O que faz você ser quem é? Olhe no espelho, miga, cada detalhe que vê a torna única. Seus cabelos, cor, marcas no corpo, gostos e interesses. Nesse mundo, você jamais encontrará alguém que seja igual a você. Mas, infelizmente, não quer dizer que existam espaços para essas diferenças por aí. Racismo, LGBTfobia, gordofobia e outros tipos de preconceitos afetam pessoas todos os dias. A grandeza de uma menina como você, assusta quem não sabe admirar algo tão único. Mas estamos aqui para criar uma rede de apoio e mostrar que você é o seu próprio padrão.
Viemos contar a história de Luiza Silva. Desde pequena, ela percebeu que sua família tinha que lutar sozinha para ensiná-la a se amar. Leia o relato da girl, que falou sobre racismo, representatividade, amor-próprio e emponderamento.
Eu sou Luiza Silva, 19 anos
Desde muito cedo, o racismo atingiu a construção da minha identidade como menina negra e minha autoestima. Quando eu era criança era bem difícil entender. Eu não sabia o que era, mas sabia que tinha algo estranho no fato de que eu e minha prima nunca podíamos brincar de “ser alguém”. Dizer que eu era a Barbie em uma brincadeira era gatilho para outras crianças contestarem, só porque não temos as mesmas características que ela.
Ao mesmo tempo, também tinha o medo da minha família de que eu fosse mais uma criança querendo ser aquele padrão. Eles foram, aos poucos, incluindo outras bonecas, como as Bratz, compartilhando histórias de pessoas importantes para o movimento negro e me mostrando ambientes onde somos protagonistas, como no hip-hop. Nenhuma criança nasce achando estranho o ambiente que ela está, mas é difícil pensar que uma família tem que lutar sozinha por para ensinar sobre diversidade. Afinal, na rua seremos saturados pela imposição de um padrão que diz que não somos bonitos.
Racismo marcado na pele
Ele aconteceu no meu condomínio. Cheguei à tarde do shopping e, enquanto meus pais foram ao mercado, decidi arrecadar alimentos não perecíveis para ajudar na gincana da escola. Iríamos repassar para uma instituição carente e isso era o que eu dizia quando tocava a campainha das pessoas. Uma moça mal abriu a porta, demonstrou medo e fechou sem eu terminar de dizer tudo. Esse tinha sido o penúltimo andar que eu toquei e depois de terminar fui pra minha casa.
Quando minha mãe chegou, o celular dela estava sendo bombardeado por mensagens. Entre elas, uma amiga da minha mãe, que sabia que eu tinha pedido alimentos, pediu “pelo amor de Deus” pra ela me colocar para dentro de casa. Foi aí que ela viu que no grupo do condomínio tinha a seguinte mensagem: “Não fui avisada sobre a negra que passaria pedindo alimento. Alguém está sabendo disso? Vou chamar os seguranças!”, junto com mais mensagens de que iriam verificar nas câmeras.
É muito importante questionar quem são essas pessoas que te dizem esse tipo de coisa e porquê dizem. Lembre-se de que o discurso de ódio nunca é apenas uma “opinião”. A pessoa que te fere foi ensinada a ser assim por alguém, é algo que vai passando de geração pra geração. Como aconteceu com as crianças que me diziam que eu não poderia ser a Barbie nas brincadeiras por causa da minha cor. Eu sou capaz de ser quem eu quiser. A nossa cor nunca vai ser empecilho.
Nós somos lindas e podemos nos fortalecer cada vez mais, apoiando uma a outra. Ajude aquela amiga que tem menos consciência da própria beleza. Não acredite nos estereótipos. Somos únicas e somos especiais. Sua origem é algo para se orgulhar. Temos que nos emponderar estudando. Porque assim, entendemos que nossos ancestrais eram reis e rainhas, guerreiros e guerreiras, um povo de resistência. E principalmente, não tenha medo de denunciar!
Luiza Silva, 19 anos, Jundiaí (SP)