente por não haver uma cura. Assim, como ficar em casa também não garante a imunidade total, mas cria uma situação de confiança e conforto. Por isso, é uma ideia delirante de suposta proteção em relação ao meio externo.
O que fazer antes da chegada da vacina para tratar ou pelo menos amenizar a síndrome da cabana?
Cautela e responsabilidade definiriam as melhores maneiras, ou seja, o uso de máscaras associado a um entendimento racional-científico, de que, não há cura e/ou remédio eficaz para a prevenção. A máscara e álcool gel são os únicos meios de proteções. Algumas pessoas, entretanto não tem essa noção, pecando pela irresponsabilidade. Observando do aspecto psicológico, seguir os meios de proteção auxiliam também em uma sensação de maior proteção nas ruas.
Como será lidar com a síndrome da cabana após a vacina?
Como ela é uma manifestação psicológica neurótica-delirante, a partir do momento em q a pandemia se acaba, ela provavelmente diminuirá. Em alguns casos isso pode persistir, a pessoa pode considerar que mesmo em cenário seguro (com vacina), a rua não é um lugar confiável para ela sair de casa. Por isso, a importância de acompanhamentos.
Depois da vacina, quando o mundo retornar ao que era antes, o que fazer no dia a dia para reduzir esse medo do novo e de sair de casa?
Planejamento psicológico, ir conversando com você mesmo e não alimentar os medos. Como ter consciência e compreensão do momento em panorama geral. E não deixar, de forma alguma, de manter relações sociais.
O que a síndrome da cabana no mundo pós pandemia pode mudar na sociedade? Acredita que mais pessoas vão optar por ficar em casa ou fazer home office, por exemplo?
Algumas acredito que sim e também acho que será uma mudança em algumas das empresas. Mas pela comodidade, desconfio que a maior parte não. No entanto, vale ressaltar que os sintomas da síndrome da cabana estão associados a pandemia e ao ar externo, não tendo mais a síndrome da cabana, perde a sua vitalidade.
*Os dados presentes nesta matéria são correspondentes à data de fechamento da publicação, no dia 24 de julho de 2020.