Quem ainda associa as mulheres a uma parcela pequena no universo gamer tá bem equivocado. Segundo Pesquisa Game Brasil, divulgada em 2020, 69,8% do público dos jogos eletrônicos são do sexo feminino. Ou seja, somos a maioria!
A crescente conquista de espaços nos últimos anos está ajudando a mudar o cenário tradicionalmente dominado pelo sexo masculino. Qualquer área profissional ou até mesmo de entretenimento é capaz de despertar o interesse de qualquer um, sejam homens ou mulheres. Mas nesse último caso, a atuação vem acompanhada de uma enxurrada de julgamentos sexistas, e pior ainda, assédios.
Um estudo realizado na Universidade de Alicante, na Itália, mostrou que mulheres recebem dez vezes mais comentários negativos em relação a homens. Contatado pela todateen, o Dr. Victor Kurita, especialista na saúde física e mental de gamers, explica as motivações por trás dessas ações.
São tentativas de demonstrar poder de forma violenta, exercer intimidade verbal e/ou psicológica e até repetir comportamentos vistos em casa e ambientes externos. Isso tudo pode até explicar, mas o hate online continua sendo injustificável.
“O bullying vai se mantendo e a possibilidade de fazer isso através de telas de computador é mais fácil porque a pessoa não se expõe. É uma necessidade egocêntrica.”, explica.
E nada melhor do que falar com quem mais tem propriedade sobre o assunto, né? Afinal, as gamers estão com tudo! Em entrevista exclusiva com a todateen, a Ana Xisdê contou sobre a sua experiência nesse universo.
Descobrir a paixão pelos games deu início pelo interesse genuíno em artigos eletrônicos. Também por ter nascido na era da internet, com computadores bem acessíveis, os jogos viraram parte do seu dia a dia desde cedo. “Quando eu comecei, eu mesma usava um nome neutro dentro do jogo para evitar assédio, preconceito e não sentir que eu não pertencia àquele lugar, já que não conhecia outras como eu. Hoje crescemos muito, não é tudo perfeito ainda, mas é indiscutível o quanto evoluímos”, lembra.
Ela conta que logo na primeira vez que foi contratada como apresentadora profissional, uma das pessoas da equipe agia de forma machista, não seguia nenhuma mulher em rede social, não ficava em roda de conversa se tivesse uma mulher nela. Algumas vezes chegava até a tentar incomodar Ana para fazê-la se sentir mal enquanto estava trabalhando.
“Foi uma situação completamente horrível e que me feriu por muito tempo, ainda mais que essa pessoa continuou trabalhando normalmente mesmo com tudo isso”, conta.
Há um tempo, Ana dividiu a situação durante uma entrevista e foi procurada pelo indivíduo em questão, que acabou se desculpando. “Hoje eu conto essa história como uma superação e exemplo para muitas outras mulheres. Eu só tive esse pedido de desculpas porque não deixei o que ele fez comigo no passado me afetar, eu cresci e não desisti, até que ele não pode mais me ignorar e veio se desculpar”, confessa.
Por outro lado, ela acredita que se não tivesse espalhado a história ao ponto que chegasse em quem a causou, ele nunca saberia o quão horrível foi. Mas vale ressaltar que a chave para a mudança é uma responsabilidade masculina, já que a mudança de comportamentos opressores e descontinuidade de reproduzir falas machistas deve vir deles.
Uma ação que Ana faz questão de impulsionar é ajudar e apoiar outras mulheres que estão tentando crescer nesse nicho do mercado.
Por fim, é muito importante lembrar da própria força e não deixar que comentários negativos e ódio gratuito te façam desistir. Lidar com a situação é algo individual, que vai de cada uma, mas é bacana lembrar de que somos a maioria.
“Como você costuma lidar com as dificuldades em um jogo, por exemplo? As enfrenta? Chora? Precisa conversar? Tirar um tempo pra você? Se distrair? Entenda o que funciona melhor pra você e use a seu favor! O universo online faz parte das nossas vidas hoje, então fugir é impossível, vamos entender como podemos lidar com isso e encontrar outras pessoas para nos espelhar e apoiar!”, finaliza.