A virada de 2020 para 2021 não foi a mesma para o duo Anavitória e suas fãs. Como quem não quer nada, sem avisar ninguém, Ana Clara Caetano e Vitória Falcão lançaram seu mais novo álbum intitulado “COR“. Com 14 canções, acompanhadas por vídeos no estilo “visualizer”, as cantoras naturais de Araguaína, cidade do Tocantins, marcaram presença com letras bastante intimistas e uma estética diferente da lançada nos outros projetos, mesmo que sem perder a essência principal da dupla.
As faixas do novo disco possuem quase que 100% composições de Ana Clara. “Amarelo, Azul e Branco” – responsável por abrir o novo álbum – também conta com a mãozinha de Vitória, que junto a parceira trouxe os ares de Tocantins através da letra. O músico Tó Brandileone, conhecido pelo trabalho na banda 5 a Seco também assina a produção musical, junto com Ana.
Anavitória (2016), O tempo é agora (2018) e N (2019), álbum feito com releituras de canções de Nando Reis, foram os projetos anteriores de Anavitória. Mesmo com composições das meninas nestes outros projetos, é a primeira vez que a dupla toma mais “a rédea da situação” e entrega um trabalho que, de acordo com as mesmas, tem mais a ver com o som que sempre buscaram. Em meio à pandemia do novo coronavírus, Ana Clara e Vitória se isolaram com o empresário Felipe Simas e Tó para fazer COR acontecer.
Em conversa com a todateen, a dupla contou mais sobre o processo da criação do novo som, falou sobre as parcerias com Rita Lee – com quem sempre sonharam em trabalhar – e Lenine, que são vistas em “Amarelo, Azul e Branco” e “Lisboa”, deu detalhes de algumas letras e dos “visualizers” de cada faixa e revelaram alguns artistas os quais se inspiraram para montar o novo projeto, como Coldplay e Los Hermanos.
Confira!
sobre o álbum
Vocês começaram a produção logo depois de lançar “O tempo é Agora”, em 2018? O álbum novo tem alguma característica desse álbum? Muitos fãs estão comentando que algumas faixas de COR parecem respostas a outra presentes no último lançamento.
Ana: A gente começou a trabalhar no cor em maio de 2020 e fomos terminar agora em dezembro. Acho que sim, tem coisa do tempo é agora que está no COR, coisa do disco 1 que também está no cor, a gente é um acúmulo de coisas. No tempo é agora a gente se experimentou em coisas diferentes. A partir dele, nós começamos a nos preparar para viver esse álbum de agora .Começamos a buscar o som que a gente queria no tempo é agora, e encontrou no COR. Acho que não diretamente tem músicas do COR que respondem o tempo é agora, mas todas elas contam histórias, as minhas histórias, então acho que uma vai completando a outra naturalmente.
Vocês pensaram em algum conceito específico para o novo projeto e ai foram escolhendo as músicas, ou decidiram depois que tinham as músicas prontas?
Vitória: As músicas vão existindo com o tempo, bem como o conceito foi nascendo a partir do momento em que estávamos com a cabeça pronta pra viver uma coisa nova.
A gente vê que todas as composições são de Ana. Ana, como foi o processo de composição das faixas desse novo álbum? O que te inspirou?
Ana: Então, eu não tirei um tempo pra compor pro disco, assim que a gente entregou o tempo é agora, tudo o que veio depois disso são coisas que entraram no COR, fui compondo ao longo do tempo. Cada música tem um processo diferente, uma história diferente. E eu não escrevo para caramba, não tenho uma pasta cheia de músicas que a gente vai descartando. Tudo o que eu fui escrevendo está no disco, e as músicas vão acontecendo, não tem meio que um processo.
Como o período de pandemia impactou em COR?
Vitória: Esse já seria um ano de aquietamento pra gente, porque tínhamos o Cor pra desenvolver. Mas com a história de “quarentenar” e estar em casa, foi muito mais intenso, em todos os sentidos. Moramos juntos, em equipe e fizemos esse álbum assim. Então tivemos um tempo que nunca tínhamos tido pra dedicar a um projeto.
O que a gente vê de igual às outras coisas que Anavitória já lançou e o que a gente vê de diferente nesse novo projeto?
