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Annie Müller conta como é a profissão de escritora

Você se interessou pela carreira que trouxemos na edição de dezembro da tt? Então, que tal ler a entrevista na íntegra que fizemos com a Annie Müller e a Thalita Rebouças, duas escritoras que a gente ama!

Talitha Rebouças
FOTO: Divulgação

Annie Müller é colunista da todateen e autora de A Turma do Meet e Os Donos Do Mundo – os 25 porquês dos adolescentes serem tão poderosos.Confira o nosso bate-papo sobre a rotina da profissão:

Annie Muller

FOTO: Divulgação

tt: Me conta como foi que você decidiu virar escritora?
Sempre gostei de escrever, acho que desde que aprendi a fazê-lo. Tinha 7 anos quando comecei a escrever nos diários, depois participei de concursos literários, incentivada pelos meus pais e professores. Mas quando eu decidi mesmo que seria escritora foi no lançamento do meu primeiro livro. Aos 17 anos, quando comecei a escrever uma história com o objetivo de publicá-la, de compartilhar minhas ideias e emoções fora do meu diário secreto, ou dos meus blogs. Acredito que no momento que escolhi me expor e dividir com mais pessoas meus sentimentos que me defini como escritora – e assim o sonho virou um desejo de profissão futura e ultrapassou apenas o prazer que sempre foi e continua sendo o motivo e a inspiração de escrever. Eu pre-ci-so escrever. Acho que essa sensação acontece com muitas outras garotas na adolescência. Quando a vontade de se expressar transborda do coração e chega até o papel (ou ao computador rsrs).

tt: Você fez publicidade e propaganda, certo? Acha que essa graduação é a melhor opção pra quem deseja virar escritora?
Sim, sou formada em publicidade e propaganda. E eu estudei jornalismo em paralelo, quase me formei e desisti por não dar conta de tantas disciplinas (a dica é foco!). Bem, junto às duas faculdades eu também fazia curso de crítica literária. Assim, tive experiência com os 3 tipos de texto: o jornalístico, onde o compromisso é com o fato real, a propaganda, onde é o contrário, a gente precisa criar e vender um produto em uma frase, e a literatura, que é liberdade pura. Acho que essas três bases são muito úteis e construo até hoje meus textos em cima delas, com as qualidades que citei sobre cada uma. Assim, mais do que uma profissão específica que eu indicaria escolher, sem dúvida o ato de escrever, a ação da repetição, de treinar e treinar, reescrever e reescrever, e ler muito, sempre, é o caminho mais certo. Claro que uma faculdade é essencial para a formação. E nesse caso, tanto a comunicação quanto a de Letras são ótimas opções!

tt: Qual dica você dá para a garota que tem esse sonho?
Leia muito e leia grandes autores. E me refiro a autores clássicos da literatura brasileira atual e antiga, e internacional (Dostoiévski, por exemplo). É claro que adoramos os livros que também estão no cinema e falam da nossa adolescência (e eu leio até hoje porque me divertem, inspiram e são maravilhosos, e me refiro de J.K Rowling a Agatha Cristie), mas ler os autores que atravessam gerações nos ajuda a desenvolver o que um escritor mais precisa: sensibilidade. Isso porque quando uma história permanece viva e lida da época dos nossos pais até hoje é porque seus personagens têm sentimentos que ainda são atuais e com os quais nos identificamos. Ser sensível é entender de pessoas e um livro é escrito sobre elas e para elas!
O que é tão útil quanto ser uma boa leitora é ser uma grande observadora. Olhe tudo ao seu redor, observe com olhar atento e criativo. Exercite: como posso me inspirar neste lugar onde estou lendo agora a minha tt, neste momento? O que aquela amiga, com o seu jeito tão diferente do meu, pode me ensinar? Lembro que quando tinha meus 14 anos, num teste vocacional, saiu que eu deveria ser detetive. Dei muita risada, mas admito que lá dentro sempre tive essa vontade. Um bom escritor é um curioso leitor de pessoas, além de livros.

