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Exclusiva: Paulo Ratz, do Livraria em Casa, reflete sobre produção de conteúdo literário na internet

Exclusiva: Paulo Ratz, do Livraria em Casa, reflete sobre produção de conteúdo literário na internet
Exclusiva: Paulo Ratz, do Livraria em Casa, reflete sobre produção de conteúdo literário na internet

“Papo literário com bom-humor”. É assim que Paulo Ratz descreve seu trabalho no Livraria em Casa, canal do YouTube que já alcançou mais de 100 mil inscritos interessados no modo como o administrador por formação fala sobre literatura.

Sua atuação no booktube em 2020 ficou conhecida por vários conteúdos criativos que atraíram olhares e promoveram a interação com seus seguidores. Por isso, o criador do Livraria em Casa está concorrendo ao Prêmio todateen 2020, na categoria de Influencer Literário do Ano.

Aproveitando sua indicação, a todateen fez questão de conversar com Paulo para conhecer melhor quem está por trás do Livraria em Casa. No bate-papo abaixo, o booktuber falou um pouco sobre sua trajetória na plataforma, refletiu sobre a produção de conteúdo literário na internet e ainda fez uma retrospectiva literária do ano, indicando algumas das suas melhores leituras de 2020.

Confira!

todateen: Primeiro gostaríamos de saber um pouco mais da sua trajetória profissional. O que te levou a criar o Livraria em Casa? Qual objetivo você tinha no início do canal?

Paulo Ratz: Eu sou formado em Administração de Empresas há 10 anos e já venho trabalhando na minha profissão antes mesmo de me formar. Lá atrás, no meu primeiro estágio, comecei a trabalhar na área financeira e nunca mais sai dela, e por mais que eu goste e acho que faça bem, sentia que podia exercitar mais meu lado criativo e comunicador. Inclusive, antes de decidir pelo curso de Administração, passei anos certo de que faria Comunicação Social, mas na hora de escolher acabei mudando de ideia. E não me arrependo! O Livraria em Casa veio como uma forma de me expressar, de falar de coisas que eu gosto e de conhecer pessoas. Já tive outros vários projetos no passado, como podcast, blogs, etc., mas só o Livraria realmente vingou e teve uma recepção tão legal!

tt: Você chegou a ficar um período sem postar vídeos no canal e depois voltou com tudo. Levando em conta o conteúdo que você produz hoje para o Livraria em Casa, qual é o seu objetivo com o canal atualmente?

Paulo: Eu não fazia a menor ideia de que o canal cresceria tão rápido e em tão pouco tempo! Mas quando voltei decidi que ia tentar trazer coisas diferentes e me permitir mais. Pegar ideias de outros nichos e adaptar para a literatura e até tratar de assuntos abertamente que são difíceis de serem discutidos. Eu continuo tendo a mesma intenção com o canal que tinha no passado, ainda é uma forma de evoluir meu lado mais criativo, de me desafiar a fazer coisas diferentes e maiores, mas hoje encaro o projeto como a minha empresa, meu negócio. Penso de uma maneira mais comercial, me valorizo mais, escuto mais o feedback do público e coloco em prática. Eu gosto de brincar que é meu segundo emprego!

tt: Você descreve o Livraria em Casa como um “papo literário com bom-humor” e isso fica muito visível na abordagem que você traz para o universo da literatura. Qual você acha que é a importância de não tratar a literatura, necessariamente, de uma maneira mais séria?

Paulo: No Brasil ainda é muito difícil ver jovens e adultos pegarem um livro por livre e espontânea vontade apenas pelo entretenimento. As pessoas ainda acabam se apegando mais a conteúdos audiovisuais como forma de lazer por acharem que “cansa menos” do que ler. Mas a verdade é que o tempo que você gasta assistindo uma temporada de série é o mesmo, ou talvez até maior, do que de ler um livro inteiro. Mostrar que as histórias escritas podem ser tão divertidas quanto assistir uma série, que montá-las na sua cabeça pode ter o mesmo impacto que assisti-las na TV, é meu objetivo. O povo ainda precisa de um empurrãozinho pra pegar seu primeiro livro e descobrir que é capaz de lê-lo inteiro e de que é muito divertido. Por isso que eu acredito numa abordagem descontraída, em quebrar esse estereótipo que só pessoas muito inteligentes podem ser leitoras, que só existem livros clássicos super abstratos, que só vale a pena ler se for pra ler “alta literatura” (eu odeio esse termo).

tt: Falando um pouco sobre a produção de conteúdo como um booktuber/influencer literário, você poderia contar pra gente como que você determina quais conteúdos vão entrar e quais não entram em seu canal?

