texto por Isabelle Costa (@avalancheliteraria)
ilustrações por Thais Menezes (@thamenezes.s)
Ouvir ao som de “Mariposa” Acoustic — Peach Tree Rascals.
Queria ter dito que foi muito bom te ver depois de tanto tempo e descobrir que seu
cabelo cresceu; que agora você gosta dele assim, solto.
Falado que algo iluminou dentro de mim quando me contou que aquela ali era a primeira vez que pisava na cidade desde o seu aniversário, e que o tempo — aquele que eu precisava e você não entendia — deu razão pros meus discursos. Cê viu com os próprios olhos que não era coisa minha: que o mundo é mesmo mais bonito fora daqui.
Você tava diferente, Dom. E não era só o cabelo, a roupa — uma combinação que ficaria ridícula em qualquer um, mas que caiu muito bem em você. Não era nem seu s, sempre tão sibilado, tão do interior, tão parecido com o do seu pai, agora se perdendo num chiado novo, igualzinho aconteceu comigo. Era calma.
Uma calma que tu não tinha nem quando era sexta-feira, sua família tava na igreja, e a gente bagunçava a sala da sua casa dançando a rádio de Sunday Best do Spotify. Ou quando, depois que eu cansava e pedia trégua, me olhava e dizia — sempre assim, sempre do mesmo jeito — “Eu gosto de você, Mariposa”.
Quando eu te vi senti saudade, e logo depois deixei de sentir, porque sei que a saudade sabe bem como apagar de mim a parte que machuca. Ser parecido não é o suficiente. Ter eletricidade não é o suficiente.
E, Dom, eu sei que agora você vê isso. E que sabe que eu não vou voltar a voar pelo
seu jardim.
Agora você vê a vida e gosta. E enquanto te via entrar no táxi e ir embora da rodoviária, depois do nosso papo de três minutos — rápido assim porque te esperavam em casa e porque meu ônibus ia sair — eu sabia que tinha ficado tudo bem. E que gosto dessa versão de você.
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Nota da autora: esse texto-carta foi escrito como uma resposta à uma de minhas músicas favoritas, “Mariposa”, da banda Peach Tree Rascals. Ficcionalizei, trouxe a canção pra perto de sentimentos que já senti, e me imaginei como a Mari, Mariposa, alguém pra quem possivelmente essa música foi escrita.
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