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Afroveganismo: o movimento vegano acessível que luta pela causa social e política

Afroveganismo: o movimento vegano acessível que luta pela causa social e política
Afroveganismo: o movimento vegano acessível que luta pela causa social e política

A definição de veganismo está cada vez mais popular: trata-se de um modo de vida sustentável, o qual não inclui qualquer tipo de ingrediente de origem animal em seu consumo, seja na alimentação, beleza, limpeza… Além disso, os veganos prezam pela remodelação do estilo de vida para poupar os recursos naturais, reduzir a produção de lixo e disseminação de poluentes, afinal, o movimento é sobre a conscientização de que o planeta precisa ser salvo e a vida dos animais não precisa ser tirada em prol dos humanos.

Entretanto, dentro de uma sociedade preconceituosa qualquer espaço social é propenso à existência de algum preconceito, e segundo a dona do famoso perfil @vegana.semgrana, Carla Candace, o veganismo não é exceção. “Eu sempre falo como mulher preta, lésbica e periférica que dentro do movimento LGBTQIA+ há reprodução de racismo, assim como dentro do movimento negro há muita LGBTQIAfobia. Infelizmente a gente não está imune a nada, e cabe a nós rever os nossos valores e os dos movimentos. De um modo geral o veganismo foi visto por muito tempo como um estilo de vida e não como movimento social e político, por isso não foram discutidas todas as opressões que se reproduzem ali”.

O que é afroveganismo?

É o veganismo sob o ponto de vista de pessoas negras, afrodescendentes“, responde a influenciadora da Bahia. “Muita gente pergunta: ‘Ah, mas para que? O veganismo não é sobre a luta animal?’, sim, é sobre a luta animal, mas como a gente vive em uma sociedade racista, não podemos fechar os olhos para o preconceito que o veganismo reproduz. Desde sua criação e até hoje, muitos dos argumentos dos veganos para que as pessoas se toquem da crueldade animal são baseados em um racismo. É preciso entender que enquanto movimento social a gente não pode aceitar a libertação de apenas um grupo enquanto o outro sofre, é preciso unir forças. Quem mais sofre com essa indústria são as pessoas negras“, completa.

Candace aponta para a geração de lixo, uso de pesticidas tóxicos e poluição produzida pela indústria, enfatizando que a população periférica é a mais prejudicada. Um exemplo dado pela influenciadora está diretamente relacionado à produção de carne: “O trabalho em frigoríficos é considerado um dos mais arriscados pelo Ministério do Trabalho, e a maioria dos funcionários deste setor são homens negros e pobres. Há risco de depressão, lesões, queimaduras. Em 2019, Rodrigo Lopes foi triturado dentro de uma máquina dessas presentes em frigorífico, então infelizmente foi uma vida tirada pela indústria da carne. A gente sabe que a luta é pelos animais, mas a corda sempre estoura para o lado mais fraco, e em questão racial e econômica, sempre são as pessoas negras e periféricas”.

Carla afirma que um dos problemas mais graves do movimento é tratar da causa com misantropia, ou seja, um discurso que carrega ódio contra o ser humano, e consequentemente afasta possíveis aliados. O objetivo do afroveganismo é justamente trazer informação a todas as camadas da população, e portanto, tratar do veganismo com mais empatia.

Dá para ser vegano sem grana?

Thaísa Leal, nutricionista e criadora de conteúdo da área de saúde, afirma que assim como em qualquer dieta todos os nutrientes são necessários, a diferença está na obtenção de proteína por meio dos vegetais, e para isso não é necessário uma elevação de orçamento. “Quanto maior a variedade de alimentos, maior a variedade de nutrientes”, frisa Leal.

A nutricionista aponta para quatro nutrientes que são erroneamente considerados escassos na dieta vegana, desconstruindo este senso comum. O primeiro é a famosa proteína: “Muitos pensam não ser possível atingir a quantidade necessária diária através de alimentos de origem vegetal, entretanto, ela pode ser facilmente atingida através de grãos, sementes e oleaginosas, mas claro que apenas um profissional poderá dizer o quanto deve comer de cada um e as combinações necessárias para que atinja as quantidades diárias”, diz reforçando a importância do acompanhamento nutricional.

“O vegetarianismo e o veganismo são vistos por muitos como sinônimo de ter deficiência de ferro, ou seja, anemia. Mas já pararam para ver quantas pessoas que comem carne tem anemia?”, questiona. A nutricionista afirma que vegetais verde escuros, feijão e outros grãos são fontes de ferro com absorção otimizada quando consumidos junto a algum alimento fonte de vitamina C. “Por isso, coma uma fruta cítrica (laranja, kiwi, limão, tangerina…) após as refeições com esses alimentos ricos em ferro”.