Ana: Eu acho que o discurso dos três discos se conversam muito apesar de cada um ser de uma fase completamente diferente da nossa vida. Dá pra ver que todas as coisas nesses álbuns se relacionam, então quem se identifica com o primeiro álbum, vai se identificar com o terceiro. E o que a gente vê de diferente é a roupa que a gente deu pras músicas mesmo. Os caminhos de arranjo, como a gente explorou nossa voz, eu sinto que a gente está ganhando cada vez mais confiança pra interpretar, a Vitória já é uma put* de uma intérprete, eu acho a voz dela muito maravilhosa desde sempre, ela tem uma consciência vocal muito fod*. Eu nem tanto, então senti que com esse álbum eu consegui explorar mais esse lugar de intérprete e de passar realmente a mensagem que está sendo dita na música.
Enfim, o processo inteiro desse disco é muito diferente dos anteriores, a gente tomou muito as rédeas das coisas, então saiu tudo muito do jeito que a gente queria. Nos outros a gente não tinha tanto essa consciência do caminho que queríamos para as músicas, então os processos foram diferentes, mas os discursos dos álbuns se conversam.
Como foi a ideia de incluir participações poderosas de Rita Lee e Lenine em COR?
Vitória: “Lisboa” era a música que desde o início ouvíamos uma voz masculina “suingada” cantando junto. Quando mandamos o convite, ele disse sim da maneira mais querida imaginável. E morremos de amor ao ouvir, a voz dele encaixou tanto na canção! Sobre Rita, foi como o presente final pra abençoar o feito. A mudança de “Amarelo, azul e branco” com a inserção desse texto, foi uma das últimas coisas feitas no disco e não fazíamos ideia de que ela aceitaria. São sonhos realizados! Dois grandes artistas que admiramos imenso, parte desse álbum que tanto significa pra gente. É bonito demais!
Vocês tiveram referências de outros artistas nesse álbum?
Ana: Acho que todo álbum tem suas referências né, a nossa busca dede o álbum passado, que a gente sempre bateu na tecla, era que as músicas soassem tão grandiosas quanto as músicas do mundo gospel. Tem uma banda que a gente ama que chama Hillsong e é um som que emociona muito, que envolve muito, são vários climas, vários momentos e aí a gente estava buscando algo que flertasse com isso. Coldplay flerta muito com isso, Los Hermanos também. São coisas que a gente sempre escutou e que acho que conseguimos “beber” um pouquinho para colocar no nosso som dessa vez.
E um monte de outras pessoas que eu não consigo lembrar agora, porque a gente escuta de tudo e tudo acaba fazendo parte do nosso trampo.
Vocês trouxeram algo bem legal para cada música, que foram os visualizers. De onde veio essa ideia de ilustração ao novo projeto?
Vitória: No último álbum, fizemos um filme, esse foi o lançamento dele. Nunca tínhamos nos dedicado muito ao audiovisual, por tempo, vontade, outro momento. Ainda antes do álbum existir falamos muito sobre a vontade de “envelopar” ele da maneira mais linda que pudéssemos. Queríamos fazer vídeos simples, bonitos e que fossem gostosos de assistir. No meio do caminho, descobrimos o conceito de visualizer, e daí seguimos com as imagens, anseios de cada canção.
Qual desses visualizers vocês acharam mais legal de gravar?
Ana: Eu vou responder essa pergunta com dois, porque eu acho que o mais divertido de gravar foi o “Te amar é massa demais” porque a gente estava em um lugar lindo, num dia muito bonito e todo mundo que participou – de todos os visualizers – eram nossos amigos, então a gente estava num canto massa, partilhando isso com os nossos amigos. Mas o visualizer que eu mais gosto do resultado é “Amarelo, Azul e Branco” porque achei que a gente conseguiu entregar uma coisa muito linda, tanto a coreografia quanto a estética. Fiquei feliz com tudo nesse vídeo.
A gente pode esperar mais novidades para as faixas, como produção de clipes?
Vitória: A gente quer. Estamos todos entendendo ainda o que vai ser esse ano, então estamos vestidas de calma pra esperar cada próximo passo.
Nos créditos a gente também percebe o nome “Anavitória Artes”, é um projeto total independente? Como vai ser essa nova fase de vocês?
Ana: Esse é o nosso primeiro álbum independente, estamos bem empolgadas. Todo esse tempo na Universal foi muito gostoso, mas para o que a gente quer agora essa foi a nossa escolha de caminho. Ainda vamos descobrir o que esperar dessa nova fase. Estamos com muita vontade de ir para a estrada e ver como esse disco aconteceu nas pessoas.
Quais são os planos de vocês para melhor lançar o projeto nesse ano pandêmico? Vai ter alguma tour, algo desse tipo?
Vitória: Não tem como pensar em turnê ainda. Estamos todos esperando o que vai fazer o governo, quando essa vacina vai chegar… Então, o que temos por enquanto é o trabalho remoto.
