Durante certo tempo, tive uma visão deturpada de Taylor Swift. Ela sempre foi uma grande referência no mundo da música para mim, disso eu não posso negar. Cresci acompanhando os grandes hits da sua carreira, me identifiquei com algumas faixas como Fifteen e Mean e ainda me iludi achando que iria encontrar meu Romeu ao escutar Love Story. Mas enquanto ouvia Fearless durante a adolescência, não entendia direito todo o sucesso por trás daquela garota do country que ganhava a categoria de Álbum do Ano no Grammy com apenas 20 anos.
“Quando ‘Fearless’ ganhou o Álbum do Ano no Grammy e eu me tornei a mais jovem artista solo a ganhar o prêmio. Com essa vitória vieram críticas e reações em 2010 que eu nunca tinha experimentado antes como uma jovem artista. De repente, as pessoas duvidaram da minha voz para cantar, era forte o suficiente? Eu estava um pouco arrogante? De repente, eles não tinham certeza se eu era a única escrevendo as músicas, porque às vezes no passado eu tinha co-escritores na sala”, afirmou Swift ao ganhar o prêmio de Mulher da Década pela Billboard em 2019*.
Mas hoje, com o lançamento da regravação desse disco tão importante da trajetória da cantora, ouvir o nome Taylor Swift traz uma conotação completamente diferente na minha cabeça. Algo que precisei trazer um olhar crítico ao longo dos anos e desconstruir aquela ideia de que o trabalho de Taylor podia ser resumido apenas como histórias de uma adolescente que só escreve músicas sobre términos de relacionamento e que já teve muitos namorados.
Confesso, houve um tempo que cheguei a questionar se essa não seria uma possível definição para falar sobre Taylor. Cheguei a questionar a postura dela durante os conflitos com Katy Perry e ainda, de certa forma, fui inserida nessa cultura que, ora rivalizava ela contra outras mulheres, ora desmerecia o impacto que ela tem na música. Mas não demorou muito para eu entender que essa visão estava completamente errada.
“Naquela época, eu não conseguia entender por que essa onda de críticas duras tinha me atingido com tanta força. Eu acredito que uma manchete popular naquela época era, ‘A Swift Backlash’ […] E agora eu percebo que isso é exatamente o que acontece com uma mulher na música se ela alcança sucesso ou poder além do nível de conforto das pessoas. Agora espero que, com as boas notícias, surjam algum tipo de resistência. Mas eu não sabia disso até então”, continuou a cantora durante o discurso.
Assim como Taylor, fui crescendo e tendo esses questionamentos importantes. Principalmente, me perguntando: por que, depois de tudo que ela já alcançou, continuam subestimando Taylor Swift? Acredito que foi com essa indagação que surgiu em mim uma faísca para me tornar uma fã assumida da artista. Sim, preciso deixar claro que esses meus pensamentos que tive durante a adolescência já mudaram muito e, assim como outros swifties, já apelido Taylor carinhosamente como a própria indústria da música.
Miss Americana/ Netflix pic.twitter.com/ccAzgjjgkC
— todateengaleria (@todateengaleria) April 8, 2021
Mas os anos se passaram e eu ainda tenho essa pergunta em minha mente. Como ainda subestimam o talento dela? Você pode não ser fã dela ou simplesmente não curtir o tipo de música que ela faz. E está tudo bem. Só que subestimar o impacto que ela tem na indústria e na vida de tantos fãs, não é algo aceitável.
Ao regravar seu catálogo em 2021, Taylor mostra que está ainda mais destemida do que nunca. Ela consolida sua figura como uma mulher poderosa e que vai atrás daquilo que mais valorizou ao longo de sua trajetória: a música. A cantora não deixou certos homens – que não valem a pena nem serem citados nesse texto – atrapalharem o caminho para ser dona das próprias composições.
Transitando por diferentes gêneros e genialmente criando o conceitos de eras ao longo da carreira, Taylor sempre usou das canções para compartilhar experiências e sentimentos, criando uma conexão única com o público. E acredito que ter essa base de fãs que se importa e quer ouvir muito o que ela tem para contar, a ajudou a enfrentar muitas das situações complicadas que vivenciou.
Mas até Taylor ressalta que, para se manter na ativa, existe uma necessidade de se reinventar constantemente e outros inúmeros requisitos que homens na música não precisam enfrentar. “Nos últimos 10 anos, tenho visto mulheres nesta indústria serem criticadas, avaliadas umas pelas outras e escolhidas por seus corpos, suas vidas românticas, sua moda, ou você já ouviu alguém dizer sobre um artista homem, eu realmente gosto suas canções, mas não sei o que é, há apenas algo nele que eu não gosto? Não! Essa crítica está reservada para nós!”, pontuou Taylor ainda no discurso de aceitação do prêmio da Billboard.
“As artistas femininas dominaram esta década em crescimento, streaming, vendas de discos e ingressos e aclamação da crítica. Então, por que estamos indo tão bem? Porque temos que crescer rápido. Temos que trabalhar muito, temos que provar que o merecemos e temos que superar nossas últimas conquistas. Mulheres na música, no palco ou nos bastidores, não têm permissão para navegar. Somos mantidas em um padrão de sentimento mais elevado, às vezes impossível. E parece que minhas colegas artistas aceitaram esse desafio e o aceitaram.”
“Parece que a pressão que poderia ter nos esmagado nos transformou em diamantes. E o que não nos matou realmente nos tornou mais fortes. Mas precisamos continuar defendendo as mulheres nos estúdios de gravação, atrás da mesa de mixagem, nas reuniões, porque ao invés de lutar para ser levadas a sério em seus campos, essas mulheres ainda estão lutando para ter a chance de estar na sala”, completou.
E parece que Taylor vai continuar lutando para conquistar o que tanto valoriza e ainda servir de exemplo para muitas mulheres na música. Ainda bem que, agora, eu tenho a oportunidade de acompanhar ela crescendo com essa visão e continuar admirando seu trabalho por muito mais tempo.
They never see it coming what I do next
This is how the world works
You gotta leave before you get left
Eles nunca se dão conta do que eu faço depois
É assim que o mundo funciona
Você tem que abandonar antes de ser abandonada
(I Did Something Bad, reputation – 2017)
*Caso você queira conferir o discurso completo de Taylor ao aceitar o prêmio de Mulher da Década, é só dar o play abaixo – vale muito a pena!