Thais Bergmann lançou recentemente seu livro “E foi assim que tudo mudou” pela editora Astral (e nós estamos obcecadas). Porém, nós ficamos com uma pulga na orelha. Afinal, se você é leitora assídua de livros você provavelmente já tentou imaginar como é todo o bastidor até o seu livro favorito chegar até a sua casa, né?
Por isso, nós resolvemos matar essa curiosidade, conversando com a Thais Bergmann. No nosso bate-papo, ela desvendou todos os mistérios do mundo da escrita. Vem com a gente!
TT: Você pode descrever como é um dia típico da sua vida quando você está trabalhando em um novo livro? Como é sua rotina?
TB: Sempre que estou trabalhando em um livro, gosto de começar o dia escrevendo para aproveitar enquanto ainda estou com a cabeça tranquila, sem os problemas que vão surgindo ao longo do dia. Então, costumo escrever das 8h30 ao meio-dia. Às vezes, percebo que minha produtividade está caindo lá pelas 10h30. Nesses dias, aproveito o resto da manhã para produzir conteúdo para minhas redes sociais. À tarde, tenho um trabalho formal na parte administrativa de uma empresa, então raramente consigo escrever. Gosto de reservar o período da noite para descansar, mas, às vezes, estou muito empolgada com algum livro ou preciso cumprir algum prazo apertado. Então é comum eu chegar em casa perto das 19h e ficar escrevendo até as 21h.
TT: Escrever pode ser uma experiência super pessoal. Você poderia compartilhar um pouco sobre seu processo de pensamento ao desenvolver personagens e enredos para seus livros? Como você se inspira?
TB: Cada livro passa por um processo de planejamento e inspiração diferente. Às vezes, passo anos com uma ideia na cabeça que vai se desenvolvendo aos poucos; às vezes uma nova ideia surge do nada e eu fico tão empolgada que passo ela na frente de todas as outras. Mas, em geral, tenho uma ideia inicial e passo algumas semanas conhecendo melhor os personagens e tentando entender como essa história precisa se desenvolver. Sempre uso métodos de planejamento, como o Snowflake ou entrevistas para fazer com os personagens, mas também gosto de respeitar o que cada história pede — se algum método não estiver funcionando, trabalho de outra forma. Esse é um processo bem complicado e longo para mim, principalmente porque só consigo escrever depois de ter toda a história planejada. Então, costumo recorrer às coisas que mais me inspiram durante o período de planejamento: séries e filmes que tenham a ver com o tema, livros dos meus autores favoritos e até músicas ou fotos que passem a vibe da história.
TT: Alguns escritores costumam ter espaços ou rituais de escrita. Qual é o seu lugar favorito para escrever? Você tem algum ritual para se concentrar?
TB: Eu sempre prefiro escrever ao ar livre. Estar rodeada pela natureza me motiva
e me inspira muito, então meu lugar favorito para escrever é a casa de praia dos meus pais — eles têm um gramado enorme e é muito gostoso passar a manhã escrevendo lá. Infelizmente, só consigo trabalhar lá durante o verão e alguns finais de semana, então, no dia a dia, costumo escrever no meu escritório mesmo. Para
melhorar a experiência, decorei meu escritório com algumas das minhas coisas
favoritas, como meus livros, fotos com meus amigos, cartinhas de leitores… Tudo para deixar o ambiente mais agradável. Também gosto de ouvir músicas que tenham a ver com a história (ou algum álbum da Taylor Swift) e acender uma vela.
TT: Você tem dicas para quem está começando a escrever? Como você supera o bloqueio criativo?
TB: Minha principal dica para quem está começando a escrever é: escreva. Sei que
parece uma dica boba, mas às vezes a gente fica tão preocupado com outras partes do processo, principalmente da publicação, que acaba deixando a escrita um pouco de lado. Recebo muitas mensagens de pessoas que estão começando a escrever e já procuram indicação de editoras ou capistas. Sei que é difícil deixar a ansiedade de lado (eu entendo, porque também passei por isso), mas acho que a prioridade deve ser sempre escrever. De que adianta se preocupar com essas coisas sem sequer ter um livro pronto? Para superar o bloqueio criativo, tento me rodear de coisas que me inspiram. Procuro rever meus filmes e séries favoritos ou ler livros de autores que gosto muito. Mas o que mais me ajuda é consumir conteúdo de outros escritores. Ver outras pessoas empolgadas com seus projetos sempre me dá mais gás para me concentrar nos meus. Às vezes, o bloqueio é tão forte que não tem nada para fazer além de esperar passar, mas na maior parte das vezes, consigo
superar dessa forma.
TT: Escrever pode ser emocionalmente desgastante, especialmente quando se trata de temas delicados. Como você cuida do seu bem-estar mental e emocional enquanto trabalha em seus livros?
TB: Todo o processo de escrita é bem desgastante, então o principal, para mim, é
sempre manter a terapia em dia e me rodear de pessoas que me fazem bem. Meu marido não só entende minha rotina doida como é meu maior fã e está sempre fazendo o possível para me ajudar quando tenho prazos difíceis para cumprir ou quando preciso de ajuda para desenvolver minhas histórias. Meus amigos e família também formam uma ótima rede de apoio e me ajudam a não surtar quando acho que tudo está saindo do controle.
TT: Muitos leitores estão curiosos sobre o cronograma desde a concepção inicial de um livro até sua publicação. Você pode nos dar uma visão geral de como é esse processo para você?
TB: A parte da concepção é sempre o mais caótica. Tenho histórias que demoraram anos para se desenvolver e algumas que levaram poucas semanas. Mas, em geral, passo algumas semanas completamente focada no planejamento do livro, destrinchando cenas e personagens. Só começo a escrever quando sinto que o planejamento está bem robusto e que estou conectada com a história. O tempo de escrita varia de acordo com o tamanho do livro, mas costumo demorar entre 2 e 6 meses para escrever a primeira versão. Durante essa parte do processo, tento escrever pelo menos uma cena por dia e gosto de sempre editar um capítulo antes de escrever o próximo, principalmente porque mando todos os capítulos para a minha agente conforme vou escrevendo. Quando termino o primeiro rascunho, gosto de me afastar por uma ou duas semanas para me desconectar um pouco da história (o que nem sempre é possível, dependendo do prazo), e então faço quantas leituras achar que são necessárias antes de mandar o livro para a revisão. Se for um livro independente, costumo fazer entre 3 e 5 leituras antes de publicar, o que leva
mais ou menos um mês. Se for com uma editora, às vezes esse número fica muito maior porque o livro passa por mais processos, além de demorar muito mais tempo. “E foi assim que tudo mudou”, por exemplo, terminei de escrever em abril de 2022, mas ainda estava trabalhando nele até agosto de 2023, com longos intervalos, é claro.
TT: Por fim, o que você faz para relaxar depois de um dia escrevendo?
TB: Depois de um dia focada na escrita, sempre fico com a cabeça cheia, então gosto de me desligar completamente. Às vezes, tomo um banho de banheira com um livro que estou louca para ler, ou deito na sala com meu marido e meus gatos para assistir a alguma série de TV.