tt: Me fale as vantagens e desvantagens da carreira, por favor.
A primeira vantagem é trabalhar com o que a gente ama. É fazer o lazer virar profissão. E viver da escrita é o sonho de quem faz arte – e, sendo escritores, vivemos da imaginação, então somos um pouco (ou muito) artistas. Dentro do sonho de viver do que se ama tem mais todas as outras vantagens que discorrem disso: saber que alguém lê você, que se inspira em suas histórias, que elas mexeram com muitas pessoas. E então tem os encontros com os autores, que eu adoro (a Thalita Rebouças me inspirou muito nesse sentido, acho que ela sabe!). Tem as viagens, as trocas com autores, as palestras (adoro tanto falar quanto escrever, sou um tipo de escritora-matraca). Ah, dar autógrafo também é legal, mesmo quando a fila é grande e cansa a mão, rsrs. O autógrafo é o ápice: a prova da valorização do trabalho individual e solitário do autor.
Entre as desvantagens, acho que está no fato de morarmos num país ainda pouco leitor. Mas isso logo se torna uma vantagem, se pensarmos que somos 200 milhões de pessoas. Ou seja, tem espaço para muitos autores porque, no final, somos muitos leitores. Imagine se a média de leitura fosse mais alta! Bem, e a outra desvantagem, do ponto de vista profissional, é a alta burocracia do nosso país. Isso faz com que, ao final, que o custo do livro seja alto e o autor um pouco desvalorizado no meio da cadeia toda. Mas, a gente é forte, a gente luta. E não tem graça se não existir desafios e até dificuldades.

tt: Como vêm os temas que decide escrever? Tem escritora que diz sonhar com enredo, como funciona com você isso?
Vem de todas as formas! Os primeiros livros foram muito inspirados nas minhas próprias vivências. A gente olha para a realidade para criar a fantasia. Mesmo autores como J.K Rowling contam que foram fatos comuns do cotidiano que os inspiraram a criar os mais doidos mundos imaginários. Assim, a adolescência foi um tema sempre presente, até porque quando lancei meu primeiro livro eu tinha saído dela havia pouco tempo. Os temas mais frequentes nos meus textos são muito relacionados ao que mais gosto: amigos, música, amores e filosofia. Sim, eu adoro escrever, falar, e filosofar. Sou daquelas que penso demais desde pequenininha. Muitos temas vêm de leituras e outros de encontros, de ouvir o taxista, de ler uma revista, das viagens para lugares muito diferentes dos que estamos acostumados. Não sou muito de sonhar com um livro, mas de ter ideias na madrugada, sim. Sou uma caixinha de ideias sempre aberta para receber novas – e toda informação que vejo é fonte para encher ela de novo.

Thalita Rebouças é autora de vários livros, como Ela Disse, Ele Disse, Uma Fada Veio Me Visitar e da série Fala Sério! Confira o nosso bate-papo:

Talitha Rebouças

FOTO: Divulgação

tt: Alguns de seus livros envolvem música, como o Tudo Por Um Popstar e 360 Dias De Sucesso agora. Fiquei curiosa sobre isso, você já escreveu canções?
Eu sempre cito música nos meus livros porque música é uma coisa muito importante na minha vida desde sempre, desde que me entendo por gente. E pra esse livro, eu compus uma música, chamada Amor Na Hora Certa. É essa a música que faz com que a banda tenha os tais 360 dias de sucesso do título. E eu amei fazer! Depois, eu fiz uma outra letra, que na verdade é uma versão de She Loves You, dos Beatles, que ficou Ela Tem Chulé, que quem fez foi o baixista da banda do livro. Foi bacana compor desse jeito, não como Thalita, mas como os personagens. Eu fico mais à vontade, eu não sei, eu tenho uns amigos meus que perguntam e falam “poxa, você podia compor”, mas eu ainda não tenho essa coragem de dar minha cara a tapa. Prefiro dar a cara a tapa com os personagens.

tt: Tipo testando, né?
Exatamente! Mas a música é muito importante pra mim. No Tudo Por Um Pop Star, eu não cheguei a falar de música como eu falo no 360 Dias De Sucesso. A gente até tem uma playlist, que está disponível no site da Rocco, que são as músicas que a banda toca e que são citadas no livro. E isso é muito bacana, porque essa foi a primeira vez que eu pesquisei, me empenhei, fui atrás de pessoas fazer pesquisa… Eu tenho um carinho muito especial por ele.

