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Opinião: 2021 chegou, e agora? Especialistas falam sobre luto, esperança e a batalha que não acabou em 2020

Opinião: 2021 chegou, e agora? Especialistas falam sobre luto, esperança e a batalha que 2020 deixou para trás
Opinião: 2021 chegou, e agora? Especialistas falam sobre luto, esperança e a batalha que 2020 deixou para trás

O relógio mostrou que eram 00h do dia 1° de janeiro de 2021, finalmente o ano mais difícil da última década chegava ao fim. Entretanto, depois que a euforia do estourar do espumante passou, os problemas de 2020 continuaram por aqui, evidentes em números que trazem, todos os dias, o peso do luto para milhares de pessoas. Próximos dos quinze dias após o réveillon, o esperado ápice do coronavírus no país, os dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e Ministério da Saúde trazem parte dos efeitos de quem não optou pelo isolamento social nas festas de final de ano, ou não teve escolha e precisou se arriscar no trabalho. O dia 11 de janeiro registrou 25.822 novos casos confirmados de Covid-19 e 480 mortes ligadas à doença, tudo em apenas 24 horas.

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A vacina que auxiliará a humanidade na produção de anticorpos e controle da pandemia já começou a ser aplicada em diversos países. Aqui, no Brasil, existem vários fatores políticos no meio do caminho e falta de transparência. Além de xenofobia e fake news sobre a parceria com a China, ainda temos a cobrança por mais dados obtidos pelo Instituto Butantã, que por sua vez também exige rapidez da agência reguladora, a ANVISA. “Precisamos urgentemente começar essa vacinação. A vacina está disponível, por que não usá-la?”, disse Dimas Covas em comunicado sobre a eficácia global da Coronavac, de 50,38%.

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Entre tantos conflitos políticos, uma informação tem trazido esperança ao brasileiro: a vacina possui eficácia de 100% em casos moderados e graves de coronavírus, o que acabaria com o elevado número de mortes e hospitalizações. Um alívio, não é mesmo? Mas a pandemia está longe de acabar e as marcas deixadas por ela prometem ir além de 2021.

Luto

2020 deixou cicatrizes em todos nós, mesmo que de diferentes graus e formas. Para a Dra. Maria Claudia Bravo Reis, psicóloga membro da rede de centros médicos “Dr. Consulta”, o luto pode ser entendido como o sentimento de perda em seu sentido geral, e nem sempre diretamente ligado à morte de uma pessoa querida. “Como luto, vamos entender que sejam as oportunidades que não pudemos viver, como por exemplo, os formandos que não puderam ter suas festas, quem entrou na faculdade e nunca conheceu seus colegas, comemorações significativas que não aconteceram. Esses casos certamente causaram imensa frustração, mas a consequência a longo prazo não é significativa porque os eventos são pontuais e têm impacto relativo”.

A Dra. Bravo Reis completa falando que a frustração é um sentimento que, quando bem compreendido, gera amadurecimento e crescimento. “Porém, é indiscutível a dor nesse meio tempo. Os psicólogos estão tendo um papel muito importante junto às pessoas de todas as idades, pois as ajudam a aceitar, a desenvolver formas alternativas de passar por esse processo transformando-as em pessoas mais conscientes, preparadas e fortes”.

Adriana Drulla, mestre em psicologia positiva, afirma que além da experiência de perda, a pandemia do coronavírus traz também um outro tipo de luto para a sociedade, o coletivo. “Acontece quando um grupo de pessoas passa por uma experiência de perda bastante séria. Por exemplo em situações de guerra, desastres naturais e epidemias que causam perdas importantes ou a morte de muitas pessoas. No luto coletivo ficamos sensíveis não apenas ao nosso processo individual de perda; mas também às perdas das outras pessoas. Além disso, quando providências não são tomadas, sofremos também porque antecipamos perdas futuras. A presença da preocupação com a morte pode ser bastante assustadora. É uma sensação de que não temos controle sobre o nosso futuro e bem-estar. E hoje, além da perda de pessoas, temos também a perda de empregos, separação de amigos e familiares, etc.”

E como lidar com tantos sentimentos ruins? A resposta precisa ser individual, mas a terapia pode ser a base em todas. “Cada um tem que descobrir suas forças e fraquezas. Isso é particular de cada um. O que faz um sofrer, pode não afetar o outro. Porém, de maneira geral, seria desenvolver uma mente positiva, praticar exercícios e principalmente compartilhar suas angústias e medos. O psicólogo tem sido o grande parceiro para a população. Tanto que o número de consultas explodiu durante a pandemia e continuará mesmo após a vacinação, pois foi um grande período de privação”, afirma a Dra. Bravo Reis.

Batalhas

Kiusam de Oliveira (@mskiusam) é escritora, ativista, professora, doutora em educação, mestre em psicologia infantil e comprometida com causas sociais envolvendo questões étnico-raciais, empoderamento da mulher negra na sociedade e bullying. O trabalho da ativista na literatura infantil se dá há mais de dez anos e já rendeu elogios de diversas celebridades, como Lázaro Ramos, Thais Araújo e Emicida.