O tempo é agora inspirou um filme todo temático com as músicas do álbum, vocês pensaram em fazer algo assim com esse novo projeto?
Ana: Como a gente já fez isso no Tempo é agora não caberia fazer outra vez, nem passou pela nossa cabeça. Dessa vez a gente se dedicou para fazer os visualizers. A gente quebrou a cabeça e achamos uma ideia linda para cada música. Ficamos muito feliz com o resultado, ficou com a nossa cara de agora, tudo bem bonito, estamos bem satisfeitas com tudo.
curiosidades sobre as composições
Sei que é bem difícil, mas vocês têm alguma faixa preferida? Ou aquela que mais toca o coração de vocês?
Vitória: Eu não tenho uma preferida, sou difícil com uma escolha só. Mas as preferidas de Ana são Abril e Te amar é massa demais.
Ana, qual música demorou mais tempo para você escrever?
Ana: A música que mais demorou para ficar pronta foi “Selva” porque eu tinha os versos e não tinha o refrão da música. Eu já tinha mandado essa música pro Tó Brandileone pra ele me ajudar a terminar e aí começamos a produzir sem ela estar pronta. E aí lá na Serra quando estávamos morando juntos e produzindo o disco ele me mostrou o refrão, já tinha um bom tempo que ele estava com a música. Demorou uns meses para esse refrão aparecer pro Tó e ele completar a canção.
E aquela que saiu fácil fácil?
Ana: A mais fácil eu acho que foi “Abril”. Foi uma música que eu escrevi muito rapidinha, primeiro eu tinha a letra depois coloquei a melodia e foi um processo muito gostoso novo pra mim porque eu sempre faço tudo junto. Mas também posso estar muito errada e não lembrar qual foi de verdade.
desvendando algumas faixas do álbum
Em conjunto com Danielle Gracia, uma fã da dupla, a todateen procurou desvendar alguns “segredos” presentes em faixas específicas do COR. Confira:
A gente percebe uma espécie de continuação na faixa “34” para “Ainda é Tempo”. Qual o significado disso?
Vitória: É como se fosse uma transição de uma música pra outra, nasceu da vontade de que tivesse algo que preparasse pra chegada de “Ainda é tempo”. É uma composição linda de Fabinho e Tó que estavam ali, no processo do disco.
A primeira faixa carrega as cores do estado do Tocantins. A letra da música e a participação de Rita Lee tem um pouco a ver com a terra de onde vocês vieram? Como surgiu a ideia de falar sobre o lugar e como foi o processo de composição juntas?
Ana: Essa música é uma reverência ao Tocantins. Amarelo, azul e branco são as cores da nossa bandeira. E o texto que a Rita Lee recita é da Simone de Beauvoir que fez muito sentido para a música, mas que veio depois da composição, ele foi mesmo a cereja do bolo. A vontade de falar sobre isso foi uma vontade de fortalecer esse nome, o Tocantins é o estado mais novo do país e muita gente não tem conhecimento e não sabe nem o lugar geográfico dele, eu acho importante nós que somos dessa terra falar sobre ela, é também uma apropriação de quem a gente é e essa é a nossa maior busca né, nos entender no mundo e ser fiel com a nossa raiz e origem.
E o processo de composição foi a gente trocando ideias pelo WhatsApp. Eu mandei a primeira parte pra Vi ela me respondeu com um verso, a gente foi montando por ali e foi bem gostoso, eu lembro de mandar várias perguntas “viu, quando você pensa sobre o Tocantins, sobre essa gente, o que vem na sua cabeça?” E aí ela mandava coisas e essas coisas eu tentava colocar em versos. Enfim, foi bem bonito, acho que foi um processo que eu nunca tive e espero que a gente tenha mais juntas. Eu sou muito feliz com essa música, acho a coisa mais linda, acho muito forte, gosto muito.
Muito se comenta sobre a faixa “Eu sei Quem É Você”. Vocês diriam que ela pode ser sobre algum relacionamento amoroso ou um relacionamento no geral?
Vitória: Pode ser sobre as interpretações mil que pode ter uma canção.
“Selva” tem uma letra bastante poética, o que quiseram passar com a canção?
Ana: Essa música eu escrevi junto com o Tó e ela narra um encontro do começo ao fim. Essa é a mensagem dela, você conseguir imaginar essas duas pessoas se encontrando, os detalhes da percepção desse encontro. Quando eu escuto eu consigo montar o cenário inteiro na minha cabeça, não sei se é porque eu vivi ou porque a música realmente consegue me levar pra esse lugar tão detalhado e específico. Espero que as pessoas também consigam montar esse cenário na cabeça.
Ouça “COR”: