Babu Carreira, 31 anos, arranca facilmente risos de seu público. Com piadas sobre relacionamentos, signos e militância, a humorista é assumidamente bissexual e não tem medo de expor suas opiniões na internet.
No mês da visibilidade bissexual, a todateen bateu um papo com ela sobre sexualidade e preconceito. E, em uma conversa agradável, Babu já chegou contando que a primeira vez que revelou para sua mãe que era bi, foi por conta de um programa na TV.
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“Eu tive que contar pra minha mãe sobre minhas experiências com mulheres porque eu tinha aparecido num programa de TV falando sobre isso. E quando eu vi que ia falar sobre esse assunto, fui conversar com minha ela“, relembrou. “A reação dela foi mais de ‘nossa você é doida, pra que falar isso na tv?’ do que reclamar da sexualidade”, brinca a humorista.
E com o pai não foi muito diferente. Um tempo depois, já em outro programa, o pai a ouviu falar sobre o assunto e a questionou. “Eu pensei que ele já soubesse. Aí um dia ele perguntou: ‘Como você me fala que é bi?’ e eu falei: ‘Ué, você não sabia?’ e ficou por isso mesmo“, ela diz, dando risada.
mas afinal, o que é ser bissexual?
A sociedade adora impor rótulos e o conceito de gostar de mais de uma coisa não é aprovado – ou entendido – por muitos. Por isso, a própria Babu conta que durante uma época, ela mesma não se considerava bissexual. “Eu achava que era uma pessoa que tinha tido relações com mulheres. Só isso“.
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Foi só depois de um tempo que ela foi entender o que era a biafetividade e passou a se compreender melhor: “Quando eu comecei a me envolver mais com mulheres, entendi que existiam múltiplas variações, e talvez eu fosse bissexual e heteroafetiva“, ela conta.
Atualmente, Babu se considera bissexual e biafetiva, e explica que isso significa que há a possibilidade de sentir atração sexual e se envolver romanticamente com os dois gêneros.
e existe preconceito contra bissexuais?
Sim, e inclusive tem um nome: bifobia. Babu traz um exemplo da própria comunidade LGBTQA+, que muitas vezes ignora o bissexual por achar que “é apenas uma fase” ou “uma confusão”.
“Muitas gente dentro da comunidade teve uma vivência bissexual por muito tempo para se entender como gay ou como lésbica, então eles acham que isso [a sexualidade] não existe. Muitos acreditam que é só uma fase, que vai passar, porque com eles foi assim. Elas não conseguem perceber que é uma coisa eterna, é uma designação sexual e afetiva também“, explica.
Além disso, o estereótipo de pessoas bissexuais são promíscuas ou adeptas ao poliamor também é bem forte, e sobre isso, Babu brinca: “No caso, eu sou safada, mas nem todo bissexual é“, ela diz, rindo. E garante que em um relacionamento ela é monogâmica.
Outra questão importante a se destacar é em relação às amizades, principalmente com mulheres. Embora a bissexualidade feminina seja mais aceita pela sociedade (muito por conta de um fetiche criado em cima disso), ela também não é levada a sério.
“Em geral, na mídia, a mulher bissexual é vista como a amiga que está experimentando, a moderninha, mas no final das contas ela sempre acaba casando com um homem. Raramente ela é retratada como uma mulher que gosta dos dois gêneros“.
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E na vida pessoal, a própria Babu repara que isso acontece. “Algumas amigas veem que você é bi e começam a pedir pra beijar na boca, mas não é assim. Eu falo: ‘Você vai me levar a sério ou vai só fazer isso para chamar a atenção de outras pessoas?’“.
uma dica para quem quer se entender
Babu contou que ela recebe com frequência mensagens de meninas mais novas que pedem conselhos sobre como entender a própria sexualidade e se assumir. Sobre isso, a humorista tem uma dica bem simples: dar tempo ao tempo.
“Sei que na sociedade que a gente está, parece que é sempre importante se posicionar a respeito de alguma coisa, mas isso só é legal quando a gente tem certeza sobre essa coisa, porque tudo gera impacto“, diz ela. “Se ajude primeiro, se entenda, não deixe ninguém te falar ou te explicar quem é você antes de você mesma entender. Só viva a sua verdade. Explore. Faça o que der vontade, com carinho, com segurança. Vai na tua que vai dar certo“.