Para a doutora em educação, a pandemia não foi só uma crise de saúde, a doença evidenciou uma crise de gestão política que se manifesta de maneira potente na parcela mais vulnerável da pirâmide econômica. “As desigualdades sociais voltaram a ser destaques nos noticiários, assim como o aumento do desemprego, da violência contra as mulheres e crianças, falta de moradias e de investimentos na Educação e Saúde. A má distribuição de renda gerou desemprego e aumento do subemprego. De acordo com pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 27,1% de jovens entre 18 e 24 anos estão desempregados, sendo que, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU, 2019), no Brasil 1% da população concentra 81,3% da renda total do país. Para piorar o quadro, representantes de grupos fundamentalistas se ergueram no poder, incentivando brasileiros à violência, uso de armas e ao racismo. Tudo isso tem provocado uma desordem nacional onde pessoas negras tem sido atacadas em qualquer espaço público.”

Por outro lado, Kiusam acredita que a resistência tem se manifestado com força, assim como a empatia às causas sociais. “Para mim, está para as crianças e jovens provocarem as cisões necessárias para que as suturas psíquicas da sociedade brasileira possam ser realmente efetivadas”.

A prova de que o efeito dessas batalhas estão começando a ter consequências palpáveis é o número de candidatas e candidatos LGBTQIA+, negros e indígenas eleitos nas eleições municipais de 2020. “Vitórias são possíveis quando grupos vulneráveis se juntam para combater a invisibilidade, com inteligência estratégica e coletiva: só assim, os algozes sociais – as elites -, que tantas desgraças têm provocado à nação, poderão ser enfrentadas. As candidaturas coletivas foram estratégias competentes que com certeza, darão mais frutos nas próximas eleições. Não posso deixar de apontar que vereadoras e vereadores que representam as minorias sociais são ativistas, afinal representam grupos minoritários, historicamente violentados por uma nação que não enxerga suas filhas e filhos com equidade e por conta disso, certamente provocarão as tensões necessárias nas câmaras municipais do país, a fim de abalar as estruturas acomodadas e individualistas daquelas e daqueles que vivem em suas zonas de conforto, inclusive durante o mandato, esquecendo-se do dever de representação do povo que os elegeram.”

Esperança

Em meio a tantas batalhas, como manter a saúde psíquica? Para a Dra. Drulla, parte da solução vem do entendimento de que nada será como antes. Em março de 2020, achávamos que o isolamento seria um período de imenso desconforto até que pudéssemos voltar para o velho normal. No entanto, após 10 meses de pandemia, descobrimos que não desejamos mais viver como antes. Revimos valores, prioridades. Queremos criar um novo normal mais coerente com quem nos tornamos. Claro que pode ser um processo demorado e dolorido, mas uma vez que as pessoas conseguem processar e assimilar aquilo que aconteceu, elas tendem a evoluir a partir disso”.

“Pesquisas que acompanharam pessoas que passaram por eventos traumáticos, como por exemplo a Segunda Guerra e a epidemia de SARS em Pequim em 2003, mostram que é possível e inclusive muito mais comum que as pessoas voltem a um funcionamento emocional normal ou cresçam a partir de uma experiência difícil em vez de ficarem piores por causa delas. A resiliência é a capacidade que temos para adaptarmos aos desafios, saindo deles da mesma forma que entramos. Mas nós não saímos de uma pandemia inalterados. Nós evoluímos a partir do que nos acontece porque a natureza humana não é resiliente, ela é antifrágil. Seres antifrágeis não permanecem iguais após uma adversidade”, continua a Dra.

“Esse conceito, proposto pelo professor Nassim Kaleb, diz que seres antifrágeis precisam de desafios para evoluírem. Nossos músculos têm potencial para serem fortes, mas só serão fortes se forem estimulados. O nosso sistema imune tem potencial para nos defender de doenças, mas ele precisa primeiro ser exposto ao agente infeccioso para então aprender a se defender. A nossa capacidade de enfrentar dificuldades obedece à mesma lógica. Temos potencial para enfrentar as mais variadas adversidades, mas se não formos expostos aos desafios, essa potencialidade não se transforma em capacidade. As pesquisas mostram que o enfrentamento de dificuldades passadas contribui para a construção de confiança na nossa capacidade para enfrentar futuros desafios. Após superarem dificuldades, é comum que as pessoas descubram uma força interna e qualidades que não sabiam ter”, completa.

Entretanto, normalizar o atual sentimento de dor não é fácil, já que a esperança, em meio a perda, se torna escassa. A dra. Drulla pontua que algumas atitudes cotidianas podem contribuir com o cultivo de esperança, como listar as dificuldades que já foram vividas anteriormente, aprender coisas novas ou incorporar um hábito que parece desafiador, tomar atitudes que, mesmo pequenas, façam a diferença na vida de alguém, dedicar tempo ao que lhe faz bem, e principalmente, estar ao redor de pessoas que lhe amem, mesmo virtualmente.

“Quando interpretamos os desafios como grandes demais e nos julgamos incapazes de enfrentá-los, sentimos desesperança. Quando não podemos mudar as situações externas, podemos focar em construir recursos internos para lidar com aquilo que não podemos mudar”, finaliza.

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