texto por Isabelle Costa (@avalancheliteraria)
ilustrações por Thais Menezes (@thamenezes.s)
(ouvir ao som de ‘evermore’ – taylor swift feat. bon iver)
Aqui em casa tem um suéter de listras. É de crochê, vermelho e azul, que ganhei há muito de uma vizinha que foi embora. Tem um cheiro forte que não sai com água ou sabão; que nem o cuidado da minha mãe, que é transbordante, é capaz de tirar. Um cheiro estranho, que poderia ser o seu, mas não é.
Já tem uns anos que vejo os espaços vazios nos meus dias desaparecendo. Gasto meu tempo com coisas que antes me pareciam absurdas, e me preocupo com o futuro – agora muito mais real do que quando eu tinha dezenove e achava que a coisa mais importante, o prêmio máximo da minha existência, era ser importante pra você.
Foi uma coisa boa que você me deixou: isso de aprender a identificar e descartar automaticamente ideias que caem bem num texto que as pessoas leem na internet e acham que fala de amor, mas que, se a gente presta atenção direitinho, percebe que não. Que não é assim que o amor se comporta, não. O seu silêncio ainda faz eco aqui.
Agora começo separando o que é real do que não é, e me faço outras perguntas ao invés de “e se”.
E se é aventura. Começo, meio; desfecho em aberto. Conjunção que só combinava contigo. E comigo tentando te desvendar, fazendo de tudo pra você me ver. Achando um monte de coisas pra não ter que enxergar.
Tenho uma foto daquele dia, mas lembraria mesmo se a minha memória fosse o único registro. O tempo passou, a reviravolta que esperei não veio. Não é sempre que o jogo vira. Eu fiquei triste, foi ruim. Mas acabou. Ninguém venceu. Nós dois perdemos de maneiras diferentes.
Não tem seu cheiro no meu guarda-roupa. Nem coisas minhas perdidas no seu.