O dia 25 de outubro é dedicado para o combate ao preconceito contra às pessoas com nanismo. Também celebrada em outros países, a data busca trazer debates e informações, sempre salientando as conversas sobre inclusão e desconstruindo conceitos capacitistas, isto é a discriminação e o preconceito social contra pessoas com alguma deficiência.
O nanismo é uma condição causada pela falta de crescimento, que resulta em uma pessoa de baixa estatura se comparada a outras pessoas da mesma idade e sexo. No Brasil, o nanismo foi reconhecido como deficiência física em 2004.
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Na tentativa de desmistificar cada vez mais o nanismo, a todateen conversou com Rebeca Costa, modelo, influenciadora digital e diretora de projetos da Annabra (Associação Nanismo Brasil), uma associação composta por pessoas com nanismo e pais de pessoas com nanismo, que visa atuar na promoção de políticas públicas de inclusão e acessibilidade, além de adquirir conhecimento para atender às demandas das pessoas com nanismo e suas famílias, contribuindo para o desenvolvimento pessoal e social.
“Eu sempre tive uma relação boa com meu corpo”, afirmou Rebeca, que sempre teve uma base familiar estruturada. “Sempre digo que o nanismo não foi apresentado pra mim, então eu não passei por um processo de aceitação, mas sim um processo de reconhecimento de quem eu sou. Então meus pais não pularam nenhuma etapa. Conforme o tempo passou eu fui vendo o que eu tinha naturalmente.”, explicou ela.
No entanto, embora a modelo não tenha experimentado um processo de aceitação corporal, Rebeca conta que isso não significa que sua autoestima sempre tenha sido alta. “Eu nunca, em nenhum momento, tive um processo que foi preciso sentar para me falar sobre as dificuldades, meus pais sempre foram muito diretos. Então em qualquer situação que acontecia, algum tipo de preconceito, eles me explicavam da maneira mais direta e mais sensata possível.”, contou.
Rebeca, também é criadora do perfil no Instagram, “looklittle“, que tem como principal objetivo ajudar outras mulheres e seres humanos a entenderem como é, de fato, ser diferente. “Mostra uma vertente diferente do que a mídia carrega, do que a sociedade entende como nanismo.”, disse.
“O propósito é esse mesmo, desmistificar tudo que as pessoas maquiam e por acaso saiba sobre o mesmo. Então eu tento trazer conteúdos meus e de outras pessoas com deficiência para elas mostrarem que isso é um detalhe. Eu ajudo as pessoas a reconhecerem o intuito de ajudar a pessoa entender que ela é linda e bonita por ser quem realmente é.“
Na conversa, a modelo ainda destacou a acessibilidade como um dos maiores desafios das pessoas com nanismo. “Herdamos todos os tipos de acessibilidade que é feito para outro tipo de deficiência, então não temos lugares feitos com a nossa estatura.”, explicou ela, enfatizando que eles recebem adaptações pensadas para outros tipos de deficiência. “As pessoas tem que entender que toda arquitetura feita para uma pessoa com deficiência requer individualidade, cada um tem sua forma individual de ser.”, falou ela.
Além disso, Rebeca também abriu o coração e reforçou a necessidade de empatia. “As pessoas nos julgam muito como seres inferiores, não conseguem entender que nós somos singulares.”, disse. “A aceitação não é obrigatória, mas o respeito é. Então a sociedade tem que ser empática e tem que respeitar. Dia 25 de outubro é um dia incrível, é um dia que eu agradeço muito porque nos dá a chance de fazer o nanismo ser reconhecido por novas vertentes e de novas conquistas ao combate ao preconceito, isso é necessário para que as pessoas tenham a capacidade de enxergar que nós existimos.”.
“Olhar diferente que não é exposto na mídia na verdade, ela não é nada daquilo que é exposto na mídia, então o dia do combate veio para reconhecer que a gente luta, que nós temos direitos iguais. Como qualquer outra pessoa.”
“Eu já passei por várias situações em que as pessoas me trataram de forma diferente em relacionamentos, amizades, trabalho dentre outras coisas.”, contou ela. “O problema de não me respeitar é da pessoa e não meu. Quando a pessoa me trata diferente, eu revido com que eu tenho de melhor, o meu conteúdo. Eu demonstro com a minha capacitação, com o meu caráter e princípios.”, explicou ela, dizendo que não pretende se deixar abalar com os preconceitos externos.
Para tornar a sociedade um ambiente mais igualitário e saudável, Rebeca indica a busca de informações para entender as pessoas com nanismo. “É você entender que os estudantes tem que sair um pouco da teoria e aprofundar na prática.”, disse. “Eu faço diversos atendimentos para faculdades, recebo muitos e-mails por dia de alunos de arquitetura, moda e medicina querendo consultoria. Só que muitas vezes desanimo porque não sai muito da da teoria. E o assunto fica na na na gaveta e eu acabo sendo objeto de notas.”, desabafou ela, que destacou a necessidade de trazer os assuntos cada vez mais para a prática.
Com relação aos estereótipos capacitistas acentuados pela mídia, a influenciadora comentou que é preciso ressignificarmos nossos pensamentos. “Acontece que nós temos direito de ser quem quisermos. Acontece que nós somos totalmente diferentes um do outro, apesar de ter a mesma deficiência, não somos iguais a todos. Então a ressignificação acontece quando você começa a conhecer e estudar o que que a pessoa é de forma unitária, de forma singular.”, ressaltou ela.
Para todas as mulheres em busca de aceitação, Rebeca também deu alguns conselhos. “Aceitar é apresentar um objeto a uma pessoa e dizer que aquilo é algo e você simplesmente aceita. Reconhecer é entender o conceito é saber os materiais, as substâncias, os princípios do que você é feita. Como você se enxergava antes de alguém te dizer que você deve somente se aceitar?”, questionou ela.
“O maior conselho é que você descarte qualquer tipo de manipulação ou qualquer tipo de aceitação, porque aceitação não existe, mas sim o reconhecimento. É muito gostoso, é muito gratificante quando você se reconhece diariamente. Existem diversas versões que você pode construir de você mesma.”, explicou.
“Espero que você possa ter essa maturidade e essa gostosura de se enxergar e se reconhecer”, falou.