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Queernejo: a mescla entre o pop e nossas raízes com representatividade LGBTQIA+

Queernejo: conheça a mescla entre o Pop e as nossas raízes com representatividade LGBTQIA+
Queernejo: conheça a mescla entre o Pop e as nossas raízes com representatividade LGBTQIA+

A falta de representatividade LGBTQIA+ é comum em diversos setores do mercado, mas já parou para pensar especificamente no sertanejo? Ao passo que traduz a alma brasileira, esta seção do entretenimento é dominada por um grupo de artistas cisgênero, branco e heterossexual.

Com o objetivo de desconstruir essa barreira, surgiu o queernejo, um jeito de fazer música isento de composições preconceituosas, levantado por um grupo de artistas que promete balançar as estruturas do sertanejo universitário e ir além do mercado underground.

Para falar mais sobre o assunto, a todateen conversou com Alice Marcone, Gabeu, Gali Galó e Reddy Allor. A gente te conta tudo sobre este estilo musical e novidades para ficar de olho 😉 .

Gabeu – príncipe do sertanejo queer

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Se você conversar com os artistas que se destacam neste mercado, vai perceber que a trajetória de todos terá uma menção a Gabeu em algum momento. O filho do cantor Solimões, que há mais de 30 anos forma dupla com Rio Negro, tinha o estilo musical rural presente em seu dia a dia, mas preferiu por muito tempo focar em Lady Gaga.

“Minha paixão mesmo pelo sertanejo é recente, em 2018 decidi me lançar no processo de composição, gravação e produção de videoclipe. Desde então, venho tentando ressignificar o sertanejo, para que se encaixe na minha vivência, no que eu sou e acredito”, diz o cantor que se identifica com a causa LGBTQIA+. “Tenho tentado fazer as pazes com o sertanejo, entender que ele faz parte de quem eu sou, das minhas raízes”.

“A ideia de fazer um sertanejo queer veio naturalmente, de uma ideia de composição do meu namorado, o refrão de ‘Amor Rural’. Quando ele me mostrou, me veio um insight de pensar: ‘Nossa, será que é possível fazer algo assim?’. A partir disso, compus o restante da música e quando me dei conta já estava no estúdio gravando e pensando em como lançar”.

“Amor Rural” é um hit que chegou para transformar o cenário musical, com looks extravagantes, humor e uma mistura de referências que formam aquilo que, no caso de Gabeu, também tem sido chamado de Pocnejo.

Alice Marcone: audiovisual, folclore e a moda de viola

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Alice é uma mulher transsexual amante da sétima arte. Nascida em Valinhos, Marcone viveu por muito tempo na zona rural de Serra Negra, onde entrou contato com o que chama de “cultura sertaneja raíz”. Segundo a roteirista e atriz, as canções da moda de viola fizeram parte de sua formação. “O problema começou quando nos anos 2000 começou a bombar o sertanejo universitário, nas rádios, festas. Eu sinto que acabei associando esse tipo de música com a cultura heteronormativa que é machista, sempre nesse contexto de bebedeira e pegação. Na época, estava me descobrindo uma pessoa LGBT no interior, e foi um processo bem difícil. Associei uma coisa com a outra e peguei muito ranço, não queria saber de sertanejo”.

“Me tornei little monster, fui fã de Lana Del Rey, Avril Lavigne, virei emo!”, conta a cantora que em 2013 veio para São Paulo estudar e acabou se distanciando ainda mais das suas raízes, lançando em 2017 projetos musicais Pop. Entretanto, o estilo caipira retornou ao seu repertório após um bloqueio criativo, solucionado em meio a uma epifania nos estudos de folclore para um projeto audiovisual

“Logo em seguida, ouvi ‘Amor Rural’, do Gabeu e falei ‘olha aí as LGBTQIA+ fazendo sertanejo!’. Tínhamos um amigo em comum, que fez a ponte. O Gabeu me apresentou um produtor com essa linguagem sertaneja, e agora estou produzindo um álbum”.

Alice afirma que acredita no início da mudança no mercado, mas nos bastidores, o cenário ainda é muito masculino. No bate-papo, a cantora relembrou a polêmica envolvendo Marília Mendonça, que fez um comentário considerado transfóbico. “Por mais que a gente tenha um rosto feminino cantando sobre sua perspectiva, o que é raro porque muitas vezes os compositores também são homens, as mulheres estão cercadas por uma cultura masculina no sertanejo”.

