texto por Isabelle Costa (@avalancheliteraria)
ilustrações por Thais Menezes (@thamenezes.s)
Apaguei e reescrevi essa frase várias vezes. “Será que vale mesmo a pena escrever sobre isso?”, eu pensei. “Será que não daria pra evitar: me proteger?” — proteger esse pedaço de mim que perde o sentido toda vez que dito em voz alta, toda vez que chamo alguém e digo, mesmo sem dizer, “Ei, essa sou eu. Vem me ler”.
O tempo me encara de perto, e não é de hoje. Em escala decrescente, depois de desenvolver uma doença rara, meu maior medo nunca foi acordar e ver no espelho um rosto diferente, sempre foi que um dia eu olhasse pro lado e percebesse que era insustentável o nosso combinado: que pra sempre é só um jeito bonito de dizer que as coisas vão durar por bastante tempo, mas que, inevitavelmente, elas acabam também.
Se apaguei e reescrevi a frase que dá início a esse texto tantas vezes, é porque escrevendo entendo a dimensão dos sentimentos: se consigo dizer com palavras, e faz sentido, então, pronto, é real. E, toda vez que o lápis tocava no papel, não me escapava a sensação de que esse é o começo de um final — pelo menos dentro de mim.
Não sei de quem foi a culpa — se a culpa é de alguém, na verdade, ou se só aconteceu. O que eu sei é que em algum momento algo que era muito, e era tudo, e era importante, deixou de ser. E o que a gente não vê, o que deixamos passar porque estamos ocupados — e agora a gente sempre tá —, é o que faz as histórias serem diferentes. É o que teria feito você entender.
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