Conversamos com o Projota no lançamento do DVD do cara, 3Fs – Força, Foco e Fé, mas o bate-papo foi bem além do tema música e passou por fãs, consciência política e aprendizados. Vem curtir!
Achei legal a forma como os fãs foram escolhidos pra gravação do DVD, sem venda de convites. Isso já mostra um carinho especial com eles…
Então, é exatamente isso. A gente tem uma relação muito próxima e transparente também. Quando eu fiz meu primeiro DVD, de forma independente, eu consegui fazer o DVD inteiro, confeccionar e pagar por tudo com a bilheteria do show. A gente fez um show em Curitiba, foram 4 mil pessoas, eu voltei pra São Paulo no azul! E, eu não tinha dinheiro pra nada naquela época, comecei o projeto sem capital algum. Agora, nesse momento, com a gravadora do meu lado, com uma estrutura maior, falei “agora é hora de eu devolver para eles isso”, entendeu? E aí a gente fez esse lance, separamos todos os ingressos, todos! – nenhum ingresso foi vendido.
É incrível como você agrega fãs de várias idades, tenha menina novinha que o adora e a mãe dela também… Por que acha que isso acontece?
Acho que a mãe gosta muito porque eu falo de Deus, muitas fãs minhas já me falaram isso. Eu falo muito de Deus em algumas músicas, várias. Meus posts na internet, também. E as mães se identificam, respeitam muito, eu nem falo nas minhas músicas, mas eu não uso drogas, eu nunca usei drogas, não bebo… Mas realmente, muita menina vai no show com a mãe.
Agora me fala do DVD, tem música inédita, tem participações especiais… Como é ver um projeto assim ficar pronto finalmente?
É, deu muito trabalho, o maior trabalho do DVD é porque é com banda, antes e tocávamos só eu e o meu DJ. As músicas inéditas foram quatro, duas são românticas, uma nem tanto porque a Ela Só Quer Paz não é romântica, é uma música que exalta a mulher. Agora a gente acabou de lançar a música Faz Parte, antes do DVD vir mesmo a gente já colocou na internet e ela já está bombando. Lançamos também a Portão do Céu, que é uma música mais política e a Molque de Vila que é uma música que eu falo minha biografia, minha correria pra chegar até onde eu cheguei com a música. Das participações, tem a Anitta. Encontrei ela no Rio de Janeiro e falei “eu quero você no DVD” e ala falou “pô, quero, lógico! Que música que é? Manda a música”, falei “não tenho a música ainda” e ela “tá bom. Confio em você”. Tem também a participação do Marcelo D2, Elas Gostam Assim, que foi uma das músicas mais tocadas de 2015, não tinha como ela não estar no DVD. E aí tem dois amigos meus do rap, que são o Rachid e o Kamal, numa faixa de improviso.
As suas letras são sempre certeiras e têm muito conteúdo. Como surge sua inspiração?
A inspiração vem de tudo. Qualquer coisa. Eu já escrevi no carro, dirigindo, fui compondo a música, escrevo no avião, no aeroporto esperando o voo, em casa, no estúdio, em todo lugar. Não tem um ritual pra compor, entendeu? Eu saco o celular do bolso e começo a escrever ali no bloco de notas mesmo.
A canção Ela Só Quer Paz foi feita pra alguém especial?
É uma música que eu fiz pra exaltar a mulher. A mulher num todo. A mulher de hoje, a mulher moderna. Uma mulher que reflete esse momento que a gente vive, nessa luta do feminismo. Fala da mulher que está cansada de não poder fazer o que ela quer. Uma mulher que pode fazer o que quiser, vestir o que quiser, trabalhar com o que quiser e que está cansada. Nossa, nesses últimos anos está sendo muito doido isso, cada vez mais a gente vê e não é porque piorou agora, é só porque as mulheres estão lutando mais contra isso. E aí é um assunto mais em evidência. Mas isso são fatos que acontecem ao longo de toda a humanidade, né? A mulher é sempre menosprezada, sempre é humilhada, não tem liberdade para fazer o que quer. E eu sou um homem que acredita que deve se posicionar sobre isso, porque os homens tem que mostrar que elas não estão sozinhas nessa luta.
Em Pra Não Dizer Que Não Falei Do Ódio, você diz: “A gente precisa buscar bem mais que dinheiro”. Me fala, quais são seus sonhos que faltam realizar?
Olha, hoje meu sonho é ter filho, cara. Meus sonhos são simples. As coisas materiais que eu conquisto, Deus me deu e se ele quiser tirar, tira, tranquilo, sem problema nenhum. As coisas que eu sonho de fato é cantar, poder continuar cantando, ter gente interessado na minha música e família, formar uma família, ter filho, uma casa com quintal, meus cachorros correndo. É assim.
A gente vive um momento estranho em termos de política. Acho que está até mais do que na hora de os adolescentes se interessarem pelo assunto. O que você diria a essa nova geração a respeito de consciência política?
Meu trabalho é muito voltado aos adolescentes e é importante colocar em pauta assuntos dos quais eles têm que correr atrás. Tenho que expor a minha opinião de forma que não imponha a eles para seguir a mesma opinião que eu. Mas eu tenho sim a obrigação de expor a minha opinião pra que eles peguem o que quiserem e utilizem como quiserem. E eu acho que assim como eu a maioria deles vive um momento onde se sente desemparado, desemparado politicamente, sem um representante lá em cima e sei que a gente está vivendo um momento muito estranho, mas a gente tem que ter muita paciência e continuar dialogando, discutindo e buscando informações. Não é só ficar ali esperando chegar ali no feed do Facebook: tem que ir atrás, porque ali é igual a televisão, a televisão só fala o que ela quer falar e o Facebook só mostra o que os seus amigos estão falando. Você tem que ir atrás, tem que buscar, tem que ler jornal, tem que se informar pra que você tenha base, pra saber de política e poder conversar sobre.
Se você pudesse dividir um aprendizado com as leitoras da todateen, qual seria?
Parece clichê, mas é… acreditar mais em você, sabe? Eu sou um cara negro, de periferia, que atravessou todas as barreiras e, se eu ficasse ouvindo o que a novela diz, o que os clipes refletem, eu nunca estaria onde estou hoje. E hoje o meu objetivo é fazer com que todo moleque igual a mim, negro de periferia, chegue em todo lugar. Então, o meu conselho é: acredite em você acima de tudo! Ouça, sim, as críticas, mas ouça mais o seu coração do que as críticas.
Entrevista: Ana Castilho/colaboradora
Edição: Mariana Scherma