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Suicídio na adolescência: precisamos falar sério

Uma questão que precisa de muita conversa e ajuda médica. Vamos esclarecer juntos?

Suicídio na adolescência - Menina sentada segurando a perna com cara de sofrimento
Foto: Radu Bighian EyeEm/GettyImages

Não é de agora que as notícias de suicídio na adolescência têm aparecido com mais frequência, como aconteceu com dois jovens do colégio Bandeirantes, de São Paulo, ou a que envolveu o integrante Kim Jong-hyun do grupo de K-pop SHINee. E uma coisa é certa: a questão do suicídio é um problema de saúde pública real. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), uma morte por suicídio acontece a cada 40 segundos no mundo. Aqui no Brasil, esse número assusta muito também: o suicídio é a quarta maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos. Segundo dados do Mapa da Violência, entre 2002 e 2012, a taxa de suicídio de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos aumentou 40%, enquanto entre jovens entre 15 a 19 anos o índice cresceu 33%.

É por isso que precisamos ter uma conversa séria sobre o tema. Com a ajuda do psiquiatra Celso Lopes de Souza e do psicólogo clínico Bayard Galvão, vamos falar sobre prevenção, como ajudar alguém em dificuldade e esclarecer outras dúvidas. Bora lá?

Por que tanta notícia sobre suicídio na adolescência?

Uma coisa é certa: não podemos procurar um único motivo pra esse aumento de casos divulgados. Quando se fala de suicídio, muita coisa é levada em conta, não só um ou outro fator, como o jogo da Baleia Azul ou bullying. “Suicídio tem a ver com um somatório de coisas. 90% dos casos de suicídio tinham alguma doença psiquiátrica associada. Outro fator que aumenta muito os casos é o uso de substâncias psicoativas (que alteram a função do cérebro), incluindo o álcool, que aumenta demais a impulsividade”, explica Celso de Souza.

Depressão pode influenciar?

Ter depressão não quer dizer que alguém vá cometer suicídio. Como outras doenças mentais, tais como transtorno de ansiedade e bipolaridade, a depressão é tratável e o psiquiatra informa a seguir: “Quando falamos em doenças mentais, a gente precisa ter em mente que elas são como uma asma, por exemplo. Você tem asma num período, trata e pode nunca mais ter na vida. Depressão é tratável”.

Conheça o movimento Conte Comigo: 

 

13 Reasons Why

Com certeza, você viu a série ou conversou com alguém que viu. Após 13RW, muitas conversas sobre bullying, sofrimento e suicídio aconteceram. Para o psiquiatra Celso de Souza, essas discussões são importantes para esclarecer o assunto. “Discutir o suicídio de modo apropriado, previne. Quando tratado de forma correta, isso só tem a ajudar”. Mas o psiquiatra também faz uma observação importante: “O que precisa ficar claro é que a sensação da existência pós-suicídio não é real (como acontece na série), porque dá a sensação de que o suicídio é reversível. Cometer suicídio não fará alguém levar você mais a sério, porque não tem mais esse alguém”.

E o bullying, como fica?

Sofrer bullying, esse fato isolado, não chega a ser uma das causas do suicício. “É raso dizer que bullying causa suicídio. É importante que a pessoa que sofre bullying entenda que a paz é interna”, conta o psiquiatra Celso. E o psicólogo Bayard Galvão acrescenta: “É necessário conversar com professores ou outros profissionais da escola, ensinar o adolescente a se defender fisicamente e/ou emocionalmente; retirá-lo da escola, se necessário e sempre procurar profissionais da psicologia e psiquiatria para orientá-lo neste momento”. Escola, pais e amigos também devem conversar com a pessoa que pratica o bullying e ajudar nesse sentido. Muitas vezes, quem faz bullying também precisa de ajuda emocional.

Já ouviu falar dos três Is?

Além dos fatores já citados, há a questão da dor e do sofrimento, pela qual todo mundo passa em algum momento. O problema é que a pessoa que cogita o suicídio sente o sofrimento de uma forma bem mais intensa. “É comum a gente encontrar o que chamamos de crise dos três Is, que são sensação de insuportável, impossível e interminável”, explica Celso. Quando há a sensação de impossível, você está subestimando sua capacidade de enfrentar os eventos negativos. O insuportável é quando amplificamos o que sentimos. O interminável tem a ver com o fato de acharmos que algo nunca vai passar. Mas não é por aí…

Sempre tem saída. Sempre mesmo!

“As emoções são aflitivas em um momento, mas passam”, diz o psiquiatra Celso. É essa a certeza que faltam às pessoas que pensam em suicídio. Se você já pensou nisso ou conhece alguém que cogitou essa hipótese, saiba que o sofrimento nunca é eterno e sempre há uma saída. SEMPRE. “Vamos sentir dores ao longo da vida toda. Por isso, é preciso aprender a lidar com elas”, comenta o psicólogo Bayard Galvão.
Questionar seus pensamentos é um primeiro passo. “É aquilo que pensamos dos fatos que nos atormentam. Por exemplo, você escorregou e caiu no chão. Você pode pensar: ‘estão me olhando’, em um misto de vergonha e ansiedade. Ou você pode pensar: ‘ainda bem que não me machuquei’”, explica Celso.
Além disso, psicólogos e psiquiatras devem ser procurados sempre, caso você não consiga lidar com as emoções sozinhas. E não há problema nenhum nisso, viu? Pelo contrário, é saudável pedir ajuda médica.

Amizades contam muito

Você tem algum amigo sofrendo? Fique ao lado dele e escute o que ele tem pra falar. Uma ajuda em um momento difícil é mais do que fundamental. “O ideal nessa situação é se aproximar, mostrar que está junto. Se sentir acolhido é um dos fatores de proteção ao suicídio. Acolher é estar ao lado, não significa concordar com tudo”, fala o psiquiatra Celso.
E não para por aí: “Se um amigo seu tem pensamentos persistentes sobre suicídio, tem que avisar os pais, orientar pra que ele busque ajuda profissional. Isso é muito importante. É a mesma coisa que descobrir que alguém tem uma doença no coração e não dizer nada”, conta o psiquiatra.

Alguns sintomas observados com frequência podem indicar que uma pessoa necessita de cuidados, como:

ATENÇÃO AÍ: “Mas não um dia apenas. Um dia é normal. Agora, se isso acontece em dias seguidos, é um alerta pra procurar ajudam”, diz Celso.

Suicídio na adolescência é uma realidade triste, mas que pode ser prevenido com ajuda médica, da família e amigos, como você viu, ok?

O CVV (Centro de Valorização da Vida) é uma associação sem fins lucrativos e serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. Você pode ligar (188 é o número) ou entrar no chat do site.
Você também sempre pode recorrer a um psicólogo ou psiquiatra para pedir ajuda. Em algumas cidades, as faculdades disponibilizam serviços de terapia e ajuda. Procure se informar na sua cidade e/ou região. O Sistema Único de Saúde (SUS) também pode ser um começo, informe-se na sua cidade. Uma coisa é certa: sofrer sozinho nunca é a solução, a gente sempre pode e deve pedir ajuda.

 

Consultoria:
Celso Lopes de Souza, médico psiquiatra. Desenvolveu o programa Semente, que contribui para o desenvolvimento socioemocional de alunos e professores.
Bayard Galvão, psicólogo clínico, hipnoterapeuta e palestrante

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