Ler é poder!

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No meu penúltimo texto aqui no blog, falei sobre a paixão pela escrita. Desta vez, provoco vocês a refletirem sobre o outro lado, onde tudo começa: na paixão pela leitura!

Sempre que converso com meus leitores, nas escolas e feiras do livro Brasil afora, pergunto:

– Quem gosta de ler?

Silêncio na plateia.

– Ler por prazer, quem gosta?

Mais silêncio. Eu insisto:

– Gente, gostar de ler não é vergonha, é orgulho, viu? Levanta a mão com vontade, vai!

Finalmente, uma boa parte (em média, a metade do público) estende a mão, empolgada.

Sorrio em alívio. Sim, temos leitores! O mundo não está perdido. Então continuo, com uma pergunta contrária à primeira:

– E quem não gosta de ler, tem alguém aí?

O povo ergue o braço de imediato, no impulso. Aqueles que se consideram não-leitores respondem mais rápido do que os amantes dos livros. Como assiiiiiiim?

Não fico exatamente triste. Fico frustrada. Mas, como já aprendi a transformar a decepção em ação positiva, continuo a minha palestra otimista, explicando porquê ler Harry Potter pode ser mais divertido do que assistir ao filme da saga. Mais intenso! Mais emocionante! E sabe qual é o meu principal argumento com os que dizem não gostar de ler? É uma frase curiosa, emprestada do escritor e filósofo francês Jean-Paul Sartre. Ler é poder.

Ler é poder? Mas poder não está relacionado a ser rico ou bonito ou ser famoso ou super-herói ou político?

Na-na-ni-na-não. Ler é um poder muito maior do que todos os outros, superficiais e materiais. Além de produzir cultura e inteligência, ler é a forma mais verdadeira de nos tornarmos pessoas poderosas. Pessoas capazes de criticar, argumentar, entender o mundo e, por isso, a si mesmo. Sacou?

Está certo que aconselho os não-leitores, antes de tudo, a se aproximarem dos livros pelo amor às boas histórias. Pela simples diversão que elas provocam. Curte romance? Suspense? Aventura? Terror? Não faltam opções. A gente deve escolher o livro como escolhemos a roupa do dia: a partir do nosso estilo. Depois, sim, eles entenderão o poder do livro, quando torcemos por um personagem que só existe na nossa imaginação.

Mas não preciso argumentar aqui porque ler é poder. Você, leitora querida, que está lendo esse desabafo num blog chamado Ler é TDB, já sabe. E é em nome de vocês, adolescentes e grandes leitoras, e de seus professores, incansáveis na tarefa de incentivar a busca pelo conhecimento, que convido o mundo (pelo menos, o nosso próprio mundinho) para uma missão: toda a vez que alguém afirmar eu não gosto de ler ajude-o a entender que, na verdade, ele não consegue ler.

E explique as razões disso, porque não se convence ninguém sem argumentos reais. Sugiro assim:

Amiga, não é que você não curte ler. Você não consegue ler. Porque faz mil coisas ao mesmo tempo, perde a concentração, porque começou a ler os obrigatórios, talvez nunca tenha sido incentivada em casa, ou acaba dormindo na metade da página, inclusive, o livro tem mais de 200 páginas e você acha longo, ainda mais com um assunto como aquele, você gostaria de ler romance policial, ou gótico, e…

Assim, você ajudará a sua amiga a entender que não se trata de ser um gêniozinho-que-só-lê-nem-namora. Trata de encontrar um livro como se encontra um namorado: por afinidade, aquele que tenha características parecidas com as suas.

Quem sabe, falando assim, a gente consegue aumentar a média de leitura do jovem brasileiro de 1,5 livros lidos por ano (de acordo com o último senso do Estatuto da Criança e do Adolescente) para os 17 que é a média na França. Ou, pelo menos, talvez consigamos mais mãos levantadas com prazer em resposta à minha perguntinha lá do início.

Um beijo, Anne.

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