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Exclusiva: Juliana Valentim fala sobre escravidão e racismo em seu novo livro “O Abrigo de Kulê”

Juliana Valentim é autora de dois livros, de crônicas e poesias, e agora se aventura na narrativa do seu primeiro romance, O Abrigo de Kulê, publicado pela Editora All Print. Ambientado nos anos 40, o lançamento da escritora brasiliense retrata a escravidão no Brasil nos anos 1940, abordando temas como racismo, amor e solidariedade.

Jornalista de formação, Juliana – que sempre foi apaixonada pelas palavras – conta a história de Gabriel, um caixeiro viajante contador de histórias, e Maria, uma jovem que ama os livros e sonha em conhecer o mundo. Juntos, eles traçam um caminho em busca da liberdade.

Em entrevista exclusiva à todateen, Juliana falou um pouco mais sobre sua trajetória, dando detalhes de como foi a experiência de desenvolver uma história com personagens e temas tão sensíveis.

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Confira!

Juliana, você sempre teve vontade de ser escritora?

Meu amor pelas palavras vem desde a infância. Meu pai lia muito para mim e isso me incentivou a usar a imaginação. Quando fiz dez anos, minha mãe me deu de presente uma máquina de escrever. E, desde então, sigo escrevendo. Eu sempre amei os livros, acho que eles nos permitem sair do mundo real e entrar no imaginário, que é um lugar muito gostoso, onde moram os sonhos.

Quando foi que você realmente decidiu que iria escrever um livro?

Meu primeiro livro, “Manuscritos de um Viajante”, nasceu de uma viagem pelo mundo. Passei cinco anos morando fora do Brasil e colecionei histórias, das mais diversas – trágicas, cômicas, românticas, emocionantes. Isso me despertou a ideia de publicar uma obra de contos e crônicas. Depois, veio o “Palavras que Dançam”, um livro de poesias que deu origem ao meu perfil literário @palavrasquedancam no Instagram. E, agora, “O Abrigo de Kulê”, que é muito especial, pois é o meu primeiro romance.

De onde veio a inspiração para escrever “O Abrigo de Kulê”?

Eu sempre quis escrever um romance, que é uma história com narrativa mais longa. E também sempre quis falar de temas importantes e atemporais como as questões raciais, a busca pela liberdade e a sororidade, solidariedade entre mulheres que nasce em tempos desafiadores. Foi a junção de todos esses desejos que me inspirou a produzir “O Abrigo de Kulê”.

Como foi pra você desenvolver a relação de Gabriel e Maria?

Eu me apaixonei por Gabriel e Maria, dois personagens jovens que carregam no coração muitos sonhos. Cada um deles vem de uma realidade diferente. Gabriel é um caixeiro viajante que anda pelo Brasil vendendo brinquedos. Maria é uma moça muito culta que se sente presa na realidade de uma pequena cidade do interior. Eles vivem um romance cheio de aventura e caminham sempre em direção à liberdade. Falar sobre a paixão entre dois personagens tão fortes e cativantes foi incrível.

Qual sua parte favorita de seus personagens? O que você mais gosta neles?

Meus personagens trazem no coração uma enorme garra, cada um à sua maneira. A Kulê, por exemplo, que dá nome ao livro, é uma moça negra que nasceu escravizada em uma fazenda no interior do Brasil. Embora só conheça essa realidade, ela busca incansavelmente sua liberdade. Meus protagonistas são jovens adultos que, apesar da pouca idade, mostram uma firmeza de caráter e propósito muito bonita.

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Você ambienta a obra na década de 40, como foi pra você colocar todas essas referências de tempo e espaço na obra?

O livro é uma ficção, mas traz cenários bastante reais do interior do Brasil na década de 40. Parte desta ambientação veio de pesquisas e parte das histórias que ouvi da minha avó, que nasceu em 1928 e tem muito conhecimento desses tempos. Foi muito interessante mesclar o trabalho de pesquisa com as memórias dela, acrescentou uma riqueza imensurável à obra.

O livro fala sobre temas muito latentes, por exemplo a escravidão, o preconceito e intolerância. Como foi pra você falar sobre esses tópicos?

A gente precisa falar sobre o preconceito, em todas as suas formas. Oitenta anos se passaram entre a história do livro e nossos tempos, mas ainda estamos presos aos mesmos temas, que parecem cada dia mais atuais. Estamos em um momento muito importante, com vários movimentos acontecendo, com muitas pessoas buscando sua voz. Meu papel como escritora é trazer à tona esses assuntos e amplificar as vozes de quem precisa falar.

“O Abrigo de Kulê” retrata muito bem diversos sentimentos dos jovens: a vontade de viver demasiadamente e a liberdade. Quer falar um pouco sobre isso?

A coisa mais bonita da juventude é a fome de vida, essa vontade de engolir o mundo. Vejo uma riqueza tão grande nisso! Para mim, a juventude é a força propulsora da mudança que tanto queremos. E talvez o segredo da longevidade seja não perdermos esse encantamento que os jovens têm pela vida.

Capa – “O abrigo de Kulê”

A capa do livro também é extremamente sensível. De onde veio a ideia?

A capa é muito importante, pois é o primeiro contato do leitor com o livro. Eu queria uma imagem forte que não perdesse a doçura e a delicadeza. Então, veio a ideia de retratar uma moça negra, que tem os pés acorrentados, mas que possui grandes asas coloridas, simbolizando a liberdade. Foi muito gostoso encontrar duas profissionais, Elaine Lyra e Flávia Hashimoto, que conseguiram criar, de forma primorosa, essa arte.

Quais são suas principais referências/autores favoritos?

Há vários autores que me inspiram muito. Posso citar, entre os principais, Clarice Lispector, que tem uma obra muito intensa, Rubem Alves, um cronista que escreve com uma delicadeza única, Luiz Fernando Veríssimo, que me ensinou muito sobre criatividade, Cora Coralina, um ícone de doçura e força e, mais contemporaneamente, Rayane Leão, uma poeta incrível.

Qual a importância de termos mulheres escrevendo e ganhando força no cenário nacional?

Ver as mulheres ganhando ainda mais força no cenário literário nacional é maravilhoso. E fazer parte disso me traz um orgulho enorme. Precisamos falar sobre o feminino, precisamos abordar e incentivar a sororidade, precisamos caminhar juntas! Pode até parecer clichê, mas juntas somos mais fortes. Sim!!!

Qual a mensagem que você gostaria de passar com essa história?

Eu quero dizer às pessoas que nunca deixem de lutar por aquilo que faz o coração vibrar, por mais difícil que pareça, por mais que o mundo queira te enquadrar no que os outros esperam de você, por mais que o sonho pareça algo distante. Nunca deixe de buscar. Assim como Kulê não desistiu da sua liberdade, que a gente nunca desista de buscar a nossa, seja ela qual for. A palavra que eu mais gosto é coragem. Então, coragem para todos nós. Sempre! Vejo vocês no @palavrasquedancam.

O livro O Abrigo de Kulê pode ser adquirido na Amazon.


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