Por que a demora para lançar o “Clichê Adolescente”, já que se outro álbum havia sido lançado em 2000?
Durante esse tempo, eu lancei alguns singles. Mas aconteceram algumas mudanças em mim mesma ao longo desse período. No primeiro CD, foi o meu primeiro contato com o mundo da música. Eu estava no colégio, saí do colégio e me tacaram em um estúdio. Eu tinha as minhas músicas, que eu compunha desde os meus 13 anos, entreguei para o Rick (Bonadio, produtor do primeiro álbum de Manu) e disse: ‘É isso o que eu tenho’. Então, foi muito mais um lance de experiência, de aprendizado, sabe!? E o Rick me ajudou muito. Mas, depois de um tempo, eu fiquei meio perdida no que eu tinha de fazer. Eu tinha as minhas músicas, mas tinha toda aquela preocupação de mercado, de ‘a Manu tem de fazer isso’. E eu nunca trabalhei assim, sabe!? Eu sei muito bem o que é música para mim e o que sempre foi. E queria continuar com esta mesma essência. Não queria fabricar músicas, porque vai contra tudo o que eu acredito. Então, eu tive esse tempo para pensar no que eu queria.
Durante este tempo, você se perguntou se era realmente cantora, se era o que realmente queria fazer?
Eu me perguntava muito por que alguém iria querer ouvir uma música sobre a minha vida. E, daí, eu comecei a ver que as músicas de que eu gostava eram autobiográficas. Comecei a ouvir a Taylor Swift e falei para mim mesma: “caramba, eu posso fazer isso, eu gosto disso”. Descobri que era esse o meu lance. Porque a adolescência é a fase mais intensa da vida, você ama, morre, chora por alguém e no outro dia você nem se lembra mais quem era. É uma fase muito intensa. E eu acho muito legal poder fazer parte da vida dessas meninas nessa fase da vida.
No seu primeiro CD, há músicas que foram compostas quando você tinha, 13, 14, 15, 16 anos. E, agora, são músicas que você compôs mais velha, com 18 anos. Como foi esse processo? Você se assustou um pouco com que compôs agora?
Foi um processo natural de crescimento, porque, durante esses quatro anos, eu segui compondo e escolhi as músicas de que mais gostava para entrar no CD. Mas, ouvindo agora o primeiro e o segundo CD é que eu vejo a diferença. “Caramba, eu escrevi uma música sobre essa situação, sobre a qual eu nunca escreveria hoje ou não escreveria desse jeito ou escreveria dessa maneira.”
Teve vergonha ou se censurou em algum momento por, em alguma música, falar de algo muito pessoal?
Em nenhum momento. Às vezes, eu até achava: “Nossa, isso eu não vou ter coragem de lançar, o menino vai me ligar…”. Mas eu pensei: “Cara, é isso o que eu mais sei fazer, é o que eu gosto de ouvir”. Eu gosto de uma música quando ela conta os detalhes, quando me faz me sentir lá, eu gosto disso.
Alguém te ligou para falar sobre alguma música?
Já me ligaram…
Você teve de se justificar?
Bom, sabiam muito bem aonde estavam se metendo… Não posso fazer nada!
Todas as músicas são de sua autoria, com algumas parcerias. De onde vem esse repertório? Foi difícil chegar às 12 canções que estão no “Clichê Adolescente”?
Não foi difícil. As 12 músicas do disco são basicamente as últimas que eu tinha escrito. A escolha foi bem natural. A escolha de repertório não foi problema. Todo o resto, esse lance de achar minha cara, de ter demorado para lançar e de fazer e refazer, de gostar e de não gostar, de descobrir quem eu era nesse meio tempo, deu muito mais trabalho.
Você tem algum ritual para compor? Precisa estar em um completo silêncio…
Em um quarto branco…
Em um quarto branco, ouvindo uma música especial…
Não, não tenho. Mas tem algumas coisas que despertam esse meu lado compositora. Eu nunca sentei e disse a mim mesma: “vou escrever uma música agora.” Para mim, sempre foi um lance que vinha, naturalmente, que eu precisava desabafar quando estava à flor da pele. Eu admiro muito quem tem essa capacidade de parar e decidir compor uma música, assim, do nada. Eu nunca fui assim.
Você guarda essa ideia ou precisa colocar a letra no papel na hora?
Baixa um negócio. Já escrevi no avião, gravando o áudio baixinho, sentada…
Você ainda escreve em diário?
