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Acessibilidade e empoderamento feminino: maquiadora faz a diferença com automaquiagem para deficientes visuais

Acessibilidade e empoderamento feminino: maquiadora faz a diferença com automaquiagem para deficientes visuais
Acessibilidade e empoderamento feminino: maquiadora faz a diferença com automaquiagem para deficientes visuais

Diana Barroso (43) é assistente social e sempre carregou a vaidade como uma forte característica de sua personalidade. Desde pequena vestia os sapatos da mãe, amava andar com as peças de roupa combinando e se sentia belíssima ao passar maquiagem. Embora essas sejam tarefas que parecem simples de serem executados no dia-a-dia, uma condição que faz parte da vida de Diana acabava dificultando com que ela conseguisse realizá-las com perfeição: uma deficiência visual.

Com apenas 8 anos, Diana recebeu o diagnóstico de uma doença degenerativa da retina chamada “Doença de Stargardt”, responsável por deixá-la com apenas 5% da visão, conforme os anos foram passando. Em 2012, ela já não conseguia distinguir cores, detalhes e a sua imagem no espelho. Tudo isso acabou afetando o traço de sua personalidade que ela muito valorizava: a vaidade. A maquiagem, por exemplo, precisou ser adaptada e, após esbarrar na falta de pessoas que falassem sobre esse assunto, encontrou uma pessoa que faria toda a diferença nos próximos anos.

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quem faz a diferença

Em 2016, Diana conheceu Themis Briand (35), “Life Encourage”, como a mesma se denomina, que vestiu-se da palavra “empatia” em seu significado mais sincero, a fim de levar acessibilidade e empoderamento feminino à mulheres com deficiência visual. Com uma amiga deficiente, Themis criou o quadro “Beleza Para Todos” em seu canal do Youtube, onde focou na missão de ensinar essas mulheres a se maquiar e garantir que elas tivessem, assim como Diana, sua vaidade de volta.

Como eu não sou deficiente eu nunca tinha parado pra pensar nisso, nessa necessidade que é natural de toda pessoa que gosta de se cuidar, que é a automaquiagem. Eu tenho uma amiga chamada Thais, de infância, que possui baixa visão e eu fui acompanhando isso tudo de perto, toda essa adaptação dela“, conta a maquiadora. “Em 2016 estávamos viajando e ela não estava se sentindo bem. Foi aí que pediu pra eu fazer uma make e levantar o astral dela. No fim ela gostou e o noivo dela falou ‘Amor, você ficou uma gata, devia andar mais assim’. Isso deu um start nela, mas esbarrou na dificuldade visual: como eu vou andar sempre assim sem depender de ninguém?“.

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desenvolvimento de técnicas

Nenhuma das duas encontrou informações sobre o assunto e foi aí que Themis pensou em inovar e ela mesma ser a responsável pelo pioneirismo da automaquiagem para deficientes visuais. Determinada, ela apagou todas as luzes, fechou os olhos e começou a criar técnicas de maquiagem para transmitir à mulheres com essa condição. Quando começou a ver que isso poderia dar certo, passou para o Youtube, onde teve retorno de pessoas do país inteiro.

Eu fui usando só o tato e o olfato, fui sentindo cheiros, texturas, o produto aplicado na pele. Com isso comecei a ver onde faltava produto, se tinha excesso, no caso da sombra, a pele fica mais aveludada e aí para ficar os dois lados iguais eu conto o numero de vezes que eu passo em cada um“, conta.

Fui substituindo o pincel pelo dedo. Ainda sobre a sombra, eu tive um insight de usar aquela fita micropore para delimitar a área do meu olho e aí a sombra não vai vazar, foi uma técnica que deu super certo“. Conforme foi testando, Themis foi descobrindo técnicas para poder passar a seu público tanto em vídeos do youtube, quanto através de cursos presenciais.

Acessibilidade e empoderamento feminino: maquiadora faz a diferença com automaquiagem para deficientes visuais

Themis aperfeiçoou as técnicas e começou a dar cursos presenciais

Acessibilidade e empoderamento feminino: maquiadora faz a diferença com automaquiagem para deficientes visuais

Themis aperfeiçoou as técnicas e começou a dar cursos presenciais

Acessibilidade e empoderamento feminino: maquiadora faz a diferença com automaquiagem para deficientes visuais

Themis aperfeiçoou as técnicas e começou a dar cursos presenciais

Depois do presencial, eu pude ampliar esse meu conhecimento convivendo até com mulheres cegas totais”. Desde 2017, a maquiadora dá cursos presenciais, onde consegue perceber um grande impacto na vida das mulheres com deficiência visual:

