Você já teve o sentimento de que manter o foco nos estudos é muito difícil? Dificilmente consegue terminar um livro? Já ouviu que é relaxado e desatento mas não entende o motivo e não sabe o que fazer para mudar isso? Em alguns casos isso pode ter um nome: TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Embora não seja um termo desconhecido, muitas pessoas ainda não se atentam sobre a importância de entender o distúrbio e, por incrível que pareça, ele é menos conhecido do que aparenta.
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Recentemente, no BBB21, Fiuk contou que foi diagnosticado com TDAH quando era criança. “Fui crescendo e quis saber o que era isso que eu tenho, fui ficando inquieto”, disse. Depois dessa declaração, novos debates sobre o distúrbio surgiram na internet, mostrando que o assunto ainda é muito pouco falado. “Eu sempre tinha que me isolar, sentar no canto da sala. Moleque me dava tapa na cabeça, eu sempre sofria muito bullying, continuou o cantor.
O transtorno já havia aparecido na edição passada do Reality. O BBB20 também foi marcado por Daniel Lenhardt, que chamava a atenção dos brothers por ser bastante desatento. “Com certeza, [os erros de Daniel] têm relação [com o TDAH], pois vemos claramente que ele fica muito mal quando acontece isso, mesmo ele não querendo que aconteça”, disse o irmão do participante na época.
Muitas pessoas ainda acham que o TDAH é algo exclusivo de crianças e adolescentes na fase escolar, o que não é verdade. De acordo com o Instituto Brasileiro do Déficit de Atenção, 3 a 5% das crianças do mundo têm o transtorno e em metade dos casos ele acompanha os indivíduos na fase adulta. Com essa informação sendo pouco difundida, muitas pessoas podem carregar preconceitos também com quem tem o distúrbio em uma idade mais avançada.
Em uma entrevista à todateen, Danielle H. Admoni, psiquiatra da Infância e Adolescência na Escola Paulista de Medicina UNIFESP, ajudou a trazer as principais dúvidas sobre o transtorno para você entender de uma vez por todas como ele funciona e tirar preconceitos da cabeça. Confira!
o que é tdah?
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) costuma se manifestar na infância e pode persistir ou não na idade adulta. Marcado por três principais características, a dificuldade de atenção, a hiperatividade e a impulsividade, normalmente atinge mais meninos que meninas. De um modo geral, o paciente apresenta dificuldades nos níveis escolares e no convívio social devido ao alto grau de agitação, costuma ser desatento e apresenta dificuldades comportamentais ao receber regras e limites – bastante presentes no bbb, né?
E se você ficou curioso para saber mais do porque ele se manifesta, Danielle explica: “É consequência de múltiplas causas, e um dos fatores importantes é a genética. É muito comum que uma criança com TDAH possua familiares adultos com o transtorno. Também há outros possíveis fatores que estão relacionados com problemas no desenvolvimento do sistema nervoso central durante a gestação, no parto e nos primeiros anos de infância”.
O diagnóstico do TDAH é clínico, e de acordo com a especialista, não há nenhum tipo de exame que possa ser feito, sendo fundamentalmente dado através do histórico e da observação da criança, além das informações dadas pelos pais e professores.
“Estas pessoas que convivem com o paciente devem utilizar técnicas de observação, conversar com a criança e perceber a sua personalidade, suas dificuldades, suas distrações, e os sintomas analisados devem ser apresentados aos profissionais da saúde. Um relatório preparado pelos educadores pode ser muito útil para o diagnóstico, visto que a partir dali é possível analisar o rendimento educacional do paciente em termos de aproveitamento escolar para ter um melhor panorama do quadro.”
sintomas
O TDAH se manifesta logo na infância, e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM) lista dezoito sintomas que nos indicam o diagnóstico. Conheça os principais deles:
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- Frequentemente, não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividade
- Frequentemente, tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas, como conversas ou leituras prolongadas
- Frequentemente, parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente, parece estar com a cabeça longe, mesmo na ausência de qualquer distração óbvia
- Frequentemente, não segue instruções até o fim e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho. Costuma começar as tarefas, mas rapidamente perde o foco e o rumo
- Frequentemente, tem dificuldade para gerenciar tarefas sequenciais; dificuldade em manter materiais e objetos pessoais em ordem; trabalho desorganizado e desleixado; mau gerenciamento do tempo; dificuldade em cumprir prazos
- Frequentemente, evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado, como trabalhos escolares ou lições de casa. Em caso de adolescentes mais velhos e adultos, a dificuldade está no preparo de relatórios, preenchimento de formulários ou revisão de trabalhos longos
- Frequentemente, perde coisas necessárias para tarefas ou atividades, como materiais escolares, lápis, livros, instrumentos, carteiras, chaves, documentos, óculos ou celular
- Com frequência, é facilmente distraído por estímulos externos (para adolescentes mais velhos e adultos, pode incluir pensamentos não relacionados)
- Com frequência, é esquecido em relação a atividades cotidianas, como realizar tarefas e obrigações. No caso de adolescentes e adultos, o desafio está em retornar ligações, pagar contas ou manter horários agendados
a importância do diagnóstico precoce
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 4% da população adulta mundial têm o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Só no Brasil, o transtorno atinge aproximadamente 2 milhões de pessoas adultas, afeta 6% das crianças e, no caso dos jovens, 6,9%. É de extrema importância que o diagnóstico e tratamento seja feito de forma precoce.
Além disso, ela passa a entender melhor seu distúrbio, assim como as pessoas que estão à sua volta e será melhor de lidar com a situação em uma fase adulta, como a de Fiuk e Daniel. Os profissionais que atuam da melhor forma no tratamento destes pacientes são os psiquiatras e neuropediatras. Eventualmente a criança também é encaminhada para outros profissionais que farão abordagens terapêuticas, como os psicopedagogos, psicólogos e fonoaudiólogos, mas tudo depende do conjunto de sintomas e de outras eventuais doenças associadas que o paciente possa ter.