Urias é uma artista multifacetada. Após ter lançado seu primeiro EP, “Urias”, em 2019, a cantora seguiu na preparação do seu primeiro álbum com o lançamento de “Racha” e recentemente, na última segunda-feira (22), “Foi Mal”.
“Desculpa esse ter que ser o nosso fim, só cuidei de mim”: com letras mais reflexivas, é assim que Urias define o novo single. A faixa, que flerta com o gênero R&B, foi produzida pela Brabo Music, conhecida por trabalhos com Pabllo Vittar, da qual é bem amiga.
Em entrevista exclusiva à todateen, a artista falou mais sobre o processo criativo da música, como tem sido produzir em meio ao isolamento social e realizar a direção de arte do seu último clipe!
Confira!
todateen: “Foi Mal” traz uma vibe R&B, que é uma sonoridade diferente da que você explorava em outros trabalhos, como em “Racha”, por exemplo. Tentar algo novo foi difícil para você?
Urias: Sendo sincera, eu fiquei bem nervosa! Sempre quis trazer coisas novas, sabe? Mas não tinha ideia de como o público receberia a música. Inclusive, quem me encorajou bastante, foi o DJ Gorky, um dos produtores da faixa. Ele sempre dizia: “Nossa, isso tá muito bom! Tem que ser seu próximo single!”, então eu só fui, essa era a única forma de saber! Fiquei muito feliz quando vi o pessoal gostando, no dia do lançamento!
tt: Quais foram as suas referências para a música?
U: Eu cheguei para os meus produtores com um pouco da letra, que contava sobre uma experiência que tinha acontecido comigo, e eles trouxeram as suas próprias referências a partir disso. Eu queria que fosse um R&B, mas ao mesmo tempo, que não soasse como os do início dos anos 2000. A gente buscou um ar atual, mais tecnológico e que ao mesmo tempo não interferisse na sonoridade original.
tt: Você assinou a Direção de Arte do clipe! Foi um processo difícil, ainda mais com as restrições impostas pelo COVID-19?
U: Eu sou uma pessoa que pensa alto, mesmo sabendo que tudo vai precisar ser ajustado depois [risos]. Neste clipe eu já sabia que menos era mais, que precisávamos envolver menos pessoas. É tudo meio doido, porque é como se estivéssemos pisando em um chão que não está tão sólido. Você não sabe como as coisas vão funcionar, como o single vai ser distribuído, não dá para fazer show… é tudo muito incerto.
tt: Como têm sido criar músicas durante o isolamento? Você se sente inspirada? Se cobra demais?
U: Na verdade, para fazer as músicas, eu sempre ia para o estúdio. Então, eu já colocava na cabeça que estava indo para lá e que algo precisava sair disso; alguma melodia, algo novo pronto. Em casa é bem mais complicado porque tenho que me fechar no quarto e criar uma vibe legal para ficar inspirada. Mas no geral, o processo criativo de “Foi Mal” foi bem colaborativo, fizemos quase tudo por chamadas de vídeo e só fui para o estúdio na parte final, para gravar mesmo.
tt: Você irá lançar seu primeiro álbum ainda neste ano. O que a gente pode esperar dele? Será parecido com o seu EP, “Urias” (2019), ou você quer experimentar outras coisas?
U: Quando decidi fazer um álbum, eu tinha tudo muito definido na cabeça. Mas com o tempo, as coisas foram acontecendo, os caminhos mudando e a gente foi adaptando tudo. Sinto que é um álbum sobre descobrir o que sou capaz de fazer, já que tenho feito várias coisas que não sabia que conseguiria, tanto nas composições, quanto nos vocais. O álbum terá ritmos diferentes justamente por isso, mas não será um conjunto de singles; será um álbum, com conceito, conexões e uma história central.
tt: Terão mais músicas até o lançamento?
U: Sim! Estamos planejando lançar mais uma, também diferente do que fizemos em “Racha” e “Foi Mal”. Quero me jogar!
tt: Há alguma data em mente para o álbum?
U: Ainda iremos soltar mais essa música, agora pelo primeiro semestre, para só então virmos com o álbum. Irei lançá-lo em duas partes, uma junto desse single e a outra, final, no segundo semestre.
tt: Que mensagem você está buscando passar com esse novo trabalho?
U: Eu sempre penso muito nisso, mas acho que só de eu estar fazendo um álbum, já é uma grande mensagem. Quis falar de coisas que eu sinto, brincar com a falta de naturalização do meu corpo e tudo que isso gera.
tt: Você também se dá muito bem com moda. Já pensou em conciliar isso com a carreira musical?
U: Muito, com certeza! A moda sempre me acompanhou, sempre esteve aí. Eu nunca penso em sair desse meio, faz parte de mim.
tt: Estamos passando por uma época, onde, mais do que nunca, a arte é extremamente necessária. Como é representar a comunidade LGBTQIA+, durante esse período?
U: Eu quero normalizar a gente, sabe? Não é por ser uma pessoa trans, que eu tenho que ser o ícone das pessoas trans, e só. Temos muitas, várias de nós; Jup do Bairro, Ventura Profana, Liniker, Linn da Quebrada, As Bahias, cada uma fazendo a sua arte! Quanto mais gente nos ver ocupando e passando por vários lugares, questionando e fazendo diversas coisas, mais seremos normalizadas, ainda mais agora que as pessoas só podem se ver por meio da tela de aparelhos eletrônicos.
por Brian Camargo