“Eu adoraria fazer um feat com a Marília Mendonça falando da sofrência da mulher, porque minhas letras têm isso de falar na perspectiva de uma mulher trans, mas são construídas para serem universais. Seria muito potente gerar pontes, para mim cantar sertanejo é muito sobre isso”.

A música de Alice se diferencia no mercado pela presença de uma linguagem simbólica rica em folclore, e a cantora dá um gostinho sobre o próximo álbum: “Não vou deixar de incluir Pop, mas estou em um movimento de estudo e retomada do sertanejo raiz, acredito que isso não seja tanto um conceito que vai entrar no meu primeiro álbum, mas é um projeto de vida, porque encontro nele a oportunidade de estudar minha ancestralidade racial, a figura do caipira evoca essa diversidade étnica e racial que a gente vê na população brasileira”.

O humor e drama de Gali Galó

Trazendo referências da música indie, Gali Galó se define como uma artista não binárie que revela em suas canções temáticas como o feminismo e o orgulho de pertencer à comunidade LGBTQIA+. A cantora é dona do hit “Caminhoneira” e afirma ter encontrado o queernejo como um nome a ser dado para o que vinha fazendo na indústria.

“É Queernejo porque não é só Sertanejo. Além da narrativa ser mais livre, o ritmo também é mais fluido, permitindo a mistura do pop, do indie e do brega. Eu particularmente adoro assumir o estilo cafona; o humor e o drama de Gali Galó. Tem a ver com ser LGBTQIA+ no Sertanejo, rir na cara do perigo, sabe?”.

Natural de Ribeirão Preto, a cantora por trás da personagem de Gali só iniciou seu trabalho neste estilo musical aos 30 anos. Apesar do ritmo fazer parte de sua história, a cantora se afastou quando viveu em São Paulo, “senti na pele o que é ser um caipira na cidade grande”.

De volta às suas raízes, a cantora chama a atenção para a falta de pluralidade do mercado que tem adentrado. “Falta pessoas LGBTQIA+ e pessoas pretas. Falta diversidade na equipe, falta igualdade nos cachês. Falta consciência de classe e de branquitude. Falta se questionar mais, sair um pouco da bolha. Falta olhar pro lado, entender o próximo e a si mesmo”.

Reddy Allor – um jeito Pop de brilhar, sem deixar suas raízes

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Não aceita a falta que eu faço 🤠🌿

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Guilherme, de 21 anos, trabalha com música desde os 12, quando começou uma dupla de sertanejo com o irmão. Entretanto, a puberdade trouxe também a percepção de um mercado cheio de preconceitos. “Comecei a me descobrir menino gay e não estava me encaixando mais, me senti excluído, meus contratos começaram a diminuir depois que eu me assumi, as coisas foram para um lado que eu não gostava”.

O sonho de cantar sertanejo continuou vivo, mas também começou a compartilhar espaço com sua identidade drag. “Quando resolvi juntar tudo isso, foi uma maneira de entender a minha verdade, como artista e pessoa”. Reddy Allor começou sua inserção no mercado, mas Guilherme chama a atenção da necessidade de uma mudança para que o estilo do queernejo se torne mais popular: “A gente está começando a se inserir no mercado, no sertanejo não se fala sobre militância, minorias. Falta alguém maior dentro do mainstream para trazer essas questões e abrir mais espaço”.

“Eu tenho muita inspiração nas mulheres do sertanejo, desde Roberta Miranda à Marília Mendonça, Maiara e Maraísa, Simone e Simaria, são inspirações de verdade, e elas também são novidade no mercado“, completa o artista, que tem EP acústico chegando no próximo mês: “Vou lançar uma música por mês, serão quatro, tem até composição do meu irmão. O clipe está pronto, o projeto todo é bem visual, refletirá toda a minha verdade. Há bastante referência Pop, e é diferente, porque farei uma mistura com uma canção bem sertaneja”. 

O que vem aí?

Além dos lançamentos de Reddy Allor, em outubro – mais especificamente no dia 18 – todos os artistas mencionados estarão presentes no “Fivela Fest”, primeiro festival de queernejo no país. Na organização, temos Gali Galó, que lançará seu álbum ainda em 2020, bem como Alice Marcone e Gabeu, dupla que lança em breve um single.

O fim da pandemia do coronavírus será embalada por novidades neste estilo musical, incluindo um álbum completo de Marcone e muitos shows, programados para o final de março.

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