tt: E você gosta de escrever ouvindo música?
Isso aí já não, eu prefiro o silêncio. Já no carro, é a hora em que eu ouço música aos berros! Faço rir quem está na frente ou olha no retrovisor, danço no carro e danço sozinha em casa também! Aliás, isso é muito importante dizer para a leitora da Todateen: não tem problema nenhum em dançar em casa sozinha, na frente do espelho, é muito saudável.

tt: Como vêm os temas que decide escrever? Tem escritora que diz sonhar com enredo, como funciona com você isso?
Não sei, sabe? Acho que eles vêm… Um dia, eu cheguei em casa, exatamente na época em que a peça Tudo Por Um Popstar estava em cartaz, e falei: “e se eu escrever sobre os bastidores de uma banda?”. Em vez de falar de uma banda já megaconhecida, que é o caso do Tudo Por Um Popstar, por que não falar do que as pessoas passam para formar uma banda? Então, foi assim, veio… Pouca coisa me vem do sonho, normalmente me vem do nada mesmo.

tt: E você comentou dos bastidores da banda… Você conviveu com banda, como foi pra escrever sobre isso?
Eu convivi muito com os atores da peça, com o Davi Lucas, que está no booktrailer, o Rafael Rossato, que fez a melodia da minha música, também tem banda… Todo o elenco da peça era formado por cantoras, eu acompanhei muito de perto – e isso já foi uma pesquisa informal, digamos assim. Nas minhas pesquisas acabei conversando com Tony Bellotto, dos Titãs, Leo Jaime, que é meu amigo, Tico Santa Cruz… Essas pessoas acabaram me passando muita coisa dos bastidores.

tt: Você fez jornalismo, certo?
Isso, eu quis ser escritora desde pequena. E eu virei jornalista porque eu gostava de escrever, não tinha como, eu gosto de inventar história. Acho que como jornalista eu só estava camuflando a vontade de ser escritora, porque ser jornalista é um pouco isso, né?

tt: Acha que essa graduação é a melhor opção pra que deseja virar escritora?
Acho que independe! Acho que a pessoa que lê bastante e gosta de escrever já tem meio caminho aí. Meu marido é analista de sistemas, é fotógrafo e escreve lindamente, já lançou três livros. Claro que jornalismo você vai conviver mais a língua, assim como letras ou qualquer faculdade de comunicação, mas isso não impede que um engenheiro ou outras profissões escrevam, pelo contrário. Escrever independe disso

tt: Qual dica você dá pra garota que tem esse sonho?
Ler muito e escrever muito. Não adianta só ter ideia, tem que escrever. Quanto mais a gente escreve, melhor a gente escreve. Tem que escrever todo dia, nem que seja uma linha.

tt: Me fala as vantagens e desvantagens da carreira.
Vantagem é ser seu próprio chefe, é trabalhar a hora que você quiser e trabalhar com diversão, porque, pra mim, escrever é uma diversão. Além de conhecer cidades que talvez eu não conhecesse se eu não fosse escritora, sabe? Poder viajar é muito bacana. Bom, eu passei cinco anos muito dura, é uma profissão que pode demorar muito a ser remunerada. Então, enquanto eu não ganhava como escritora, o jornalismo é que pagava minhas contas, eu vivia de freela, fazia matéria pra revista, pra jornal, assessoria de imprensa… A remuneração justa pra essa profissão, digamos assim, pode demorar. Essa é uma grande desvantagem. Tem muitos escritores bons que não conseguem viver somente da literatura. Acho muito importante dizer isso pra leitorinha. Não é fácil, é uma batalha imensa e pode não dar a grana que a pessoa espera. Por isso eu acho bom a pessoa ter um plano B, é como profissão de ator, quando o pai fala: “é bom fazer uma faculdade”. Sempre tem que ter um plano B.

tt: E os livros que mais te marcaram?
Ah, são vários, mas principalmente Feliz Ano Velho, Marcelo Rubens Paiva. Foi o livro que me reaproximou do hábito da leitura quando tinha 13, 14 anos. Ensaio Sobre a Cegueira, do José Saramago. É um livro que mexeu muito comigo também. Travessuras Da Menina Má, do Mario Vargas Llosa, realmente amei! E os do Fernando Sabino, O Grande Mentecapto e O Menino No Espelho. São demais!

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