Eu não tenho diário do tipo “querido diário, hoje eu…”, mas eu gosto de escrever em caderno. No computador, é quando a música já está pronta. Mas, para escrever, para ter ideias, eu preciso rabiscar, escrever de novo, trocar de página, rasgar, chorar no caderninho, várias coisas…
A gente gostou muito de “Cicatriz” e “Segredo”, na qual você faz um dueto com o Chay…
“Segredo” foi uma música um pouco diferente do que estou acostumada a fazer, pois eu gosto de colocar detalhes do que estou vivendo com a pessoa, de um relacionamento, enfim. E ela é uma música mais geral, de amor, de estar apaixonado. Eu gosto dela por essa simplicidade. E era uma música, que, quando eu compus, eu mostrei para o Chay, e a gente tocou junto na hora, ele sempre cantava comigo, inclusive em reunião com amigos e com a família. Então foi bem natural ter a participação dele no CD.
“Cicatriz” é uma das músicas mais tristes do CD, foi a mais difícil de gravar, pois eu a gravei enquanto eu ainda estava passando pela situação. Você está lá, querendo esquecer o que passou, e ainda tem de cantar com emoção no estúdio. Então, eu tive de gravar várias vezes. Eu acredito que, em qualquer relacionamento, as pessoas deixam uma marquinha na nossa vida. Quando elas nos decepcionam, deixam uma cicatriz. É sobre isso essa música.
Outra música muito bacana é a “Eu Dou Risada”, com várias referências pop e de lugares de São Paulo.
É a que eu mais gosto (risos)… “Eu Dou Risada” foi uma música que eu escrevi logo após ter encontrado um ex-namorado em uma balada da rua Augusta, em São Paulo. Eu estava lá e encontrei aquela pessoa que eu nunca esperava encontrar, e eu cheguei em casa mal, mal, mal, mal. Sabe aquele lance de encontrar ex-namorado e você não sabe se você fala “oi”, se ela vai virar a cara, se ela fingiu que não te viu, aquela situação desconfortável. Era um menino que estava me fazendo muito mal, sabe!? Era uma relação muito conturbada, eu sentia que ele era muito egocêntrico. Eu sempre gostei de música pop, e ele achava que o que eu gostava não era bom, que eu tinha de ouvir coisas mais alternativas. Era uma situação que me cansava. E essa música é justamente sobre isso.
Nos agradecimentos tem vários recadinhos, mas chamou atenção o que diz “obrigada aquele que me arranca versos e mais versos com nosso amor perfeito cheio de defeitinhos”. O que é um amor perfeito pra você? Esses defeitinhos ajudam a deixar o relacionamento mais emocionante e maduro?
Um amor perfeito é aquele cheio de defeitinho. Primeiro porque não existe um relacionamento perfeito. Segundo, você cresce muito com esses pequenos conflitos que tem no dia a dia, você cresce com essas imperfeições que existem nas pessoas, tanto em você quanto na pessoa com quem está namorando. Eu gosto de conflito, de discutir, de ser intensa…
Ou seja, você gosta de sofrer um pouco, né? (risos)
(Risos) Eu tenho esse lado Adele aflorado demais (risos). Mas, enfim, eu tento levar o meu relacionamento da melhor maneira possível. Mas eu acho que nenhum relacionamento é perfeito, mas tem que saber aproveitar os conflitos que você vai ter no dia a dia, porque vocês são pessoas diferentes, foram criadas de maneira diferente, muitas vezes você se projeta na outra pessoa e acha que ela deveria fazer tudo o que você faria. Eu acho que aproveito esses conflitos e essas diferenças para o meu trabalho. Eu gosto muito de falar sobre isso.
Como encara a responsabilidade de influenciar os adolescentes, sendo também muito jovem?
Logo quando eu lancei o primeiro CD, as pessoas perguntavam muito sobre isso, mas eu não entendia muito bem, porque eu achava que, na verdade, a Sandy e a Katy Perry, por exemplo, eram as referências para os meus fãs. Mas, depois, você percebe que é sim, pois começa a fazer parte dessas pessoas na fase mais intensa da vida delas. Provavelmente, elas vão se lembrar para sempre de você e da fase que elas cresceram junto com você. Já recebi cartas de mães falando “pô, obrigada por ser exemplo para a minha filha. A minha filha ganhou o seu CD e agora ela quer também viver de música, quer correr atrás do sonho dela.” Isso me deixa morrendo de medo, pois eu sou uma ótima menina, mas tenho 21 anos e, em algum momento, eu vou fazer alguma coisa errada e as pessoas vão ver. Eu tento passar uma mensagem boa. Eu tenho uma relação bem próxima com as minhas fãs, principalmente por meio das redes sociais, e vejo que elas estão passando por várias coisas novas e crescendo junto comigo.
