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#StopAsianHate: como pessoas amarelas encaram o preconceito?

#StopAsianHate: como pessoas amarelas encaram o preconceito?
#StopAsianHate: como pessoas amarelas encaram o preconceito?

No dia 16 de março oito pessoas – incluindo seis mulheres descendentes de asiáticos – foram mortas em casas de massagem em Atlanta, nos Estados Unidos. Segundo o The Washington Post, o responsável pelo tiroteio, Robert Aaron Long, um homem branco de 21 anos, foi preso e indiciado pelos ataques.

O triste ocorrido impulsionou uma onda de manifestações e protestos nos EUA e ao redor do mundo, contra discursos de ódio e atos de violência voltados a asiáticos e descendentes. A hashtag #StopAsianHate (pare o ódio a asiáticos, em tradução literal, ficou nos trends do Twitter e diversas celebridades se manifestaram sobre o assunto.

Mas essa não é a primeira vez que o assunto é trazido à tona. Logo no começo da pandemia, ainda em 2020, muitas pessoas asiáticas relataram que o preconceito sofrido aumentou muito. Algumas contaram que chegavam a apanhar na rua e ouviam diversas frases discriminatórias enquanto caminhavam.

mas afinal, quando começou o preconceito contra pessoas amarelas?

A influencer Miwa Kashiwagi, de 19 anos, fez um vídeo em seu Instagram falando mais sobre o preconceito enfrentado. Além do caso do atentado, relatado acima, ela chama atenção, por exemplo, para as falas do nosso próprio governo.

Weintraub, ex-ministro da educação do governo Bolsonaro, já chegou a dizer que não era racista, pois tinha até amigos asiáticos e de “pele mais escura”, enquanto o próprio presidente afirmou que não compraria a “vacina chinesa”.

Tudo isso reforça um estereótipo de que chineses são pessoas sujas e que não devem ser confiáveis.

Miwa diz que, apesar de tudo, o preconceito não começou a partir do coronavírus. Na verdade, a doença só escancarou algo que já era rotineiro. “Eu costumo falar pra todo mundo que uma pessoa amarela no Brasil entra em uma de duas caixas: ou é a minoria modelo, super esforçada, inteligente, quieta, tímida e passiva, ou é o chinês sujo, que não é confiável, que faz tudo pra se sair bem, que gosta de trapacear e copiar“, explica ela. “É muito fácil você passar de um para outro a partir do momento que você desagrada. Acho que no plano social, com a crise sanitária que estamos vivendo, foi exatamente isso que aconteceu. Foi o começo para passar para o lado do sujo, do doente, do indesejável”.

Além de Miwa, a estudante de Publicidade, Wendy Hissano, de 25 anos, também falou sobre as formas de preconceito.

Eu não gosto que me chamem de ‘japa’ porque estou sendo reduzida apenas a características físicas. A pessoa pegou toda a minha personalidade e reduziu a isso. Outra forma de preconceito, que pode parecer sutil, é quando, por exemplo, a pessoa fala que tenho olho rasgado, pergunta se eu enxergo bem“, conta ela. “Já ouvi também que todo asiático é muito inteligente“.

o preconceito está atrelado com a fetichização?

Principalmente com a popularização do K-Pop, muitas pessoas passaram a se denominar como “maria hashi”, ou seja, uma mulher que tem atração por pessoas asiáticas. Sobre isso, Miwa explica a profundidade e a problemática do assunto.

Quando a pessoa fala, por exemplo, que o tipo dela é asiático, o que ela quer dizer? São todos os asiáticos? Desde o coreano até sul asiático? Provavelmente não. O que ela está querendo dizer é uma pessoa leste asiática, provavelmente. De pele clara, dentro de um estereótipo de ser educada, passiva, inteligente, esforçada e complacente. E isso é destrutivo no sentido de que constroi em cima da gente uma ideia. O estereótipo não necessariamente é verdade. A partir daí as reações são variadas“, explica a influencer. “Tem gente que se decepciona, tem gente que se recusa a ver que você não é daquele jeito, e tem até reações mais violentas, como por exemplo o caso de Atlanta, que claramente era um homem que tinha esse fetiche sexual e racial. Ele se tornou violento porque entendeu que aquelas mulheres — que eram a fonte do fetiche dele — eram uma tentação, então ele tentou eliminar essa forma de tentação“.

Sobre isso, Wendy acrescentou um comentário contrário, lembrando de sua infância e a dificuldade em se achar bonita.

Eu demorei muito para começar a me relacionar porque eu não era branca, eu não era loira dos olhos azuis, porque eu era considerada uma beleza exótica. Isso se reforçou ainda mais quando eu fui fazer faculdade e tinham pouquíssimos asiáticos. Eu sempre era tratada como diferente. Você fica com uma baixa autoestima. Você começa a se questionar se é bonita, porque não é atrativo para ninguém“, conta ela.

Dessa forma, fica claro um padrão em que, para muita gente, ou o asiático se comporta — pessoal e fisicamente — da forma que é esperada, ou é excluído e julgado.

quando começa o preconceito?

Ambas as mulheres afirmaram que desde a infância sabiam que eram diferentes. Miwa contou que percebia que seus costumes culturais eram diferentes, já que cresceu em uma área predominantemente branca. Mais tarde, com 10 anos, ela começou a sofrer bullying. “Desde muito cedo a gente entende, mesmo que inconscientemente, que por a gente não ser branca está sofrendo o bullying e existem os comentários chatos”.

Já Wendy relembra que percebeu o preconceito pela primeira vez quando precisava encontrar uma fantasia para uma festinha da escola. “Eu queria ir de alguma personagem legal e pensei em todas as personagens femininas que eu conhecia, mas me vi completamente restrita a ir de Mulan ou Pocahontas, porque não tinha uma fantasia que eu me sentisse confortável em usar. Foi uma das primeiras vezes que eu percebi que não era branca. Eu queria usar uma fantasia de Alice no País das Maravilhas, mas eu sou asiática. Aí pensava: ‘Será que as pessoas vão entender do que eu estou fantasiada?‘”

e tem como acabar com esse preconceito?

Apesar de existir a hashtag #StopAsianHate, na prática, fazer isso é muito difícil. Miwa, por exemplo, cita suas técnicas para lidar com a situação, dizendo que quando era pequena, tentou se distanciar o máximo possível do estereótipo. “Mas foi em vão, né? Porque nada que eu faça no meu rosto, no meu jeito de ser ou no de falar, vai mudar o fato de que as pessoas me veem dessa forma“.

Hoje, eu acho que lido com essa violência de uma forma mais sarcástica, meio que ‘rir para não chorar’, porque se eu for me abalar com absolutamente todo comentário que fazem pra mim, eu acho que não estaria mais viva. Porque os comentários vêm de todos os lados, disfarçados de conselhos e boas intenções. E se eu fosse ligar para tudo o que falam, eu ia enlouquecer. Eu tento ao máximo fazer uma crítica no bom humor, ser sarcástica, irônica“, explica ela.

No fim, é complicado falar sobre o fim de um preconceito quando ele está tão presente nas raízes da sociedade — não só da brasileira, mas do mundo todo.

É uma conversa muito longa que precisamos ter, mas existem coisas que podemos fazer agora para melhorar. A primeira delas é conversar sobre isso. Quando não falamos sobre o que está acontecendo, não estamos nem admitindo que existe um problema“, conclui Miwa.

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