Se você é fã do cenário gamer, provavelmente conhece a Ana Xisdê. Aliás, indo além do reconhecimento neste universo, ela também é atriz, pedagoga de formação e fez história ao se consagrar como a primeira jurada brasileira no Esports Awards em 2021.
O evento, para quem não sabe, é considerado a maior premiação internacional de esportes eletrônicos. Por lá, ela teve a missão de indicar nomes nacionais e latino-americanos ao prêmio. Arrasou demais, né?
“Foi uma mistura de emoções. A responsabilidade é gigantesca, mas ao mesmo tempo é uma honra muito grande. Todos estavam cientes que eu falaria sobre pessoas que muitos ali não conheciam, mas confiaram na minha palavra para entender a qualidade e peso dos trabalhos do nosso país e ganhamos muito espaço desde a minha entrada”, celebra.
Em conversa com a todateen, ela conta que os jogos sempre estiveram presentes em sua vida. Jogadora assídua, Ana passou meses em busca de uma primeira oportunidade, mas o sucesso não veio tão rápido assim. “Apenas cheguei onde cheguei porque um campeonato feminino foi feito pela comunidade. Foi a primeira vez que consegui meu espaço”, recorda.
“Aproveitei ao máximo, mostrei minha preparação, mesmo sem experiência, e fui reconhecida por isso. Foi por conta desse campeonato feminino amador que eu fui convidada para o evento de aniversário de um ano do jogo como palestrante. Fiz os contatos necessários para abrir outras portas e depois disso nunca mais parei”, acrescenta.
Muito além de um hobby…
Sobre ter a competição muito além de um simples hobby, Xisdê afirma que a decisão veio diante de uma frustração na carreira tradicional e, claro, o desejo de trabalhar com o que tanto amava.
“Os jogos estavam lá, sem representatividade feminina, era um espaço para ser preenchido e eu decidi que faria isso. Não sabia quanto tempo demoraria, mas eu fiz tudo no meu poder para fazer isso acontecer. Para mim, foi mais sobre a decisão do que sobre a tentativa e percepção”, diz.
E, como em diversas áreas, o universo gamer também puxa outro assunto que sempre comentamos por aqui: a representatividade feminina. Ainda que as pesquisas mostrem que as mulheres jogam até mais do que os homens, quem está inserido nessa rotina pouco sente esse peso, especialmente pela variedade de jogos e pelos principais títulos continuarem sob o domínio masculino.
“Apesar disso, a comunidade da internet tem cobrado cada vez mais a representação das minorias e o mundo gamer é muito impactado por tudo que acontece on-line. Hoje, personagens femininos são representados com muito mais diversidade e isso chama novos jogadores”, ressalta.
“Grandes marcas também já têm percebido a importância de atender essa nova exigência da nossa comunidade e com isso a nossa presença tem sido cada vez mais comum e lidada de forma mais saudável. Ainda temos muito a caminhar, mas não podemos deixar de celebrar tudo que já alcançamos”, complementa.
Xô, machismo!
Questionada sobre já ter vivenciado situações de machismo e misoginia, a resposta é sim – infelizmente. “Quando consegui minha primeira oportunidade profissional, uma das pessoas da equipe tinha problemas com mulheres, ele não seguia nenhuma mulher nas redes sociais e fazia questão de deixar claro que não gostava da minha presença em toda oportunidade que tinha”, inicia.
“Essa situação foi remediada na época pela empresa que nos contratava e, eventualmente, eu saí de lá e continuei crescendo. Exatamente por não ter parado, eu tive a oportunidade de contar essa história e ele ouviu! Ele sabia que era sobre ele… então me ligou e se desculpou! Eu fiquei muito surpresa e feliz, ao mesmo tempo sei que se eu tivesse sido impactada por isso a ponto de desistir, isso jamais teria acontecido”, comenta.
“Eu ter perseverado e ter me tornado quem sou hoje é o que permite conscientizar ele e tantos outros por aí que as mulheres merecem seu espaço também”.
O futuro pode e deve ser mais bonito
“Eu quero um futuro que englobe não só as mulheres, mas todas as minorias. Fico feliz que hoje estamos aqui a ponto de poder cobrar isso, mas estamos longe de concretizar esse futuro. Cada dia é uma batalha e uma nova conquista, jogos com opções de acessibilidade, com personagens mais diversos e com personalidades mais complexas, mais profissionais de qualidade e oportunidade para eles. O que a gente precisa são essas aberturas, o resto a gente faz!”, pede a gamer.
Ao olhar para o passado e todos passos que seguiu até se tornar referência para tantas meninas, ela revela que a ideia, ao menos no início, era realmente essa: ser a representatividade que as mulheres precisavam, que ela precisava, mas, demorou a admitir que ela poderia ser essa pessoa, esse nome e valia a pena tentar.
“Hoje eu sei que quando estou na frente de qualquer câmera, eu carrego comigo tudo que eu represento e todos os sonhos que eu pude realizar são combustíveis para fazer isso com um sorriso no rosto e sempre buscar mais”, celebra vitoriosa.
E para você que está dando os primeiros passos neste mundinho, atenção para o recado da vez.
“Estude muito, se prepare e tenha objetivos claros alcançáveis. A sorte acontece quando a oportunidade encontra o planejamento. O meio gamer é muito cobiçado, mas ao mesmo tempo é carente de profissionais ainda, aproveite esse momento para ser aquele profissional que o mercado precisa, mas pra isso saiba o que você quer e foque. Para se manter é importante continuar com tudo isso que foi necessário desde o começo, se renovar sempre e se preparar para os altos e baixos, naturais de todo meio mais novo”, finaliza Ana Xisdê.