Com o sucesso e o reconhecimento do público, uma dupla sertaneja gravou uma música sua. Como foi ouvir sua canção na voz de um outro cantor, no caso uma dupla sertaneja, que deu uma nova roupagem para “Planos Impossíveis”?
Foi bizarro, porque eu vi o vídeo deles… “Gente, esses caras estão cantando uma música que uma menina de 14 anos fez.” Eu me lembro muito bem da época em que a escrevi e porque eu a escrevi. Então é muito estranho ver dois homens cantando e fazendo sucesso. Minhas amigas vão a baladas sertanejas e me mandam vídeos de quando a música toca nas festas. Eu, como compositora, me sinto muito honrada em saber que outros artistas queiram gravar as minhas músicas.
Como é a Manu amiga das amigas?
Eu sou a conselheira, adoro ouvir problemas, dar minha opinião. Se precisar chorar, desabafar, pode ligar para mim. Eu sou esse tipo de amiga. E sou aquela que fala a verdade doa a quem doer. Vai chorar, mas depois vai passar, vai ser melhor.
Todo o mundo também acompanha o seu namoro com o Chay Suede. Vocês são bastante companheiros. Ele seria o “garoto perfeito” para a Manu?
Com certeza não, pois nenhum garoto é perfeito, nenhuma pessoa é perfeita. É muito estranho falar “ah, meu namorado é perfeito”. Ele é perfeito para mim, acho que a gente se dá muito bem, a gente é parecido em vários aspectos, temos uma relação muito bacana. Tenho uma identificação musical muito grande com o Chay, eu realmente o admiro como cantor e compositor. Eu falo para ele: “Amor, não é porque a gente namora, mas, se a gente não namorasse, eu iria comprar o seu CD”.
Como está sendo para você fazer uma novela das nove?
Eu não falava em entrevista, pois não vinha ao caso. Bom, meus pais eram atores, eles se conheceram em uma companhia teatral em Campinas (interior de São Paulo), viajavam bastante e acabaram se apaixonando. Minha mãe fez faculdade de artes plásticas, e meu pai continuou nessa carreira artística. Então, eles sempre influenciaram essa veia artística dentro de casa. Há um ano, eu percebi que sentia falta de correr atrás de atuar, algo de que gostava também. Aí, eu comecei a ligar para amigos de amigos, pedindo para fazer teste. Até que falei com Zeca Bittencourt, que é um cara de elenco daqui de São Paulo da Globo, que gostou da minha cara de pau. Fiz três testes para “Em Família” e fui chamada para fazer a novela. Estou aproveitando cada segundo.
Andando pelo Projac, na Globo, quem você já encontrou e pediu um autógrafo?
Eu tietei o Mateus Solano. Eu estava com o Nelson Baskerville, que fez o pai do Mateus Solano em uma outra novela do Manoel Carlos (“Viver a Vida”, de 2009). Daí, estávamos eu, o Ronny e o Nelson, quando encontramos o Mateus. O Mateus disse: “olha o papi soberano”. O Nelson, então, apresentou a gente, o Mateus perguntou da novela, foi supersimpático. Foi aí que eu disse: “Ai, Mateus, posso ser muito, muito, muito chata com você e pedir uma foto?”. Ele disse: “Muito chata você não pode ser, mas tirar foto, você pode tirar quantas quiser”. Ele foi muito fofo.
Existe alguma chance de uma música sua entrar na trilha sonora da novela?
Sim. Ainda não sei se será preciso compor uma música inédita para a personagem ou se vai ser uma música do CD.
Qual a música do “Clichê Adolescente” tem a cara da Paulinha?
Acho que “Segredo”, porque é um casal todo romântico.
Tem alguma peça que não pode faltar no seu guarda-roupa?
Eu gosto muito de saia longa, acho que cabe em qualquer situação, e também de bota Doctor Martens. Agora que estou me jogando na rasteirinha, pois no Rio de Janeiro é muito calor, um calor que nunca vi igual na minha vida.
Como é morar no Rio de Janeiro?
Eu nunca fui de praia, fugia da praia. Sou uma menina da cidade, do concreto, da rua. Gosto muito de São Paulo. Então está sendo uma processo de adaptação. Claro, é lindo você acordar e ver o mar, é uma paisagem linda.
Entrevista: Alan de Faria/Colaborador
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