Outro mito é a falta de cálcio na dieta vegana: “Você sabia que o cálcio do leite não é tão bem absorvido quanto de alguns alimentos vegetais? O leite tem cálcio, lógico, mas o gergelim e os vegetais verde escuros, como o brócolis, têm bastante cálcio e de ótima absorção também”, comenta Leal, que recomenda banhos de sol para garantir a Vitamina D.

Por fim, o nutriente mais polêmico é a vitamina B12, o qual não se encontra em nenhum alimento do reino vegetal, mas assim como tudo que foi citado ainda há uma possibilidade. “Consumir alimentos enriquecidos com vitamina B12 ou tomar doses baixas diariamente para manter os níveis adequados são as melhores opções. Vale lembrar que caso você pare hoje de comer qualquer produto de origem animal, seus estoques de vitamina B12 não acabam de um dia para o outro, mas por isso é importante o acompanhamento com especialista”, completa a Dra. Leal, que relembra que apesar de estes suplementos de fato terem origem animal não tornam a dieta de ninguém menos vegana, já que esta é uma substância essencial.

E para quem ainda acha que o veganismo é caro, Carla Candece conta sua experiência: com acompanhamento nutricional pelo posto de saúde público, cosméticos de pequenas empreendedoras, marcas veganas que descobriu no mercado e consumo de brechó, não foi necessário aumentar  o orçamento de seu consumo. “Gasto pouco semanalmente, cerca de 40 reais em frutas, verduras e legumes em hortifrúti, no mercado gasto mensalmente 200 reais em cereais, grãos…“.

Os desafios

“De modo geral, é barato ser vegano, mas depende da região que você mora, do seu acesso à informação e alimentação de vegetais e legumes. Muitas vezes é mais acessível para as pessoas mais pobres alimentos processados, refrigerantes por um real, salgadinhos. Nem todo mundo tem a opção de ser vegano vivendo em um país como esse, em que a fome ainda é comum“, enfatiza Candece.

Outra questão é a busca pelo acompanhamento nutricional adequado, já que muitos profissionais são contra a dieta vegana. “Infelizmente a gente sabe que a academia é feita para servir ao capital, então existem muitos nutricionistas que mandam comer carne”.

Para se tornar vegano não é preciso necessariamente ir aos poucos, mas também não é obrigatório um corte radical dos alimentos. Tudo depende do processo individual de cada um: “Eu, por exemplo, tive muita dificuldade por conta do queijo. É importante dizer que nenhum vegano para de comer algo porque não gosta, paramos de comer porque entendemos que a vida animal é mais importante do que o paladar”.

Mudança de pensamento na hora de consumir

A liquidação do fast-fashion pode muitas vezes parecer a maneira mais acessível de se conquistar um novo look, mas quando você está entendendo o veganismo, percebe que se trata de mudar o consumo para um bem maior, e não estamos falando apenas de sustentabilidade.

Cadance afirma que a maneira mais barata de consumir é comprando pelo brechó, afinal, com algumas reformas uma peça cheia de história que produziria lixo faz muito sucesso. De vez em quando a influencer investe em peças novas, mas precisam ser de marcas que se preocupam com o meio ambiente e mão de obra.

“Quando compro peça nova é de uma marca que eu sei que tem uma preocupação com sustentabilidade, de pagar bem para a costureira, as pessoas envolvidas na produção do material, quem embalou e etc. Não vai ter o mesmo valor de fast fashion, porque essa roupa mais barata vem de escravidão e trabalho infantil. É preciso ter essa consciência no consumo: vou comprar uma blusa de dez reais que escravizou a vida de uma mulher, criança ou comprar uma peça de cinquenta que vai durar muito mais tempo no meu guarda-roupa?”.

O rótulo não é tudo

Hoje em dia muitas marcas acessíveis colocam entre suas conquistas o rótulo vegano ou cruelty-free, mas será que só isso já garante o veganismo? “Sempre falo para as pessoas não acreditarem em rótulos, porque existem empresas veganas que testam em animais na China, que escravizam pessoas… Sigam influenciadores veganos que são dedicados à pesquisar cosméticos, decifrar os componentes do produto, ligar para o SAC das marcas”.

Carla Cadence indica a @ariveganbeauty e a @cacheada_sustentavel, perfis que buscam fazer esse trabalho de descobrir se marcas de limpeza, higiene e beleza são de fato veganas.

E se você ainda está no comecinho da sua jornada para o veganismo, olha só esse conselho da @vegana.semgrana: “Descasque mais e desembale menos, pense que cada vegetal e fruto que você come é menos uma embalagem que você iria consumir, priorize sacolas retornáveis, usar mais marmitas e utensílios retornáveis, reutilizar as suas embalagens. Olhe para tudo que você consome e reveja como você pode reutilizar isso no dia a dia”.

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