Paulo: É um bom mix de formatos que o povo gosta de assistir e funcionam muito bem, como bookshelf tour (tour pela sua estante), leituras do mês, TAGs, etc., algumas ideias que o povo me sugere no dia a dia e observando o que funciona em outros nichos do YouTube e que podem ser adaptados. Foi assim que criei o quadro de “Comprando livros comigo ao vivo”, de “Falando de livros enquanto faz a rotina de skincare da noite”, etc. Antigamente eu me obrigava a sempre ter vídeos mesmo que isso significasse fazer uma coisa bem básica que fosse pra preencher o buraco e ter sempre conteúdo. Hoje em dia não consigo ter motivação para fazer assim. Prefiro não postar vídeo até ter uma ideia realmente criativa! Com o tempo você consegue olhar para suas ideias e já saber de antemão o que vai funcionar e o que não vai. Algumas coisas eu faço mesmo assim porque gosto e porque acho que o canal precisa ter variedade, por exemplo as famosas resenhas, que é o conteúdo mais impossível de prever o resultado, pode ser o maior vídeo do seu canal, como o menor de todos! Acho que um dos grandes cliques que tive quando voltei com o canal e que me fez mudar um pouco de postura é efetivamente pensá-lo como um serviço de entretenimento e oferecer o que as pessoas querem, não só o que você quer. É importante manter a identidade e ter bom senso de não fazer absolutamente tudo por visualizações, mas se você quer ver seu canal crescer, é preciso enxergá-lo como um negócio.

tt: Uma iniciativa muito legal que você promove no canal atualmente é a leitura de sagas literárias, que gera uma forte interação com o público. Como é a relação que você tem com seu público? Como seus seguidores influenciam na sua produção de conteúdo?

Paulo: Embora eu não consiga responder todo mundo que me manda mensagem ou comenta nos vídeos, estou sempre lendo o que recebo, e principalmente estou muito ligado no Twitter e no Instagram. Eu percebi a quantidade absurda de pessoas que falavam de “A Seleção” no Instagram, por exemplo. Vários perfis grandes dedicados a série que já acabou há alguns anos, vários memes, muito conteúdo mesmo. Esse é o tipo de sinal de que talvez seja interessante trazer para o canal porque possivelmente o alcance vai ser muito grande. Mas, é importante também estar atento não só ao que os seus seguidores falam, mas também estar aberto a passear pelas redes sociais e ver o que pessoas que nem te conhecem consomem, afinal para crescer é importante alcançar essa galera que não está tão próxima assim.

tt: Outra proposta super interessante do seu canal são os vídeos onde você explica polêmicas envolvendo o universo da literatura. Qual você acha que é a importância de tratar desses assuntos de uma maneira leve e, ao mesmo tempo, não perder o foco para compartilhar os fatos de cada situação?

Paulo: Esse foi um quadro que eu gostei muito de ter criado, porque sempre curti muito essa vibe meio documental da vida de outras pessoas. Estamos num momento que tem sido importante conhecer quem a gente consome e muitas vezes essas informações afetam nosso hábito de consumo. Em todos os vídeos que fiz desses autores, trouxe tópicos importantes que precisamos debater, como movimento anti-vacina, racismo, relacionamentos abusivos, etc. O espectador acha que vai ver um conteúdo de fofoca de famosos, e na verdade vai encontrar uma discussão importante sobre questões sociais. Sinto que trazer dessa forma é mais efetivo para alcançar um público que talvez não pense sobre esses tópicos normalmente.

tt: Você poderia dar alguma dica prática para quem busca criar seu próprio canal e falar sobre livros na internet?

Paulo: Para criar um canal de livros de sucesso, é importante que você realmente goste muito de ler, que não seja algo temporário, e que principalmente você já tenha uma bagagem boa de livros lidos. Não importa se você só leu livro jovem, ou só de suspense, mas para sustentar o conteúdo frequente de um canal é importante que você tenha uma variedade grande de livros para mostrar ao longo dos vídeos. Outra dica, e esta serve para canais de qualquer nicho, não só o literário, é que quanto mais você postar, mais o seu canal vai crescer. Para a gente que fala de livros é difícil conseguir ler tanto a ponto de conseguir postar 3 … 4… até mesmo 5 vezes na semana, mas quanto mais conteúdo, maior a chance do canal ser entregue a pessoas que não te conhecem. E mais uma dica: saiam do óbvio. Sejam criativos. Não façam só o que todo mundo está fazendo, mescle formatos de sucesso com coisas novas e vá testando!

tt: Como o Prêmio Todateen faz uma retrospectiva de 2020, você poderia contar pra gente um pouco da sua retrospectiva literária deste ano? Quais foram os livros que marcaram seu 2020 e você faz questão de indicar para todo mundo?

Paulo: Eu estou conseguindo chegar a marca de 60 livros lidos em 2020! Isso porque eu voltei a ler mais ativamente apenas em março quando a quarentena começou. Li muita coisa legal esse ano! Comecei o ano com o “Todo Dia a Mesma Noite”, da Daniela Arbex, que é uma obra de não ficção sobre a tragédia da Boate Kiss, super forte, mas importante que todo mundo conheça essa história. Também amei ler “Pessoas Normais”, da Sally Rooney, que até virou série de TV. Li recentemente o lançamento maravilhoso “Na Corda Bamba”. Venho conhecendo cada vez mais o trabalho da Taylor Jenkins Reid (famosa por “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo, que li em 2019 e é um dos favoritos da vida) e esse ano li os ótimos “Amor(es) Verdadeiro(s)” e “Depois do Sim” e o PERFEITO “Daisy Jones and the Six”. Por fim, descobri o trabalho da incrível Conceição Evaristo em “Olhos D’água”!

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