A revista Veja publicou uma matéria sobre Marcela Temer, esposa do vice-presidente Michel Temer. Até aí, tudo bem. Não passaria do retrato cotidiano de uma mulher que está em evidência. O problema foi a abordagem da matéria.
A jornalista Juliana Linhares classificou Marcela como uma mulher “bela, recatada e do lar”. Marcela é, de fato, uma mulher bela. Mas a matéria ter chamado a advogada de “recatada” deu um tom de machismo desnecessário. Marcela é discreta, não gosta de se expor, usa roupas que escondem o seu corpo, mas a ideia da palavra “recatada” acompanhada de “do lar” nos remete aos tempos de um Brasil colonial patriarcal em que as mulheres deveriam ser exatamente o que os homens queriam que elas fossem.
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“Recatada” não é a mulher que prefere usar saias longas, como Marcela, “recatada” é uma mulher que se cala diante a imposições machistas que o mundo impõe.
A questão dela ser “do lar” continua no esteriótipo da mulher “Amélia”: aquela que cozinha, cuida dos filhos e da casa e vive pelo casamento, mas sem ter uma opinião própria ou poder se articular sem o marido. Ser educada não é sinônimo de se calar diante de ofensas, por exemplo. Marcela não é uma mulher perfeita: também deve ter os seus medos e aflições. Afinal, o que é uma mulher perfeita?
A matéria ainda diz que “Michel Temer é um homem de sorte” por ter Marcela como mulher. Marcela não é de Temer, Marcela não é de ninguém além dela mesma. Ela não é a “mulher do vice-presidente do Brasil”, ela não precisa de alguém para protegê-la, nem ser nada de ninguém, ela é Marcela Temer, uma advogada que coincidentemente é a vice-primeira-dama do país.
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A matéria se popularizou na internet e gerou diversos memes sobre o assunto. Mulheres do país todo estão postando fotos que contradizem esse esteriótipo dado a Marcela. Um tumblr foi criado para fazer uma coletânea desse tipo de manifestação contra o esteriótipo machista de que mulher boa, é mulher que fica em casa e cuida dos filhos. Na página, mulheres fortes e de opinião são retratadas com essas três palavras, algumas até ironizam a definição.
A funkeira Mc Carol protestou em suas redes sociais: “Eu e essa tal de Marcela Temer somos TÃO PARECIDAS kkk. A única diferença é que na minha casa a PRESIDENTE SOU EU E MEU NAMORADO É A PRIMEIRA DAMA“.
Em tempos que discursos de ódio são ovacionados, não podemos ser passivas a esse tipo de propagação de ideias machistas na mídia brasileira. A mulher não deve ser a sombra de ninguém, só a protagonista da própria vida.
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