Nesta sexta-feira (12) uma nova era é consolidada para a cantora e empresária Selena Gomez. Após uma trajetória sólida nos Estados Unidos, a texana resolveu resgatar as raízes mexicanas e lançar um compilado de sete canções em espanhol, o chamado “Revelación“. Três clipes já foram divulgados, fazendo de “De Una Vez”, “Baila Conmigo” e “Selfish Love” singles. Além das parcerias com Rauw Alejandro e DJ Snake, o EP conta ainda com a colaboração de Myke Towers em “Dámelo To’” e outras três faixas solo, “Buscando Amor”, “Vicio” e “Adiós”.
Entre questionamentos sobre a intenção da artista ao lançar músicas em espanhol, já que muitas pessoas veem a ambição de alcançar o mercado latino como principal objetivo, o fato é que Gomez possui em sua formação uma mescla latino-americana, assim como vários outros estadunidenses com familiares de países da América Latina.
Neste projeto, que Selena já mencionou estar em seus planos há muito tempo, existe uma harmonia com a música de outras eras. A língua da composição pode ter mudado, mas a sensibilidade da artista ao cantar sobre o fim de relacionamentos e empoderamento continuam muito semelhantes ao que foi trabalhado em “Rare”.
O destaque do EP, com toda certeza, foi a combinação do estilo sensível da artista com uma letra tocante em espanhol, o que permitiu com que “De Una Vez” alcançasse o topo das paradas assim que foi lançado, mesmo que o tempo da canção parecesse curto demais para o que poderia ser oferecido. As outras três faixas solo, “Buscando Amor”, “Vicio” e “Adios”, repetem essa mescla harmônica, mostrando que a falta de indicações a prêmios ou críticas sobre a extensão vocal de Selena possam soar apenas como “hate”.
As faixas com feats, entretanto, trazem uma experiência sonora um pouco diferente, por colocarem Selena no clássico ritmo contagiante e dançante do Pop latino. Após a divulgação de “De Una Vez”, criou-se a expectativa de que a artista pudesse ser ousada ao trazer o seu próprio estilo para a composição em espanhol, como fez nas canções solo, mas as colaborações a levaram para a clássica vibe reggaeton com mescla de palavras em inglês, artifício utilizado por muitos artistas latino-americanos para “americanizar” sua música e expandir o alcance do projeto.
Provavelmente por conta desta questão, existe a possibilidade de que “Baila Conmigo”, “Selfish Love” e “Dámelo To” soem um pouco comerciais. Outro fator que deve ser mencionado é que Selena não trouxe em seu EP algo que poderia ter elevado a ansiedade dos fãs: uma colaboração com uma cantora latino-americana em uma letra potente. Esperamos que isso aconteça no futuro!
Dada esta questão sobre a construção das melodias, as composições isoladas reforçam uma continuidade do que começou em “Rare”, já que mesmo não sendo em inglês, a temática é semelhante: um amor tóxico que acabou, o processo de distanciamento para, então, reconstruir a autoconfiança e se permitir amar novamente.
Os clipes são outro destaque dessa era de Selena, que começou de maneira extremamente criativa: muros sendo pintados com seu nome e rosto em diversos países da América Latina. Todo o projeto audiovisual, inclusive, foi desenvolvidos com diretores latinos, incluindo o carioca Rodrigo Saavedra para comandar “Selfish Love”. Vale dizer que as ideias utilizadas pelos profissionais para conceber vídeos com artistas em países diferentes, em respeito às medidas de segurança exigidas pela pandemia do coronavírus, foram muito criativas.
A beleza estética de “Revelación” tem sido exaltada pelos fãs no mundo todo, entretanto, existe uma crítica entre os selenators sobre o esforço da artista em divulgar o seu projeto com estratégias assertivas. Entre tanto trabalho exigido na série que Gomez tem gravado, “Only Murders In The Building”, o programa de culinária “Selena+Chef”, bem como a empresa de maquiagem lançada no último ano, a “Rare Beauty”, talvez algumas ações clássicas para promoção do álbum tenham ficado para trás.
A cantora não realiza apresentações musicais há muito tempo, sua última foi no American Music Awards de 2019, quando sofreu uma crise de ansiedade antes de entrar no palco e acabou desafinando. Sua primeira aparição em uma premiação desde esse episódio foi apenas em 2021, no “Premio Lo Nuestro”, e não houve uma performance gravada ou ao vivo, apenas a exibição de um clipe alternativo para “Baila Conmigo”.
A artista também não tem realizado uma agenda plural de entrevistas, até o momento só concedeu seu tempo para a Vogue americana, bem como o programa de Zane Lowe para a Apple Music e um quadro do Spotify. A imprensa latino-americana não foi, até o momento, incluída em seu cronograma. Ocorreu algo muito semelhante na era “Rare”.
Na mais recente entrevista à Vogue, Gomez admitiu que pensa em se aposentar da música. “É difícil continuar fazendo música quando as pessoas não levam você necessariamente a sério”, desabafa ela. “Tive momentos em que fiquei tipo, ‘Qual é o ponto? Por que continuo fazendo isso?’”, continua, relembrando alguns dos seus últimos trabalhos com o álbum Rare, lançado no início de 2020.
“‘Lose You to Love Me’, para mim, foi a melhor música que já lancei e, para algumas pessoas, ainda não era o suficiente. Acho que há muitas pessoas que gostam da minha música, e por isso sou muito grato por isso, mas acho que da próxima vez que fizer um álbum será diferente. Quero tentar uma última vez antes de, talvez, aposentar a música”, compartilha Gomez.
E, de fato, Selena se arriscou e trouxe ao mundo algo bem diferente. A questão é: será que no mercado musical basta apenas o lançamento de boas composições para alcançar o sucesso?
