De acordo com os dados divulgados pelas Secretarias de Segurança Pública, em 2019 a taxa de homicídios caiu, motivo a ser comemorado pela gestão atual. Os feminicídios, entretanto, permanecem em constante alta e, 2019, quebrou o recorde da taxa destes últimos quatro anos.
Na Bahia, a alta foi de 32,9%. Em São Paulo, 154 mulheres morreram. Dados do SUS (Sistema Único de Saúde) revelam que entre 2010 e 2017 mais de 1,23 milhão de mulheres foram vítimas de algum tipo de violência.
A quantidade de mulheres morrendo por conta da violência cometida por homens, seja dentro ou fora de um relacionamento, pode ser justificada pelo machismo tão bem enraizada em nossa sociedade. Não se trata apenas da violência física: as mulheres são violadas o tempo todo, quando são interrompidas, julgadas por suas roupas ou diminuídas pelo fato de ser mulher.
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Acredite ou não, o Big Brother Brasil tem refletido muito sobre a realidade das mulheres fora da casa mais vigiada do país. Homens, que mesmo estando em relacionamentos sérios fora do BBB, acreditam que ao conquistar as sisters mancharão a reputação das mulheres, enquanto as suas permanecerão intactas.
E não para por aí!
Só nesta edição do reality vimos: um ranking de beleza das mulheres, comentários ofensivos de homens rejeitados (“só não c*** porque não estou com fome“), atos de aproximação maliciosos e sem consentimento (enquanto uma sister está alcoolizada), caras que não xingam, mas também não se manifestam diante dos abusos (alô, Guilherme!).
É muito machismo em menos de um mês de casa.
E o que contribui para a permanência desse tipo de ideologia, e pior, alta das taxas de feminicído? Em primeiro lugar, o homem machista. Mas não podemos deixar de lembrar que quando uma mulher não está devidamente informada sobre o feminismo, o sistema arranja espaço para continuar.
Boca Rosa pode até ter ganhado um prêmio e dinheiro por sua imagem de maquiadora empoderada, mas diante das câmeras que nunca desligam, percebemos que de #girlpower ela não tem nada, infelizmente. A ideologia de igualdade entre sexos está em alta na internet, o que é indispensável para a popularização do movimento e a conquista do espaço das mulheres, mas na vida real nem todo mundo está de fato ciente do que isso significa.
Feminismo é sobre sororidade entre as mulheres. E empatia. Bianca Andrade foi vítima do machismo, mas como não sabia de fato o que significa igualdade entre homens e mulheres, em uma outra situação sexista também não soube se posicionar de maneira solidária às garotas que só queriam ser respeitadas.
Quando Bianca disse que estava ouvindo os dois lados, na verdade, ela questionou Marcela e cedeu ouvidos para Hadson. Mesmo que posteriormente tenha ficado preocupada com uma imagem “antifeminista” que tenha passado, antes de saber da impopularidade fora da casa, Boca Rosa zombou da união entre as sisters para Guilherme:
“Tinha que ver a algazarra que elas fizeram lá dentro, falando de girl power”
No final das contas, a culpa não é de Bianca, e sim de uma sociedade que não ensina nada sobre igualdade entre os gêneros. O uso inapropriado de um movimento é algo a ser lembrado, mas como feministas, não devemos “cancelar” Boca Rosa com ofensas.
PETRIX sendo uma pessoa que ja sentiu na pele o abuso dando até entrevista no fantástico, devia ser o mais consciente sobre isso #PETRIXEXPULSO #festabbb #BBB20 #Bianca pic.twitter.com/r47saTl7E0
— BBB20 SORTEIO (@memessbbb) January 25, 2020
Vivemos em uma sociedade em que as verbas para o combate à violência contra a mulher foram reduzidas, em meio a crescente taxa de feminicídio. Para manter o entretenimento, um programa de televisão não expulsa agressores se dizendo “moderador”.
As mulheres precisam se manter mais unidas do que nunca.