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Última Página | Mamute de Sobrevivência Social (Nicole Cardoso/@_niccardoso)

texto por Marcela Ceribelli (@marcelaceribelli)
ilustrações por Nicole Cardoso (@_niccardoso)

Enquanto refletia o que escrever para essa coluna, fiquei pensando o que teria sido definitivo para uma vida mais feliz dos meus tempos “teens” até aqui. A investigação que passou por ter encontrado muito antes roupas que me fizessem feliz e não tentar mudar meu corpo pra encaixar em roupas que não eram pra ele, ter conseguido dizer todos os necessários “não” quando disse “sim” e até um grande arrependimento por ter assinado revistas de dieta logo com 12 anos chegou em um diagnóstico certeiro: se eu tivesse conseguido colocar em modo silencioso algumas vozes internas que moram por aqui, definitivamente teria sido um trajeto bem menos turbulento.

O desejo de agradar a sua tribo vem muito antes de nos dividirmos entre se amamos Taylor Swift, K-POP ou Juliette: estamos falando sobre 50.000 ac, e que sobrevivência social foi uma questão de evolução da espécie. Mas como os timings da vida nunca parecem estar muito certos, esse nosso mesmo corpo veio de lá pra cá com essa mesma crença: agradar a todos da sua tribo para sobreviver. Só não contavam com o Twitter, correto?

Mas trazendo para a minha pequena perspectiva pessoal, nunca foi sobre agradar muita gente, foi sobre uma voz infernal que me dizia que eu não estava agradando um público imaginário que eu não saberia descrever nem quem são. No texto genial de Tim Urban, ele chama essa voz de “Mamute de Sobrevivência Social”.

O mamute é aquela voz interna que ridiculariza a ideia que você teve no banho, que te impede de postar a foto porque pode não ter likes suficientes, porque alguns pais se importam demais sobre a escolha de carreira dos filhos e porque alguns filhos se importam demais com a opinião dos pais. É o que pode te fazer perder vivências, uma carreira que te traz felicidade, relacionamentos mais leves pelo simples fato de ter medo sobre o que aquilo vai dizer sobre você.

Glennon Doyle, em seu maravilhoso livro Indomável, diz que nós mulheres esquecemos como ser quando aprendemos a agradar. Todas nós já estivemos lá, sentir que estamos agradando traz conforto e acolhimento como um abraço de urso. Só que quando estamos fazendo isso, passando por cima das nossas verdadeiras vontades, esse urso começa a ficar um pouco pesado, pouco macio e… putz, dá pra sair de cima de mim?

Geralmente pessoas que estão com o volume das cruéis vozes internas muito alto são aquelas que precisam pedir muitas opiniões sobre qualquer decisão que vão tomar. Hoje eu sei que quanto mais eu me arrisco a tomar decisões sem pedir muitas opiniões, mais me sinto em um caminho certo. Mas é um laboratório, digamos que eu fui molhando meu pezinho na água, depois entrei até a cintura e hoje me sinto muito bem mergulhada.

A verdade é que muitas vezes estamos pedindo opiniões não só porque estamos em dúvida mas porque não queremos que aquela decisão seja julgada no futuro. O fórum de opiniões para direcionamentos sobre a nossa vida também serve como blindagem para nos certificarmos que estamos vivendo uma vida de acordo com a expectativa alheia.

Como o mesmo Tim Urban fala em seu texto sobre mamute: qualquer pessoa que desaprova quem você é ou o que está fazendo nem mesmo está na mesma sala que você 99,7% do tempo. É um clássico e gigantesco erro fantasiar versões das consequências sociais futuras bem piores do que o que realmente acaba acontecendo – o que geralmente não é nada.

Hoje, eu crio um verdadeiro debate com pensamentos absurdos que passam por aqui me fazendo uma pergunta simples “eu posso ter certeza disso?” porque na boa, hoje eu só tenho tempo para sofrer por aquilo que eu tenho certeza e não existe voz dentro de mim que fale mais alto que aquilo que eu posso sentir.

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Última Página | Mamute de Sobrevivência Social (Nicole Cardoso/@_niccardoso)

Marcela Ceribelli

CEO e Diretora Criativa na Obvious. Podcaster no “Bom Dia, Obvious“.

Instagram: instagram.com/marcelaceribelli

Nicole Cardoso

Ilustradora e pesquisadora de literatura infantil e juvenil, maternidade e cultura pop.

Instagram: instagram.com/_niccardoso/
Contato: ilustranic@gmail.com

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