Sabe aquele ditado, “você não precisa caber na roupa, a roupa que deve caber em você”? Vamos começar por aí. Durante muito tempo, parte da indústria da moda reforçou padrões corporais e estéticos que segregaram as mulheres a um entendimento de beleza. Muitas vezes, abrindo mão do próprio bem-estar, o público feminino ficou refém de um vestuário que não priorizava o conforto.
Corpetes, salto alto e sutiãs são alguns exemplos disso, apesar de hoje haver opções mais aconchegantes. Vale lembrar que, claro, muitas mulheres ainda aderem às peças e se sentem bem dessa forma. Afinal, o vestuário deve ser algo de escolha própria e não algo imposto. Cada mulher é dona de si.
Com o fortalecimento de movimentos empoderadores e a consequente rejeição aos padrões estéticos, o desprendimento dessa estética sob medidas impulsionou a pluralidade no mundo da moda. Surgiram tendências como loungewear e athflow, que inserem roupas mais confortáveis no dia a dia, sem perder a elegância.
Em entrevista para a TodaTeen a artista empreendedora, Lela Brandão, também dona da marca de roupas confortáveis Lela Brandão Co., comenta sobre a ascensão desse nicho na moda e a importância que ele tem para as mulheres.
“Para mim, moda confortável é aquela que a gente não tem vontade de tirar quando chega em casa. É a moda que entende que deve respeitar o nosso corpo, e não machucar, apertar, incomodar, limitar nossos movimentos. Sabe aquela peça do seu armário que quando você veste, você se sente abraçada, acolhida, livre? Agora imagina se todo o seu armário fosse assim?”, opina.
O estilo que cresceu na pandemia
Segundo ela, um dos principais fatores que popularizou a moda confortável nos últimos tempos foi a pandemia, visto que há uma tendência a priorizar o conforto ao escolhermos o que vestir dentro de casa. Com o home office, o EAD e a necessidade de criar uma rotina no lar, várias pessoas perceberam que ficar de pijama todos os dias não era uma ideia muito produtiva. A partir daí, houve um boom de roupas confortáveis confeccionadas para o uso na rotina.
“Muitas pessoas me mandam mensagem falando que abandonaram aquele jeans desconfortável, sutiã com aro ou até sapatos que machucam durante a pandemia, e que mesmo depois que ela acabar não pretendem voltar a submeter o corpo a peças incômodas”, comenta.
No decorrer de 2020, com a crise da Covid-19 ainda alarmante, Lela começou a planejar a criação de sua própria marca de roupas. Lançada no final do último semestre do mesmo ano, a Lela Brandão Co. traz peças que priorizam o bem-estar e que podem ser usadas em diversas situações, desde um jantar chique até ficar de boa em casa.
“A moda confortável é feita do que eu chamo de roupas adaptáveis. São roupas que acompanham as variações do seu corpo, se você engordar ou emagrecer alguns quilos, se estiver inchada, por exemplo na TPM, e que permitem que você se movimente livremente. E isso pode ser feito de diversas maneiras: calças com elásticos na cintura, malhas que expandem ou com modelagem mais larga no caso de tecidos que não esticam, entre muitas outras pequenas coisas que fazem uma diferença enorme”, conta.
Reflexos limitantes dos padrões
Por outro lado, a artista também aponta que grande parte do mercado da moda pode ser inconsequente e opressor, sobretudo com as mulheres, mas ela reforça que existem saídas. “Acredito que a moda é algo muito grande, e existem vários caminhos e pontos de contato. O que estamos fazendo na Lela Brandão Co. é criar uma moda pensada por e para mulheres reais, com corpos reais”, explica.
A principal motivação para dar início ao negócio vem da ligação de Lela com o assunto. Ao longo da adolescência, passou por momentos muito difíceis, permeados por distúrbios alimentares e dismorfia corporal. Foi por meio das roupas que escolhia que conseguiu encontrar uma forma de fazer as pazes com o próprio corpo. Inspirador!
“Ao priorizar peças que respeitassem e acolhessem minhas formas, sem limitar movimentos, percebi que meu guarda-roupa poderia ser um aliado na construção da minha relação com o meu corpo. E foi assim que nasceu a Lela Brandão Co.! Dá vontade de compartilhar essa forma de se vestir que vai muito além de uma peça de roupa, é uma verdadeira revolução”, conta.
Empoderamento por trás das roupas
Logo em seguida, ela ressalta a importância de peças confortáveis para as mulheres de todas as idades. “Quando a gente constrói nossa autoestima não na estética, mas no conforto, no quanto a gente se sente confortável na nossa própria pele, é muito mais seguro, mais firme. Priorizar a moda confortável é uma declaração de amor pro seu próprio corpo, é dizer “eu te respeito, não vou te submeter a dor e incômodo só porque me disseram que é adequado”. Se eu soubesse disso com 13 anos, não teria passado por tantas coisas difíceis!”, reflete
Já dá para perceber que é um assunto mega relevante, né? Dessa forma, falar sobre isso e compartilhar informações é fundamental para reverberar mudanças em outras mulheres. Questionar e refletir sobre o que estamos vestindo, focando em priorizar a comodidade do próprio corpo com as roupas.
Por fim, Lela entrega alguns conselhos para aprimorar o estilo de roupas no cotidiano. “O primeiro passo é sentar, olhar pro seu armário e refletir. Olhar cada peça e pensar: como eu me sinto com essa peça? Ela deixa que eu sente confortavelmente? Ela me aperta, me machuca em algum lugar? Ela me faz sentir abraçada? Eu usaria essa peça em casa e pra sair também?”, questiona.
“Quando a gente abre os olhos pra essas questões, é muito mais fácil encontrar oportunidades de incluir peças confortáveis no nosso dia a dia. Por exemplo, tem uma camiseta no seu armário que é muito confortável? De que jeitos você pode usar ela? Talvez como um vestido, por dentro da calça, por fora, com uma blusinha de gola alta por baixo, com short ciclista? Meu conselho é: fique atenta as oportunidades de estar confortável em si! Isso pode mudar sua vida”, completa.
