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“Buscamos uma vida digna, enquanto nossa comunidade é assassinada”, desabafa Nick Cruz no Dia da Visibilidade Trans

Crédito: Divulgação

Nascido e criado em Serra, município do Espírito Santo, aos 22 anos, Nick Cruz é uma das principais apostas do pop brasileiro. Sua ligação com a música começou ainda na infância, já que seu passatempo favorito era cantar em karaokês. Em casa, ouvia o irmão mais velho, Jeorge, tocando violão. E, quando ele não estava por lá, era Nick que corria para dedilhar o instrumento sozinho.

Em 2018, escreveu sua primeira música autoral, “Me Sinto Bem”, lançada em maio do ano seguinte, após um período de muita turbulência pessoal. Do primeiro lançamento até a sua contratação, passaram-se sete meses. Nick chegou a se apresentar em um stand da Warner Music Brasil e então assinou o primeiro contrato artístico em pleno Rock in Rio de 2019. Tudo né?

De lá para cá, foram diversos singles com altos números alcançados nas plataformas digitais. Em maio do ano passado, para celebrar o mês do Orgulho LGBTQIAP+ com chave de ouro, pela primeira vez, ele lançou um trabalho abordando questões biográficas e relacionadas à transfobia. Em “Sol no Peito”, ele canta sua vivência como homem trans e faz um apelo por mais respeito.

Nick Cruz - Sol No Peito (Clipe Oficial)

E agora, para pontuar o Dia da Visibilidade Trans, a ser lembrada neste sábado, dia 29 de janeiro, a todateen bateu um papo super maravilhoso com o cantor sobre a importância da data e o quão se faz necessário um diálogo acessível e honesto quanto às pautas que cercam o movimento. Vem ver!

Nick, antes de mais nada, qual a importância desse Dia da Visibilidade Trans, especialmente na luta pelos direitos humanos no país?

Esta data é importante porque a letra T, da sigla LGBT+, costuma, em números, ser a mais marginalizada. No Brasil, 90% das mulheres trans e travestis estão em situação de prostituição e apenas 4% das pessoas trans possuem um emprego formal. Além disso, estamos no país que lidera os recordes de mortes, ao mesmo tempo em que lidera de o consumo de pornografia de pessoas trans. Buscamos uma vida digna e sempre estamos aqui lutando – não só no dia visibilidade, mas em todos os dias – por direitos iguais para todes, enquanto nossa comunidade é brutalmente assassinada e excluída da sociedade.

Você acredita que ainda hoje há um tabu muito grande em discutir a sexualidade de pessoas trans?

Sim! Não é à toa que somos marginalizades, assassinades e violentades o tempo inteiro. A estimativa de vida de uma pessoa trans no Brasil hoje é de 35 anos! Isso vai além de ser apenas um tabu.

Para você, como as redes sociais podem colaborar de forma positiva nesse processo de desconstrução?

Vejo a rede social como um veículo que transporta informação e que pode derrubar essa barreira de desinformação que nos invisibiliza. As redes sociais e todo o conteúdo informativo que é produzido e reproduzido através delas podem contribuir muito para a conscientização da sociedade sobre essas questões, o que pode fazer com que as pessoas fora da bolha tenham mais acesso à informação e aprendam sobre isso. Assim, elas podem entender melhor sobre as nossas temáticas e podem respeitar mais a nossa vivência. E elas servem, também, como um veículo muito útil para as denúncias diárias de episódios de transfobia que vivemos na pele, e isso mostra para a sociedade o caos da nossa realidade.

Especialmente quando a transição acontece na fase adulta, familiares e amigos tendem a levar um tempo para se referir com os pronomes corretos. Até que ponto você acha que isso é uma adaptação e um desrespeito?

O ponto principal é a falta de representatividade por parte do Estado, que veta a relação da pessoa trans com o resto da sociedade. Dessa forma, na minha opinião, isso é uma parte da raiz do problema. Nossos familiares não assistem novelas, filmes, séries ou propagandas com protagonistas trans. Com certeza, seria muito mais fácil lidar se estivéssemos ocupando esses espaços e se tivéssemos voz! Então, nesse caso, a adaptação é uma questão de afinidade com a família. O desrespeito vem a partir do momento que o familiar não aceita e não se esforça para se adaptar. Mas eu acredito que temos que pensar de forma mais ampla, porque isso é um problema estrutural da sociedade.

Conforme o estigma em torno do assunto enfraquece, fica cada vez mais fácil de pessoas trans mais novas se assumirem para os pais. Qual conselho você daria para esses jovens?

Sempre recebo mensagens de pessoas trans me perguntando a mesma coisa e a minha resposta é: “eu não sei!”. Eu acho um pouco romantizada essa ideia de que as pessoas estão aceitando melhor. Infelizmente, esse conto de fadas ainda não é real! Somos brutalmente assassinadas todos os dias: essa é a nossa verdadeira realidade. Eu não posso aconselhar o que fazer quando eu não sei se sua família iria chorar de emoção e entrar num processo de desconstrução, ou se não iriam aceitar e iriam te bater até a morte. Então, o meu conselho é sentir a atmosfera em que você vive. Se isso for te trazer um mega problema, infelizmente, temos que nos esconder até termos condições de ter uma vida independente. Essa é a verdade. Temos que fazer o máximo para ficar em segurança.

Em suas músicas, composições, há a busca de uma conversa direta e leve com o público trans de forma bem específica?

Tento sempre trazer todos os campos da minha vida nas músicas, não só a minha vivência como homem trans. De fato, meu objetivo é, para além de levar representatividade, fazer com que as pessoas que estão fora da minha “bolha” também tenham um entendimento.

Para gente encerrar, mais do que ser uma figura superpotente no BBB22, pra você qual a importância de termos Linn da Quebrada como uma das participantes do reality?

Como ela mesma disse: “Eu quero o Brasil torcendo pra uma pessoa como eu, que tem um corpo como o meu.” Ver o país que mais mata pessoas trans no mundo torcendo para uma travesti seria um marco enorme em nossas vidas! Existe muito sangue derramado por trás daquela mulher que vemos ali no programa. Com ela lá, expondo nossa realidade para milhões de pessoas, conseguimos um pouco da visibilidade e da voz que precisamos para sair desse lugar invisível em que estamos. Inclusive, minha torcida com certeza vai pra ela.

Sucesso, Nick! <3

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