Você sabe o que fazer com aquela calcinha ou sutiã sem uso? Por conta de estarem velhas ou danificadas de alguma forma, as roupas de baixo geralmente são as primeiras peças jogadas no lixo durante a famosa organização do guarda-roupa. Contudo, o fato desses itens terem perdido sentido para você, não significa que eles também perderam propósito no mundo.
Buscando agregar valor no que antes seria lixo, o projeto de reciclagem “Reciclar para reinventar”, da marca Leninha, recolhe descartes de calcinhas, cuecas e sutiãs em qualquer estado de conservação e os transforma em recheio de almofada. Maria Antonia Paschoal, jornalista e co-fundadora da marca de roupas de baixo, explica que a iniciativa nasceu do incômodo de colocar “mais peças no mundo e não existir uma solução para elas ao final da vida útil de calcinhas e sutiãs”.
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A princípio, Maria conta que a ideia era encontrar alguma parceria para reciclar as peças, tendo a marca apenas como um ponto de coleta. Foi apenas depois de muita pesquisa com o co-fundador e sócio da marca, Miguel Aidar, que foi possível chegar ao formato atual do projeto.
“Descobrimos que não existe no mundo alguma iniciativa de reciclagem dessas peças que cuide do descarte do começo ao fim. A maioria das iniciativas, repassa esses descartes para lugares especializados em reciclagem que transformam as peças em matéria prima para outras indústrias (como para revestimento de carros ou revestimentos acústicos) ou doam essas peças”, comenta a jornalista.
Assim, o projeto leva em conta toda a cadeia do descarte, do início ao fim do processo. Para a idealização de cada etapa, Maria Antonia pontua os obstáculos em lidar com a reciclagem com roupas de baixo: “A grande dificuldade de reciclar calcinhas, cuecas e sutiãs é que são tecidos muito pequenos compostos por muitos materiais misturados, o que impossibilita que esse descarte volte a ser um tecido novamente, como é o caso de tecidos 100% por algodão, por exemplo”.
“Outra premissa importante que consideramos é que o resultado dessa reciclagem deveria agregar valor ao que antes seria lixo. Para gente, não faria sentido chegar a um resultado que tivesse igual ou menor valor aos descartes”
Depois da higienização em uma lavanderia especializada em lavagem de material hospitalar, os descartes são transformados em recheio de almofada. A jornalista explica que a ideia surgiu de uma inspiração que teve em pessoas que já faziam o mesmo com pedaços de tecidos sem uso:
“Fizemos alguns testes e o resultado que tivemos nos deixou bastante satisfeitos: a almofada fica mais durinha, remetendo à um futon e, além disso, substituímos a espuma de poliuretano que é extremamente poluente e ainda é muito utilizada como enchimento de travesseiros e almofadas”.
Além de ressignificar as roupas de baixo pela reciclagem, a inciativa da Leninha ainda fomenta outros núcleos econômicos. Os detalhes das almofadas foram pensados junto ao coletivo de costureiras Flor de Cabruêra, que incentiva a sustentabilidade por meio do upcycling. “Elas desenvolvem bolsas, mochilas, sacolas a partir de banners e outros materiais que iriam para o lixo. Dentro do nosso projeto, elas são as responsáveis por cortar e costurar nossas almofadas”, explica Maria.
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Por fim, cada almofada ainda carrega bordado feito pelas mães do ACTC – Casa do Coração, Associação de Assistência à Criança e ao Adolescente Cardíacos e aos Transplantados do Coração.
“A fundação existe há mais de 25 anos e atende crianças e adolescentes que apresentam quadro clínico de cardiopatia grave, oferecendo hospedagem, alimentação e atendimento interdisciplinar para pacientes não residentes na cidade de São Paulo, beneficiárias do Sistema Único de Saúde, em tratamento nos principais centros médicos que atendam alta complexidade. Dentro da Casa foi criado o projeto Maria Maria, que proporciona às mães que estão acompanhando o tratamento dos seus filhos vivências com o bordado e outras formas de artesanato. Para elas, o bordado é uma forma de traçar novas perspectivas, além de ajudar em suas despesas em São Paulo, uma vez que estes bordados são vendidos”, compartilha.
“Assim, nossas almofadas carregam um pouco da história de cada uma dessas mulheres que participam desse processo e, o que antes seria lixo, transforma-se em um novo objeto recheado de valor e significado”
Com mais de um ano de existência, o projeto já recolheu 2500 peças – sendo que, no mesmo espaço de tempo, a marca produziu cerca de 4000 peças.
“Nosso projeto de reciclagem ajuda a mitigar os impactos da nossa produção. As almofadas estão sendo produzidas e serão vendidas em nossa loja e todo o lucro será reinvestido no projeto […] A nossa ideia é que reciclagem faça parte do nosso negócio, então, enquanto existirmos, reciclaremos roupas de baixo em qualquer estado de conservação”, comenta Maria.
como participar
Por conta da pandemia, a caixa postal foi a forma mais segura encontrada pela marca para recolher os descartes. Dessa forma, caso você tenha interesse em participar do projeto de reciclagem, a Leninha está recebendo peças de todo o Brasil atualmente.
Confira abaixo todas as informações para o envio:
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quem é a leninha?
“Leninha é o apelido da minha avó e, desde pequena, acompanho seu desfile de camisolas nas noites de férias no Rio de Janeiro. A minha avó animada, moderna e com camisolas incríveis é a inspiração da marca. A Leninha nasceu quando eu e meu sócio nos juntamos para cortar e costurar mais de 600 calcinhas. A partir daí, elaboramos o conceito, passamos a produzir mais peças e entender cada vez mais as necessidades do mercado de roupas de baixo. Queremos que as mulheres usem roupa de baixo assim como a minha avó: para elas mesmas. Hoje, produzimos todas as nossas peças em seis tamanhos, vestindo com conforto mulheres do 36 ao 54, sem aro e nem bojo”, explica Maria Antonia.