O antes e depois delas é transformador elas sentem que são capazes. Você conferir autonomia e independência é muito poderoso, elas começam a sentir que é possível. Elas se sentem bem e bonitas, e sabem que não vão precisar de ninguém, a independência é uma questão muito sensível para quem tem a deficiência”.

a falta da cultura de inclusão: capacitismo é um obstáculo

Themis e Diana evidenciam muito a falta da cultura de inclusão das pessoas deficientes como um grande obstáculo para que haja uma maior acessibilidade tanto de marcas, quanto de pessoas produzindo conteúdo e entendendo o quão importante é dar visibilidade a esse assunto. “As pessoas me falam ‘nossa mas você é tão bonitinha, como é que é deficiente visual?’ como se minha autoimagem não combinasse com a imagem que as pessoas tem com deficientes visuais. Pessoas sempre me questionaram ‘pq você se arruma’? como se eu não tivesse nem mais o direito de ter vaidade“, conta Diana, ao reforçar a figura equivocada que a sociedade nutre.

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E isso faz muito parte de um capacitismo (preconceito com pessoas deficientes) enraizado, que dificulta com que as pessoas acreditem que pessoas com qualquer deficiência possam realizar todas as tarefas do dia a dia. Themis enfatiza que com isso há a falta de vontade em aprender a elaborar produtos mais inclusivos e até mesmo a falta de conhecimento que vendedores possuem na hora de apresentar utensílios de maquiagem para mulheres com deficiência. “Isso não é um assunto muito tratado, nunca falam sobre isso, as marcas não tem esse preparo pra atender esse tipo de pessoa e aí elas ficam inseguras, sentem que não é pra elas“.

transformando o projeto em uma marca para todos

Themis ouvia muito das mulheres que faziam o curso o quanto os produtos não eram acessíveis. Vestindo-se mais uma vez de empatia, ela resolveu ir atrás de fazer seu próprio produto. Em contato com a marca Lab You, a maquiadora desenvolveu um batom carregado de acessibilidade. Todos os batons da linha da life encourager acompanham um QR Code para deficientes visuais, que direciona a um vídeo de Themis, onde conseguem entender a cor, a composição e como passar o produto nos lábios.

As meninas tem amado muito, disseram que resolveu a vida dela (risos). Elas acharam super fácil o método. O batom ainda é vegano e eu coloco todas as informações da composição dele na descrição do vídeo. É o primeiro produto do mundo que elas vão ter acesso fácil“, relata Themis. A maquiadora ainda revela o sonho de ser abraçada por mais marcas e poder fazer ainda mais produtos que possuem acessibilidade.

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“Eu tenho fé de que um dia as marcas realmente vão adotar essa técnica, essa acessibilidade. A gente está aqui desde 2016, vai fazer 5 anos que eu estou nessa batalha para que essa pauta tenha visibilidade. É importante demais dar independência  às mulheres e fazê-las perceber que, independente da deficiência, elas podem tudo.”

Além disso, ela ainda abriu o produto para revenda durante a pandemia, com o objetivo de promover ainda mais a autonomia dessas mulheres, que agora além de terem a chance de consumir um produto pensado nelas, poderão ter uma renda extra com isso.

a importância para o empoderamento e a autoestima

Além de aprender muito com as dicas de Themis, Diana é consumidora do batom e diz que tudo isso realmente mudou sua vida. “Saber me maquiar, saber que eu to saindo de casa e está tudo no lugar, e conseguir ressaltar minha beleza, me enche de autoconfiança. Minha autoestima é como a de qualquer mulher. Como qualquer mulher eu sou empoderada e agora vejo que posso me maquiar”.

Ela ainda ressalta mais a importância da criação do produto acessível: “A gente merece ser incluída como qualquer outra pessoa, ser acolhida, é importante sermos acolhidas em qualquer assunto. Não existe assunto pra quem é e não é deficiente, somos todos iguais, mesmo que cada um com suas especificidades. A gente precisa estar incluído nos ambientes para nos sentirmos participantes do mundo. E o mundo que as mulheres com deficiência visual vivem existe tem muito da maquiagem e da vaidade“.

Com relação às marcas, Diana também aponta a escassez da inclusão:

“Nós não somos incapazes, nos só precisamos de uma adaptação. Há um nicho de mercado que as pessoas ainda não perceberam que é importante. Não tem uma vez que não sou elogiada pela maquiagem que eu não lembre da Themis, essas pessoas fazem a diferença.”

Conheça o grupo de apoio à pessoas com doenças retinianas e familiares, clicando aqui.

 

 

 

 

 

 

 

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